Abstenção bate recorde mas não chega a cenário catastrofista
Mais de 60% dos eleitores não foram às urnas, mais do que em qualquer eleição presidencial mas abaixo de europeias
O cenário de uma terrível abstenção na ordem dos 70% - que levaria até a uma eventual segunda volta - ficou por confirmar. O valor acabou por se situar em 60,7% o que constitui, no entanto, um recorde de abstenção em eleições presidenciais desde 1976. Este número, porém, tem de ser relativizado tendo em conta que há mais de 1,1 milhões de portugueses no estrangeiro nos cadernos eleitorais, que foram automaticamente recenseados.
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O cenário de uma terrível abstenção na ordem dos 70% - que levaria até a uma eventual segunda volta - ficou por confirmar. O valor acabou por se situar em 60,7% o que constitui, no entanto, um recorde de abstenção em eleições presidenciais desde 1976. Este número, porém, tem de ser relativizado tendo em conta que há mais de 1,1 milhões de portugueses no estrangeiro nos cadernos eleitorais, que foram automaticamente recenseados.
Nas últimas presidenciais, em 2016, que elegeram Marcelo Rebelo de Sousa, a abstenção fixou-se em 51,3% dos eleitores. Um número que já foi mais além do que os 50,29% verificados na reeleição de Jorge Sampaio, em 2001, quando defrontou Ferreira do Amaral. Desde então, a percentagem de eleitores que não compareceram nas urnas em reeleições presidenciais nunca mais desceu abaixo dessa linha.
Em 2006, o número da abstenção foi de 38,4%. Foi o momento em que Cavaco Silva foi eleito pela primeira vez. Mas, à segunda vez, em 2011, a eleição do ex-primeiro-ministro do PSD para o cargo de chefe de Estado bateu um recorde de abstenção: 53,4%. Foi um acto eleitoral com alguma confusão em que alguns eleitores não conseguiram votar por causa do fim do cartão de eleitor.
Mas, em geral, a abstenção tem vindo a crescer nas eleições. Nas legislativas de 2019, um novo recorde com uma taxa de 51,4% quando mais de 5,5 milhões de eleitores não foram às urnas. As maiores recordistas do abstencionismo costumam ser as eleições para o Parlamento Europeu. Também em 2019, o número foi o mais alto de sempre: 68,6%. Um estudo revelado pelo Parlamento Europeu, em Setembro do ano passado, apontou que a insatisfação com a política em geral é o principal motivo indicado pelos inquiridos para não comparecerem nos locais de voto. Depois, em segundo lugar, surge a falta de conhecimento sobre a União Europeia ou o Parlamento Europeu.
Apesar das longas filas que se verificaram em vários locais de voto em todo o país, durante a manhã deste domingo, a participação dos eleitores medida ao longo do dia indicava este desfecho. Às 16h00, a afluência às urnas era de 35,4%, a segunda mais baixa desde as eleições de 2006, ano em que este dado passou a ser divulgado pela administração eleitoral. Em 2011, a afluência à mesma hora foi de 35,1%.
Em todo o quadro, é preciso também ter em conta os números acrescidos de emigrantes que passaram a poder votar mas também as dificuldades que muitos terão tido em fazê-lo tendo em conta a evolução da pandemia em vários países da Europa e do mundo, além de que não podem pedir o voto antecipado em locais onde não estão recenseados.