PSD responde à provocação de Ventura: “Com este Chega é impossível conversar”

Sociais-democratas alertam para a necessidade de construir alternativa ao PS. No CDS, João Almeida já fez saber que não é candidato num congresso antecipado.

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Rui Rio e David justino relativizaram o resultado de André Ventura Paulo Pimenta

A votação de André Ventura nas presidenciais deste domingo veio agitar o centro-direita e a levar muitos a questionarem-se sobre as actuais lideranças de PSD e CDS e a construção de uma alternativa ao PS. No PSD, a direcção de Rui Rio recusa-se a empolar o fenómeno Chega e rejeita ter ficado “refém” daquele partido. Mas os críticos assumidos, como Pedro Rodrigues, consideram que o resultado é a “falência” da liderança de Rui Rio. Outras vozes, como o eurodeputado Paulo Rangel, pedem uma “alternativa forte, credível e presente ao apodrecimento do país”.

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A votação de André Ventura nas presidenciais deste domingo veio agitar o centro-direita e a levar muitos a questionarem-se sobre as actuais lideranças de PSD e CDS e a construção de uma alternativa ao PS. No PSD, a direcção de Rui Rio recusa-se a empolar o fenómeno Chega e rejeita ter ficado “refém” daquele partido. Mas os críticos assumidos, como Pedro Rodrigues, consideram que o resultado é a “falência” da liderança de Rui Rio. Outras vozes, como o eurodeputado Paulo Rangel, pedem uma “alternativa forte, credível e presente ao apodrecimento do país”.

Depois de há dois meses ter celebrado um acordo parlamentar que viabiliza o governo regional dos Açores, o líder do Chega lançou a provocação na noite eleitoral deste domingo: “PSD, ouve bem: não haverá Governo [de direita] em Portugal sem o Chega”. David Justino, vice-presidente do PSD, aconselhou “calma” na leitura dos resultados de André Ventura (11,9%) e considerou que neste momento o caminho não é o de aproximações àquele partido. “Com este Chega é impossível conversar, é impossível entendermo-nos sobre seja o que for”, disse, na TSF, depois de qualificar assim o antigo vereador do PSD: “Representa o que há de pior na política portuguesa”. Tal como David Justino, já Rui Rio tinha relativizado, na noite eleitoral, o resultado de André Ventura, salientando que não foi “brutal” como se esperava e que a vitória das presidenciais aconteceu ao “centro”, onde se situa o PSD.

Dentro do partido, o deputado Pedro Rodrigues, ex-apoiante de Rui Rio, considerou que o “crescimento exponencial dos partidos à direita do PSD resultam de uma reacção dos portugueses à dificuldade que o PSD tem sentido em mobilizar, representar e galvanizar os mais dinâmicos sectores da sociedade”. Esta “reconfiguração do “sistema político à direita, apontado pelas sucessivas sondagens nos últimos 18 meses e confirmada pelos resultados eleitorais das eleições presidenciais, significam a falência da liderança de Rui Rio”, afirmou.

Sem se dirigir directamente à actual liderança do PSD, o antigo líder da bancada parlamentar Hugo Soares considera que “há espaço em Portugal para uma maioria clara de centro-direita que reganhe a confiança desse eleitorado moderado, liberal (qb) e reformista”. Num post publicado no Facebook, Hugo Soares termina com reticências, deixando nas entrelinhas uma crítica à direcção de Rio: “Há uma maioria clara. Só que…”.

Sociais-democratas de peso como Paulo Rangel deixam um alerta para o espaço político do PSD e para dentro do partido. “O eleitorado que vai da direita ao centro e que passa pelos desencantados reclama com mais urgência do que antes uma alternativa forte, credível e presente ao apodrecimento do país”, escreveu num artigo, publicado esta segunda-feira, no Jornal de Notícias. O eurodeputado considerou mesmo que “o vazio preenchido por Costa não pode ser ocupado pelo Chega e pelo Ventura. A alternativa tem de ser capaz de os dispensar”.

Como assumido opositor a alianças com o Chega, o antigo ministro Miguel Poiares Maduro sustenta que destas presidenciais resultou um paradoxo: “Quem ganha é o centro-direita e a direita e quem perde são os candidatos de esquerda. Mas quem sai em crise é a direita”. Poiares Maduro, que é membro do conselho consultivo do PSD, mantém a ideia de que é “um erro” abrir a possibilidade de uma coligação com o Chega não só porque é “dizer ao eleitor que é útil votar no Chega”, mas também “porque o legitima”.

João Almeida fora de uma corrida antecipada

Num comentário na TVI, Paulo Portas, antigo líder do CDS, considerou que o resultado de André Ventura é “uma questão séria para o PSD e ainda mais no CDS”. As palavras foram ouvidas no partido que liderou durante 17 anos. O cenário mais provável é que o crescimento de Ventura seja debatido em conselho nacional, já que se afigura difícil antecipar o congresso. João Almeida não está disponível para avançar como candidato num congresso extraordinário, apurou o PÚBLICO.

Paulo Portas colocou algumas reticências sobre o comportamento do Chega em legislativas, onde “há voto útil”, embora tivesse assinalado que “é a primeira vez que um populista de direita extrema ou de extrema-direita” tem “dois dígitos”.

O primeiro vice-presidente do CDS, Filipe Lobo d’Ávila, considerou que o resultado de Ventura é “assinalável” sobretudo a Sul do Tejo. “É sintomático que o candidato que ganhou é o candidato que não depende dos partidos nem deles precisa e que surpreende o candidato que é contra os partidos”, disse ao PÚBLICO, acrescentando que “não há partido que verdadeiramente possa estar descansado”.

Na noite eleitoral, o líder do CDS evitou falar de Ventura e disse “celebrar uma vitória eleitoral” com a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, o que surpreendeu os críticos. Fontes contactadas pelo PÚBLICO consideraram desnecessária a euforia do líder do CDS e equacionam qual será a reacção após as autárquicas, em que não é expectável que o partido perca a liderança de câmaras municipais. Logo a seguir, em Janeiro de 2022, há congresso ordinário e será nessa altura que Francisco Rodrigues dos Santos deverá ter um adversário para disputar a liderança. Até lá, é difícil criar condições para um congresso extraordinário, até porque os críticos mais destacados da actual liderança defendem que o presidente do partido deve cumprir o mandato até ao fim. O deputado João Almeida, que foi derrotado na última disputa eleitoral, já fez saber aos mais próximos que não avançará como candidato num congresso antecipado.

No CDS há quem veja o Chega apenas como um dos muitos problemas do partido, que se tem vindo a afundar nas sondagens. Nas palavras de um destacado militante é como se fosse uma “panela de pressão com escapes que já estão a fazer barulho”.

Há quem veja com preocupação a saída para o Chega de uma parte mais conservadora do partido, enquanto outra dá sinais de se aproximar da Iniciativa Liberal. A participação de Adolfo Mesquita Nunes no think tank criado pelo fundador da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, com o empresário Carlos Moreira da Silva, fez soar os alarmes em alguns sectores do CDS. Mesquita Nunes garantiu ao PÚBLICO que se trata de um think tank “apartidário” que “pretende reunir todos aqueles que se identificam com a carta de princípios assentes na defesa da democracia liberal, na economia de mercado e na liberdade individual”.

Na lista de fundadores estão ainda a deputada do CDS Ana Rita Bessa e a eurodeputada do PSD Lídia Pereira.