Vacina da Novavax protege pouco contra variante sul-africana, mas é eficaz contra a britânica
Resultados preliminares aumentam preocupação sobre a forma do novo coronavírus que surgiu na África do Sul. Mas são uma boa notícia relativa para a empresa norte-americana.
A vacina contra a covid-19 que a empresa de biotecnologia norte-americana Novavax está a desenvolver mostrou uma alta taxa de eficácia contra a variante do coronavírus que surgiu no Reino Unido: 85%. Essa é a boa notícia. A má notícia é que num pequeno ensaio clínico que está a decorrer na África do Sul, a eficácia contra a variante do vírus que surgiu naquele país, e que já está em Portugal, denominada 501Y.V2, a eficácia desce para menos de 50% – abaixo do nível mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para as vacinas contra a covid-19.
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A vacina contra a covid-19 que a empresa de biotecnologia norte-americana Novavax está a desenvolver mostrou uma alta taxa de eficácia contra a variante do coronavírus que surgiu no Reino Unido: 85%. Essa é a boa notícia. A má notícia é que num pequeno ensaio clínico que está a decorrer na África do Sul, a eficácia contra a variante do vírus que surgiu naquele país, e que já está em Portugal, denominada 501Y.V2, a eficácia desce para menos de 50% – abaixo do nível mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para as vacinas contra a covid-19.
Estes resultados foram anunciados na quinta-feira. No ensaio clínico feito no Reino Unido participaram cerca de 15 mil pessoas, com idades entre os 18 e os 84 anos, e a variante britânica estava presente em 50% dos casos de doença confirmados por PCR.
O ensaio sul-africano, de fase 2, teve 4400 participantes e foi o primeiro a demonstrar que uma vacina pode combater a infecção pela variante 501Y.V2, que foi identificada na província do Cabo Oriental, no Leste da África do Sul, no final de 2020 e está a espalhar-se rapidamente. Neste momento, representa mais de 90% de todos os casos de covid-19 na África do Sul. Tem várias mutações no gene S, que comanda a produção da proteína da espícula do coronavírus (que lhe dá o aspecto espinhado), que está a ser o alvo das vacinas.
Mas mostrou também que pessoas que já tinham sido infectadas anteriormente podiam ficar doentes de novo com a nova variante – que experiências laboratoriais demonstraram ser parcialmente resistente aos anticorpos gerados por pessoas que recuperaram da infecção por outras formas do vírus, e também aos anticorpos gerados pelas vacinas que já estão no mercado, apesar de estas continuarem a ser eficazes.
O surgimento da variante 501Y.V2 causou quase todos os casos de covid-19 no ensaio clínico sul-africano. No grupo de pessoas que recebeu duas doses desta vacina proteica (usa proteínas do vírus para gerar uma resposta imunitária) houve 15 casos de doença, em comparação com 29 casos nos participantes que foram usados como grupo de controlo, e receberam injecções sem vacina. Isto representa uma eficácia de 49,4% – abaixo dos 50% exigidos pela OMS.
No entanto, o estudo incluiu 240 pessoas seropositivas – e quando estas são excluídas da análise, a eficácia da vacina sobe para 60,1%.
Isto é um mau resultado? “Cinquenta por cento não é tão bom como 100%, mas é bem melhor do que zero”, comentou ao New York Times John Moore, virologista da Escola de Pós-Graduação em Ciências Médicas Weill Cornell, da Universidade de Cornell (Nova Iorque, EUA). Os bons resultados da vacina da Novavax em relação à variante britânica devem ser suficientes para levar à continuação do seu desenvolvimento.
O que não é bom sinal é que tanto a vacina da Novavax como a Pfizer-BioNtech e a da Moderna mostrem menos eficácia perante a variante surgida na África do Sul.
A Comissão Europeia está a negociar com a Novavax a compra de 200 milhões de doses desta empresa de biotecnologia do Maryland (EUA), com representação em Uppsala, na Suécia, que se tem focado essencialmente no desenvolvimento de vacinas, embora ainda sem ter conseguido um produto que conquistasse o mercado. Mas recebeu doações da Fundação Bill e Melinda Gates e da Coligação para as Inovações de Preparação para Pandemias.