Ser mulher é mais difícil. Ponto.
Quem disser o contrário é homem. Isto não é feminismo, é a realidade.
Ser mulher é mais difícil. Ponto. Quem disser o contrário é homem. Isto não é feminismo, é a realidade. É a sucessão de afazeres que esperam que completes como a sua execução fosse inata colada à nascença e a recusa um insulto à ordem natural das coisas. É a reprovação dos outros ou mesmo dos teus pares quando te impões. É aquele revirar de olhos depreciativo e no limite da gravidade é a autocensura.
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Ser mulher é mais difícil. Ponto. Quem disser o contrário é homem. Isto não é feminismo, é a realidade. É a sucessão de afazeres que esperam que completes como a sua execução fosse inata colada à nascença e a recusa um insulto à ordem natural das coisas. É a reprovação dos outros ou mesmo dos teus pares quando te impões. É aquele revirar de olhos depreciativo e no limite da gravidade é a autocensura.
Não se consolem com excepções que só confirmam a regra, com o que já alcançamos, não se deixem amaciar com esmolas, não sorriam aos comentários e dados que nos condenam à aceitação medíocre do pleno direito à igualdade. As mulheres já votam, estão em maior número nas universidades, há mulheres no Governo, na Assembleia da República, em cargos de chefia, há mulheres a arbitrar jogos de futebol, mas elas são complicadas, têm filhos, passam muito tempo em casa, faltam mais, perdem-se em detalhes fúteis, sofrem de desvarios hormonais, colocam muitas questões... É melhor não lhes darmos muito espaço para crescer, caso contrário isto é uma anarquia.
Mas é nesta democracia, igualitária, soberana e progressista que, só em 2020, foram assassinadas em Portugal mais 30 mulheres às mãos dos seus companheiros, porque eles acham que podem, porque nós deixamos. Por cada uma delas, há centenas que se subjugam por falta de opção, muitas porque perderam a coragem, outras porque acreditam que a violência é uma forma de amor. Não é. O amor é uma chávena de chá quente quando vais deitar-te, é roupa por estender, é loiça lavada a quatro mãos, é orgulho no vestido curto que envergas, considerarem o que pensas, é admiração na mulher que és. Tudo o resto são sobras que não deves consentir.
Mais de duas horas por dia é quanto uma mulher despende nas tarefas domésticas segundo o FMI, cerca de 14,4% é o que uma mulher ganha em média menos que um homem no nosso país, 95 anos é o tempo que será necessário para eliminar a desigualdade da presença das mulheres na política. Séculos de um poder patriarcal aceite e imposto não nos deixam margem para, em pleno século XXI, condescender com uma vírgula, uma graçola ao balcão do café, qualquer detalhe que nos possa diminuir. Hoje por nós, amanhã por elas.
Sabemos que não somos iguais, nunca quisemos ser. Diferentes na sensibilidade, na perspectiva, na habilidade para determinadas funções, no corpo e nos sentidos, mas que fique claro que dispensamos que nos abram a porta do carro quando nos fecham todas as outras. Agradecemos a gentileza mas preferimos que estejam ao nosso lado no respeito absoluto pelas nossas particularidades. Pois é esta diferença maravilhosa que nos faz mãe de todos os homens do mundo.