Caderno de encargos para a covid-19
Podemos continuar a falar do Natal, mas o mais sensato era aprender com o erro e olhar em frente. O que o relaxamento do Natal nos ensina é que a política desta fase deveria ser “pecar por exagero”.
Passámos a prova das eleições presidenciais. A covid-19 teve tudo a ver com as eleições, mas não quis saber delas para nada, continuando a sua marcha inexorável enquanto a atenção do país esteve dividida entre estes dois assuntos. Agora que este capítulo da nossa vida colectiva se encerra, à nossa frente volta a erguer-se como tema único a pandemia.
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Passámos a prova das eleições presidenciais. A covid-19 teve tudo a ver com as eleições, mas não quis saber delas para nada, continuando a sua marcha inexorável enquanto a atenção do país esteve dividida entre estes dois assuntos. Agora que este capítulo da nossa vida colectiva se encerra, à nossa frente volta a erguer-se como tema único a pandemia.
O momento, como os números não se cansam de repetir, é grave, e mesmo a ministra da Saúde já não nega a palavra “catástrofe”, como referiu numa entrevista na quarta-feira passada, admitindo que “ainda não está a acontecer, mas estamos próximos que aconteça”. E o problema é que, por este andar, o próximo é já agora.
Podemos continuar a falar do Natal, mas o mais sensato era aprender com o erro e olhar em frente. O que o relaxamento do Natal nos ensina é que, por mais duro que possa ser, a política desta fase deveria ser “pecar por exagero”. A economia nunca se resolverá sem resolvermos a saúde. Quando os números estão no nível em que se encontram, procurar equilibrar significa perder nas duas frentes.
O mais urgente é aliviar a carga dos hospitais e, neste momento, já deveria ser mais clara a utilização dos hospitais de campanha e das camas de retaguarda para deixar as unidades hospitalares aliviadas para os casos mais preocupantes. Os recursos não chegam para tudo, é certo, mas parece haver alguma tendência para aguentar enquanto for possível, o que é um erro. Vai-se perder tempo.
Mas a solução mais definitiva, como reafirmam os especialistas, está no rastreamento dos casos de infecção para tentar conter a propagação. A ministra fala de um reforço de 400 para 1100 rastreadores, mas os administradores hospitalares falam da necessidade de 12.424, no mínimo. Não será tudo possível, mas um reforço significativo de pessoas, com a integração dos testes rápidos numa estratégia nacional, pode fazer a diferença.
Nada disto é fácil e valerá a pena juntar, ao caderno de encargos para os próximos dias, um plano claro sobre o que se vai fazer nas escolas, quando não for possível regressar em pleno daqui a 15 dias, o que se pensa fazer em relação ao aparecimento de novas estirpes, especialmente no que respeita a viagens a partir dos países de onde elas emanam, e de que forma o Governo pretende moralizar o plano de vacinação quando cada vez há mais notícias de imorais abusos.
O Governo e as autoridades de saúde precisam de mostrar mais iniciativa e menos reacção. Só assim conseguirão a confiança do elemento mais importante para vencer mais esta difícil fase: o empenho da população.