Doentes com covid-19 já ocupam mais de metade das camas de cuidados intensivos
Situação pode agravar-se. Mesmo no melhor cenário estimado pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, dois terços do total de camas de cuidados intensivos pode vir a ficar ocupada com covid no final da próxima semana.
Os dados são do boletim divulgado esta sexta-feira pela Direcção-Geral da Saúde, mas reportam-se às 24 horas anteriores. Nos cuidados intensivos estavam internados 715 doentes com covid, o que representa mais de metade (57,2%) do total deste tipo de camas de que o país dispõe e que são usadas para responder também a outros doentes graves - como vítimas de AVC, acidentes ou enfartes - que precisam igualmente de cuidados altamente diferenciados. Mas a situação pode agravar-se. Mesmo no melhor cenário estimado pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), dois terços do total de camas de cuidados intensivos pode vir a ficar ocupada com doentes covid no final da próxima semana.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os dados são do boletim divulgado esta sexta-feira pela Direcção-Geral da Saúde, mas reportam-se às 24 horas anteriores. Nos cuidados intensivos estavam internados 715 doentes com covid, o que representa mais de metade (57,2%) do total deste tipo de camas de que o país dispõe e que são usadas para responder também a outros doentes graves - como vítimas de AVC, acidentes ou enfartes - que precisam igualmente de cuidados altamente diferenciados. Mas a situação pode agravar-se. Mesmo no melhor cenário estimado pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), dois terços do total de camas de cuidados intensivos pode vir a ficar ocupada com doentes covid no final da próxima semana.
Assim, no dia 29 deste mês, segundo as melhores estimativas, poderão estar internados 6427 doentes com covid, dos quais 844 em unidades de cuidados intensivos (UCI), o que significaria 67,5% do total destas camas. Já na pior das hipóteses, o número de doentes hospitalizados pode ascender aos 7518, dos quais 987 em UCI (79% do total destas camas).
As estimativas da APAH, desenvolvidas com o contributo da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública e da Global Intelligent Technologies (Glintt), traçam sempre dois cenários com base na diminuição ou aumento de 2% do Rt (risco de transmissibilidade), usando como base o boletim da DGS da última quinta-feira.
São estimativas que vão reduzindo cada vez mais a margem dos hospitais para doentes covid e não covid, ainda que o total de camas de UCI do país seja o dobro do que existia antes da pandemia. De acordo com as respostas dadas ao PÚBLICO pelas Administrações Regionais de Saúde (ARS), à excepção do Algarve (48,5%) e do Norte (49,8%), nas restantes regiões mais de metade das camas de UCI está ocupada por doentes covid. Lisboa e Vale do Tejo é a região mais pressionada, com 65,6%, seguida do Centro (60,8%) e do Alentejo (57,6%). Em enfermarias, das 18.647 camas no país, 5064 acolhiam doentes covid. Mas é preciso não esquecer que há muitos outros doentes com variadas patologias que precisam de internamento.
Também a capacidade de ventilação do país cresceu. Segundo a Administração Central do Sistema de Saúde, “desde Dezembro já foram distribuídos aos hospitais mais 184 ventiladores”. “Assim, neste momento, o SNS conta com 2145 ventiladores para ventilação mecânica invasiva, o que representa um acréscimo de 1003 ventiladores, face aos 1142 ventiladores que o SNS tinha no início da pandemia.”
“Tenham respeito por nós que estamos a dar tudo”
Mas só ter equipamentos não chega. Segundo os cenários da APAH serão precisos para tratar doentes covid entre 1665 e 1949 médicos, entre 11.894 e 13.902 enfermeiros e entre 4515 e 5275 assistentes operacionais. Na saúde pública, o cenário é também de grande exigência. Entre inquéritos, primeiros contactos para vigilância activa e contactos subsequentes, seriam precisos entre 12.424 e 14.557 rastreadores.
João Araújo Correia, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, afirma que “as coisas estão muito complicadas”, considerando que o país “não precisava do argumento da estirpe inglesa para confinar”. “Precisamos porque estamos com números horríveis da doença”, diz, referindo que “os doentes que aparecem nas enfermarias são mais novos do que há uns tempos” e que aumentou “a percentagem de doentes a precisar de oxigénio”. Quanto às UCI, lembra que “mesmo no cenário optimista é quase a capacidade total do país”.
“A situação não podia ser pior. As pessoas têm de olhar para os números e relembrar-se do medo que tiveram em Março”, pede, lembrando que não é de palmas que os profissionais de saúde precisam. “O que podemos pedir às pessoas é que tenham respeito por nós que estamos a dar tudo. A maior parte das pessoas não imagina o esforço físico e emocional a que leva”, apela o médico.
“Os números de profissionais que apresentamos são os ideais. Não temos estes recursos humanos. Temos médicos, e também enfermeiros, de outras especialidades a apoiar na resposta covid e os que têm estas competências e estão na linha da frente desde o início estão a duplicar turnos. Os hospitais ultrapassaram há muito as suas capacidades porque não têm recursos humanos suficientes para tratar doentes covid e deixaram de tratar doentes não covid. Os profissionais estão a dar o melhor e não mereciam ir assim para a frente”, diz o presidente da APAH, apontando uma falta de gestão nacional antecipada.
Alexandre Lourenço destaca dois dos indicadores das estimativas – casos em enfermaria e casos em oxigenioterapia – como peças chave para uma melhor gestão. “Os doentes em enfermaria estão mais estáveis e podem ter condições para serem tratados fora dos hospitais. Quanto à oxigenioterapia é importante para se fazer o levantamento regional do que podem vir a ser as necessidades.”