Um morto e mais de 200 feridos em protestos contra confinamento no Líbano
Milhares de pessoas saem há três dias às ruas de Trípoli para protestar contra um confinamento que agravou a profunda crise económica e contra a classe política, que responsabilizam pela falta de emprego e de acesso a alimentos.
Uma pessoa morreu e pelo menos 226 ficaram feridas após confrontos entre manifestantes e a polícia na terceira noite de protestos consecutivos em Trípoli, segunda maior cidade do Líbano, contra um rigoroso confinamento imposto pelo Governo para conter a pandemia de covid-19.
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Uma pessoa morreu e pelo menos 226 ficaram feridas após confrontos entre manifestantes e a polícia na terceira noite de protestos consecutivos em Trípoli, segunda maior cidade do Líbano, contra um rigoroso confinamento imposto pelo Governo para conter a pandemia de covid-19.
De acordo com relatos de testemunhas e com os media locais, os manifestantes juntaram-se na Praça Al-Nour, um dos locais que, em 2019, foi palco de enormes protestos que levaram à queda do Governo, e tentaram invadir a sede do executivo regional, tendo a polícia recorrido a balas de borracha e a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que responderam com o arremesso de pedras e cocktails molotov.
Há ainda relatos de que polícia disparou balas reais contra manifestantes. Omar Tayba, um padeiro de 29 anos, foi baleado e acabou por morrer durante a noite no hospital, disse o seu irmão Ahmad à AFP.
Nos hospitais de Trípoli, completamente lotados devido aos internamentos relacionados com a covid-19, foram assistidos pelo menos 66 dos 226 feridos durante os confrontos da noite de quarta-feira.
A Human Rights Watch pediu uma investigação à morte de Omar Tayba e acusou o Governo libanês de “negligenciar as necessidades do povo de Trípoli” e de usar “força bruta” contra manifestantes que “exigem vidas melhores”.
O confinamento na segunda maior cidade libanesa - que proíbe os libaneses de saírem de casa, com o comércio a funcionar apenas com entregas ao domicílio, um serviço inexistente nas zonas mais pobres - entrou em vigor no passado dia 14 de Janeiro e aprofundou a crise em Trípoli, com milhares de pessoas sem dinheiro e sem conseguirem ter acesso a comida.
“As pessoas estão cansadas. Há pobreza, miséria, confinamento e não há trabalho. O nosso problema são os políticos”, disse à Reuter Samir Agha, um dos manifestantes.
Mesmo antes da pandemia, a situação em Trípoli já estava no limite, com uma profunda crise económica que deixou milhares de pessoas desempregadas e com dificuldade em conseguir comprar comida.
O confinamento rigoroso, numa cidade em que grande parte da população depende da economia formal para conseguir trabalhar, agravou ainda mais a situação, o que tem levado milhares de pessoas a saírem às ruas para exigirem ajuda ao Governo.
“Estamos aqui para exigir comida. As pessoas estão esfomeadas”, afirmou à Al-Jazeera Mohammed Ezzedine, um jovem de 20 anos que tem protestado contra o confinamento. “Está na altura de pessoas irem para as ruas.”
Para agravar ainda mais a situação, o Líbano, que ainda está a sarar as feridas da trágica explosão no porto de Beirute em Agosto do ano passado, enfrenta uma grave crise política, com a formação do Governo num impasse desde Outubro, quando Saad Hariri (que voltou ao cargo um ano depois de se ter demitido) foi mandatado pelo Presidente Michel Aoun para formar um novo executivo.
O impasse está a atrasar a implementação de medidas para combater a crise económica e a pandemia de covid-19, numa altura em que os hospitais do país estão no limite e o número de mortos está a bater recordes diários – na quarta-feira, morreram 76 pessoas.
Desde o início da pandemia, o Líbano, um país onde, segundo as Nações Unidas, metade da população vive na pobreza e cerca de um quarto vive na pobreza extrema, regista mais de 289 mil infectados com SARS-CoV-2 e mais de 2500 pessoas morreram devido à covid-19.
De acordo com o Governo, o confinamento actual, que impõe um recolher obrigatório de 24 horas, vai durar pelo menos até 8 de Fevereiro.