Os rostos da nossa tristeza comum
Olhar para cada um dos rostos que perdemos importa porque ajuda a sair da frieza da aritmética e obriga a encarar de uma forma mais real o estado de tristeza, o sentimento de abandono, o medo do descontrolo e o espírito de revolta que se pressente em crescimento no país perante a escalada dos que nos morrem.
Há dez meses que esperamos todos os dias por um número da Direcção-Geral da Saúde que ora ameniza a nossa ansiedade, ora agrava a apreensão e a dor. Passado tanto tempo, é natural e humano que esse número que desvenda as infecções ou as vítimas da pandemia se tenha convertido em mais uma das nossas rotinas quotidianas. Afinal, precisamos de seguir em frente, de viver. Agora que a tragédia assume dimensões que só os mais sábios, visionários ou pessimistas conseguiram adivinhar, é útil abandonar por instantes a abstracção dos números e encarar a realidade das vidas que se perderam. Só assim seremos capazes de entender o drama colectivo que nos aflige. E de prestar enquanto comunidade a indispensável homenagem a pessoas que perdemos e às suas famílias.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há dez meses que esperamos todos os dias por um número da Direcção-Geral da Saúde que ora ameniza a nossa ansiedade, ora agrava a apreensão e a dor. Passado tanto tempo, é natural e humano que esse número que desvenda as infecções ou as vítimas da pandemia se tenha convertido em mais uma das nossas rotinas quotidianas. Afinal, precisamos de seguir em frente, de viver. Agora que a tragédia assume dimensões que só os mais sábios, visionários ou pessimistas conseguiram adivinhar, é útil abandonar por instantes a abstracção dos números e encarar a realidade das vidas que se perderam. Só assim seremos capazes de entender o drama colectivo que nos aflige. E de prestar enquanto comunidade a indispensável homenagem a pessoas que perdemos e às suas famílias.
É por isso que hoje o PÚBLICO se empenha em dar rosto a 14 dos mais de dez mil portugueses e portuguesas que a pandemia levou antes do tempo. Para podermos desviar por um instante o olhar das estatísticas e deixarmos que a comoção e a solidariedade contagiem a leitura que fazemos destes dias tristes. Para podermos perceber que a perda colectiva acontece essencialmente com histórias de vida de pessoas tão concretas como nós. Pessoas com memórias, amigos e família, alvos de justiça e injustiça, saudade e dor, sorte e infortúnio. Afinal com todos os sentimentos que suscitam compaixão ou a preocupação para com os outros, a mola que estimula a solidariedade e define o sentido de uma comunidade.
Hoje, muito mais do que aconteceu no horizonte da memória das actuais gerações, essa preocupação é fundamental. Tanto como alimentar o debate político em torno das razões que tornaram este drama possível, é importante que se perceba que a pandemia é também um problema de cada um dos cidadãos. Se é indispensável homenagear as vítimas e estar ao lado dos que estão de luto, também o é apoiar os que nos hospitais e tudo fizeram para as salvar. Se é obrigatório reflectir sobre a responsabilidade de quem nos governa pelo estado ameaçador a que chegou a pandemia, também é vital assumir a quota-parte da responsabilidade individual possível para que o seu alastramento seja contido.
Olhar para cada um dos rostos que perdemos importa porque ajuda a sair da frieza da aritmética e obriga a encarar de uma forma mais real o estado de tristeza, o sentimento de abandono, o medo do descontrolo e o espírito de revolta que se pressente em crescimento no país perante a escalada dos que nos morrem. Mas é também um estímulo ao sentimento de solidariedade e de responsabilidade para ultrapassarmos este momento dramático.