Vítor Gaspar: “Devemos fazer tudo no combate à pandemia, mas guardar os recibos”
FMI revê em baixa as previsões do défice público nos EUA e na zona euro para o ano passado, mas antecipa agora um impacto orçamental mais acentuado durante 2021
Os Governo devem, perante a crise criada pela pandemia, continuar a lançar estímulos à economia, com medidas atempadas e rápidas, não esquecendo contudo a necessidade de “responsabilização” e documentação “apropriada”, defendeu esta quinta-feira o ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar.
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Os Governo devem, perante a crise criada pela pandemia, continuar a lançar estímulos à economia, com medidas atempadas e rápidas, não esquecendo contudo a necessidade de “responsabilização” e documentação “apropriada”, defendeu esta quinta-feira o ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar.
Na apresentação das actualizações de Janeiro do relatório sobre política orçamental do Fundo Monetário Internacional (FMI), o director do departamento Assuntos Orçamentais da instituição com sede em Washington afirmou que deve ser feito “tudo no combate à pandemia, mas guardar os recibos”, salientando que o que está em causa “é o crescimento e a competitividade da economia” e, por isso, “é importante que estes recursos sejam bem gastos”, aconselhando a Europa a “encontrar o equilíbrio certo”.
No relatório “Fiscal Monitor” publicado esta quinta-feira, o Fundo revê, face às projecções de Outubro, as estimativas para o défice público em 2020 em baixa para o mundo (de 12,6% para 11,8% do PIB), para a zona euro (de 10,2% para 8,4%) e para os EUA (de 18,7% para 17,5%). No entanto, para 2021, a revisão da previsão do défice público é feita em alta.
O FMI defende no entanto que a política orçamental deve continuar a apoiar nesta fase as economias, facilitando “uma recuperação sustentável” e a “transformação para uma economia verde, digital e inclusiva”.
O relatório não inclui novos dados para Portugal. Paolo Mauro, director adjunto do departamento, questionado na apresentação sobre a situação em Portugal, disse que o FMI não tinha, neste momento, dados novos, mantendo as projecções de Outubro, com uma dívida estimada de mais de 130% do PIB no fim de 2020, um défice de 8,4% para 2020 e 2,7% para 2021.
“Temos novos desenvolvimentos: a pandemia intensificou-se e o crescimento de 2021 foi revisto em baixa”, salientou, ressalvando, no entanto, que para 2020 “o crescimento será um pouco menos afectado” do que o FMI projectava há uns meses”. Ainda assim, realçou, esta dívida é “uma das maiores na zona euro” e o défice em 2021 deverá ser maior do que o projectado há uns meses.
Vítor Gaspar, por sua vez, realçou que a “covid-19 não estará sob controlo em lado nenhum enquanto não estiver controlada em todo o lado”, apontando como prioridades a disponibilidade de vacinas, o alívio da dívida e a concessão de financiamento para os países emergentes.
O director do FMI disse ainda que não tem datas para uma alteração das políticas orçamentais, indicando que é “crucial” continuar os apoios enquanto a covid-19 se mantiver.
Alertando ainda para a “necessidade de lidar com as heranças de dívida pública”, Vítor Gaspar alertou que a pandemia “será um choque transformacional”, que o FMI gostava que “fosse usado como oportunidade” para um modelo de crescimento inteligente e resiliente.