Covid-19 provocou quebra de 31% no sector cultural da União Europeia

Um relatório da consultora Ernst and Young estima em 199 mil milhões de euros as perdas acumuladas em 2020 pela cultura, que deverá ressentir-se dos impactos da pandemia até ao final da década. As artes performativas, com perdas de 90%, são as mais afectadas.

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Reuters/Flavio Lo Scalzo

As indústrias culturais e criativas dos países da União Europeia sofreram, no seu conjunto, uma quebra de 31% por comparação com 2019, um resultado apenas ligeiramente menos mau do que o da aviação comercial, mas pior do que o verificado no turismo ou na indústria automóvel, calcula um estudo da consultora Ernst & Young (E&Y) encomendado pelo Grupo Europeu de Sociedades de Autores e Compositores (GESAC) – no qual se integra a Sociedade Portuguesa de Autores – e divulgado esta terça-feira de manhã numa conferência de imprensa on line

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As indústrias culturais e criativas dos países da União Europeia sofreram, no seu conjunto, uma quebra de 31% por comparação com 2019, um resultado apenas ligeiramente menos mau do que o da aviação comercial, mas pior do que o verificado no turismo ou na indústria automóvel, calcula um estudo da consultora Ernst & Young (E&Y) encomendado pelo Grupo Europeu de Sociedades de Autores e Compositores (GESAC) – no qual se integra a Sociedade Portuguesa de Autores – e divulgado esta terça-feira de manhã numa conferência de imprensa on line

Os impactos da pandemia de covid-19, e das medidas adoptadas para tentar contê-la, foram particularmente catastróficos nas artes do palco e na música, com perdas respectivas de 90% e 75%, indica o relatório da E&Y, que estima que o sector europeu da cultura precisará de uma década para recuperar desta crise.

A consultora, que somou o Reino Unido aos actuais 27 países da UE, centrou-se em dez sectores fundamentais das Indústrias Culturais e Criativas (ICC) que já destacara num estudo semelhante co-publicado com o GESAC em 2014. E só um deles, o dos videojogos, conseguiu crescer durante a pandemia, aumentando as receitas em 9% por comparação com os resultados de 2019. Os restantes, à excepção dos já referidos domínios particularmente penalizados das artes performativas e da música, registaram quebras situadas entre os 20% e os 40%. As artes visuais perderam 38%, a arquitectura caiu 32%, a indústria do livro viu as suas receitas diminuírem 25% e o sector audiovisual teve uma quebra de 22%. O estudo considera ainda a publicidade, a imprensa e a rádio, que em 2020 tiveram, respectivamente, perdas financeiras de 28%, 23% e 20%.

O relatório da E&Y,  intitulado Reconstruindo a Europa: A Economia Cultural e Criativa antes e depois da Covid-19, não apresenta resultados específicos para cada país​, mas adianta que o impacto da pandemia na cultura se fez sentir com especial força na Europa Central e de Leste, destacando os casos extremos da Bulgária e da Estónia, com quebras de 44%. E assinala que a crise não afectou apenas os sectores com espectáculos ao vivo e outras actividades que implicam a presença do público, mas atingiu também aqueles que pareceriam mais protegidos pela alternativa do consumo doméstico, em parte devido aos “custos incontroláveis de produção e distribuição”.

Contextualizando a apresentação destes resultados, o GESAC lembra que o sector cultural representava, no final de 2019, 4,4% do Produto Interno Bruto da União Europeia, com receitas de 643 mil milhões de euros, e empregava 7,6 milhões de pessoas, pelo que deve ser visto como decisivo para a estratégia de recuperação da União Europeia. 

As ICC que a pandemia está a devastar são “um sector tão dinâmico como vulnerável e tão essencial como diverso, um mundo de pequenos negócios e de free-lancers, mas também de grandes empresas”, observa o presidente do GESAC, Jean-Noël Tronc (que substituiu o português José Jorge Letria em Junho passado), num editorial que redigiu para este estudo. E, nessa sua diversidade, o sector cultural “contribui para a identidade, a diversidade e a regeneração da Europa”, defende ainda Tronc, sublinhando que as ICC empregam proporcionalmente mais mulheres e mais jovens do que a economia europeia no seu todo, e que nas suas diversas manifestações, da música à literatura, do cinema e dos teatros aos museus, ou da arquitectura aos videojogos, a criação cultural é um instrumento de “inclusão e coesão social”.

O presidente do GESAC, que participou na apresentação à imprensa deste relatório acompanhado de Marc Lhermitte, responsável da E&Y, e do músico francês Jean-Michel Jarre, que representava os criadores, defende que “ainda não é tarde para se agir” e acredita que se os governos europeus accionarem planos de recuperação eficazes e adoptarem as medidas correctas as indústrias culturais e criativas “podem ser muito mais do que um dos problemas a resolver na sequência desta crise, tornando-se uma parte significativa da solução para a Europa”.

E o GESAC sugere que os esforços das autoridades e instituições europeias se devem focar em três grandes prioridades: “financiar a recuperação cultural através de um massivo investimento público e privado” no sector; “assegurar um enquadramento legal sólido, que permita um retorno adequado do investimento e garanta uma remuneração justa aos criadores”, dando assim “poder às ICC para reforçarem o seu impacto positivo”; e, finalmente, “preparar o futuro, usando as ICC – e o poder multiplicado dos seus milhões de talentos individuais e colectivos – como um acelerador decisivo das mudanças sociais e ambientais na Europa”.