Com quem é que o PSD vai conversar?
Há um PSD disponível para conversar com André Ventura, quando Rui Rio sugere que este se modere, e há um PSD que diz que isso nunca acontecerá, quando o seu vice-presidente, David Justino, garante que “com este Chega é impossível conversar”.
André Ventura não forçou Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta, não obteve mais votos do que a esquerda e ficou atrás de Ana Gomes. Nada garante que o epifenómeno seja de longa duração e tenha continuidade nos próximos actos eleitorais. Mas os seus 11,9%, com sete vezes mais votos do que aqueles que conseguiu, nas últimas legislativas, à frente do partido que lidera, foram suficientes para estraçalhar uma esquerda dividida em três candidaturas.
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André Ventura não forçou Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta, não obteve mais votos do que a esquerda e ficou atrás de Ana Gomes. Nada garante que o epifenómeno seja de longa duração e tenha continuidade nos próximos actos eleitorais. Mas os seus 11,9%, com sete vezes mais votos do que aqueles que conseguiu, nas últimas legislativas, à frente do partido que lidera, foram suficientes para estraçalhar uma esquerda dividida em três candidaturas.
A ascensão deste populismo, patrocinado por Le Pen e Salvini, situou o debate não numa segunda volta, mas sim no segundo lugar. O ponto percentual a mais de Ana Gomes só foi possível pela combinação entre o voto urbano, particularmente no Porto, e o voto útil, de que se podem queixar Marisa Matias e João Ferreira. Mas se cada um destes candidatos tentou manter o seu campo político, a verdade é que aconteceu o contrário: a redundância das candidaturas à esquerda foi contraproducente.
Era previsível que o voto à esquerda se concentrasse, com a falta de comparência do PS, na candidata com mais possibilidades de ficar à frente de Ventura. O mesmo voto útil que fez com que Jerónimo de Sousa desistisse a favor de Jorge Sampaio contra Cavaco Silva. Se há algo de que se podem mesmo queixar é das estratégias que escolheram e não da ausência de um candidato do PS.
Os 11,9% do líder do Chega obrigam a esquerda a reposicionar-se entre si, assim como obrigam a direita a recompor-se. Há um PSD disponível para conversar com André Ventura, quando Rui Rio sugere que este se modere, e há um PSD que diz que isso nunca acontecerá, quando o seu vice-presidente, David Justino, garante que “com este Chega é impossível conversar, entendermo-nos sobre seja o que for”. É verdade, “não se conversa com o que representa o pior do que há na política portuguesa”, como diz David Justino. Mas todos sabemos que o PSD tem nos Açores um acordo de incidência parlamentar com o Chega.
Há um vazio à direita que Ventura tem vindo a galgar, com o seu discurso xenófobo, decibéis de comentador de futebol e um nacionalismo ensaiado e bolorento, com as romagens a Afonso Henriques e Nuno Álvares Pereira, que a falta de comparência do CDS facilita. Com o CDS a esvair-se apressadamente e a Iniciativa Liberal a crescer ligeiramente, terá de ser o PSD a decidir com quem quer conversar. O pior que podem fazer a André Ventura é deixá-lo a barafustar sozinho.