Merkel diz que a UE não deve ser forçada a escolher entre China ou EUA

Chanceler alemã diz que “concorda” com Xi na defesa de uma abordagem multilateralista de relações internacionais, mas deixa críticas ao gigante asiático.

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Chanceler da Alemanha participou na edição deste ano do Fórum Económico Mundial, que se realiza por videoconferência SALVATORE DI NOLFI/EPA

Angela Merkel defendeu na terça-feira que a União Europeia e outros países do mundo não devem ser forçados a uma escolha absoluta entre os Estados Unidos ou a China nas suas relações internacionais.

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Angela Merkel defendeu na terça-feira que a União Europeia e outros países do mundo não devem ser forçados a uma escolha absoluta entre os Estados Unidos ou a China nas suas relações internacionais.

Numa intervenção por videoconferência, no Fórum Económico Mundial de Davos, a chanceler alemã criticou a organização da ordem mundial por blocos e disse concordar com a posição multilateralista assumida, na véspera, pelo Presidente da República Popular da China, Xi Jinping.

“Gostaria muito de evitar a construção de blocos. Não acho que faça sentido para muitas sociedades que venhamos aqui dizer que ‘aqui estão os Estados Unidos e ali está a China’, e que nos vamos agrupar em redor de um ou de outro. Do meu ponto de vista, não é assim que as coisas devem ser”, afirmou Merkel.

“O Presidente chinês falou ontem e ele e eu concordamos sobre esta matéria. Vemos uma necessidade de multilateralismo”, acrescentou a chanceler, citada pelo site Politico.

Ainda assim, Merkel não deixou de criticar a forma como a China exerce a sua influência e o seu poder nas relações com outros países e de pôr em causa a interpretação que faz dos tratados e valores internacionais.

“Há uma questão em que não estamos totalmente de acordo: a questão sobre o que é que significa ter diferentes modelos sociais. Quando é que começa a interferência e quando é que acaba? Onde nos colocamos em relação a valores elementares que são indivisíveis?”, questionou a líder alemã.

“A China comprometeu-se com tratados internacionais e precisamos de resolver, de uma vez por todas, as diferenças de interpretação”, atirou. “Precisamos de saber até que ponto o comércio ainda está a ser feito sob regras globais ou se está a ser favorecido por práticas inaceitáveis”.

Ainda no capítulo das relações económicas, a chanceler alemã aproveitou a ocasião para se declarar “muito satisfeita” com o acordo de princípio sobre investimentos entre os 27 e a China, fechado nos últimos dias da presidência alemã da UE e durante a transição de poder entre Donald Trump e Joe Biden, nos EUA.

Por fim, Angela Merkel denunciou a falta de transparência de Pequim quando foram detectados os primeiros casos de covid-19, em Wuhan, no final de 2019.