União Audiovisual apoia 210 famílias nas artes: “O balanço é positivo, mas de lágrima”
Número de famílias a beneficiar de apoio já foi maior, mas em Janeiro o grupo recebeu mais 20 pedidos de ajuda, porque o confinamento voltou a fechar a cultura e a crise continua.
Foi em Março de 2020 que tudo começou: sob o alarme da covid-19, criou-se um grupo de entreajuda no Facebook. “Dois, três dias depois, já tinha seis mil pessoas”, contabilizava Ricardo Queluz, um dos fundadores do que viria a ser a União Audiovisual (UA). Desde então, o grupo acorreu às necessidades de muitos trabalhadores da cultura, distribuindo bens alimentares não perecíveis e artigos de higiene pessoal aos mais necessitados que ali se foram inscrevendo. De 150 a 160 pessoas por semana, chegaram a ajudar 256 famílias e hoje apoiam 210. Mas o número tenderá a crescer, com o agravamento da pandemia e o prolongar do confinamento, como diz ao PÚBLICO a produtora Inês Sales, da UA: Neste momento estamos a ajudar, a nível nacional, 210 famílias (140 só em Lisboa). Já passaram por nós muitas mais, que foram saindo, foram tendo trabalho, mas só neste Janeiro já tivemos mais 20 pedidos de apoio.”
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Foi em Março de 2020 que tudo começou: sob o alarme da covid-19, criou-se um grupo de entreajuda no Facebook. “Dois, três dias depois, já tinha seis mil pessoas”, contabilizava Ricardo Queluz, um dos fundadores do que viria a ser a União Audiovisual (UA). Desde então, o grupo acorreu às necessidades de muitos trabalhadores da cultura, distribuindo bens alimentares não perecíveis e artigos de higiene pessoal aos mais necessitados que ali se foram inscrevendo. De 150 a 160 pessoas por semana, chegaram a ajudar 256 famílias e hoje apoiam 210. Mas o número tenderá a crescer, com o agravamento da pandemia e o prolongar do confinamento, como diz ao PÚBLICO a produtora Inês Sales, da UA: Neste momento estamos a ajudar, a nível nacional, 210 famílias (140 só em Lisboa). Já passaram por nós muitas mais, que foram saindo, foram tendo trabalho, mas só neste Janeiro já tivemos mais 20 pedidos de apoio.”
Nos primeiros tempos, o grupo organizou concertos para angariação de fundos, mas teve de desistir. “No início, em Maio/Junho, trabalhámos com o Village Undergound e fizemos quatro concertos (com o Agir, o Samuel Úria e o Legendary Tiger Man). Depois houve o confinamento, mas mesmo assim conseguimos fazer mais dois concertos em Évora, onde também houve recolha de alimentos [e onde foi rodado um pequeno filme, UA – Documentário]. Entretanto, começámos a ter empresas a fazer recolhas para nós, em cartões de alimentos.” Destas, a UA destaca o “Rock N’Law” (uma empresa de advogados), a campanha “Todos por Todos” (Continente), a Campanha Solidária Fnac, a Uncancelcollection2020 e a Super Bock. Mais recentemente, no final do ano, houve mais um concerto online promovido por uma produtora externa, com recolha de donativos.
“Ninguém esperava que a UA crescesse desta forma”, diz Inês Sales. “A nossa ideia era continuarmos a recolher alimentos com os nossos carros, mas acabámos por receber, e ainda bem, apoios de imensas marcas que nos conhecem e já trabalharam connosco em festivais e concertos. Tivemos de nos organizar como associação sem fins lucrativos, vamos muito mais às compras e estabelecemos locais fixos de recolha.”
“Isto é quase uma missão”
Existem hoje oito pólos da UA, aos quais estão agregados 20 pontos de recolha de alimentos: Porto, Coimbra (Coimbra, Guarda), Oeste (Caldas da Rainha), Lisboa, Margem Sul (Almada, Corroios e três em Santa Marta) Alentejo (Elvas, Montemor-o-Novo e quatro em Évora), Algarve (Faro) e Açores (Ponta Delgada). “Neste momento estamos bem organizados, com sedes em todo o país, incluindo os Açores. Estamos a trabalhar com uma assistente social e com dados informatizados.”
Para os próximos meses, e dada a situação actual da pandemia, a UA está a preparar várias iniciativas que ainda é prematuro revelar. Excepto uma: no dia 20 de Fevereiro, vai realizar-se a conferência online ‘The Success Conference’, “que apoiará a União Audiovisual e outra instituição com parte dos valores doados, visto este ano a inscrição ser gratuita”, explica Inês Sales.
Após quase um ano de trabalho, dado o arrastar da pandemia e da crise, esta produtora olha para o trabalho feito com satisfação e alguma amargura. “É quase uma missão. Estes voluntários são pessoas que realmente se preocupam com o que se passa à nossa volta. O balanço é positivo, mas um positivo de lágrima. Porque era muito mais bonito não termos de existir. Mas já que temos de existir, que o caminho continue. Já não olhamos para um fim, mas para uma continuidade, com outras condições e ideias para dar apoio aos muitos técnicos e artistas deste país que precisam de apoio, não só alimentar, mas de outros que estamos a preparar, noutras bases.”