Papa pede que não se faça um jornalismo de “fotocópia” e que se controle as notícias falsas

Francisco diz que tem havido alertas para o risco que significa o “nivelamento nos ‘jornais fotocópia’, nos noticiários de rádio e televisão”. E pede que se fale de pessoas e histórias.

Foto
Francisco: a crise na comunicaçãosocialpode produzir um jornalism que "não gasta as solas dos sapatos" Reuters/VATICAN MEDIA

O papa Francisco pediu que se faça um “jornalismo corajoso” e que vá ao encontro das pessoas e das histórias, pedindo ainda o controlo das notícias falsas na Internet, especialmente neste período de pandemia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O papa Francisco pediu que se faça um “jornalismo corajoso” e que vá ao encontro das pessoas e das histórias, pedindo ainda o controlo das notícias falsas na Internet, especialmente neste período de pandemia.

“Opiniões atentas lamentam, há muito, o risco de um nivelamento nos ‘jornais fotocópia’, nos noticiários de rádio e televisão e páginas da Internet que são substancialmente iguais, em que o género de investigação e da reportagem perdem espaço”, disse o Papa numa mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicações, 16 de Maio.

Em sua opinião, os meios de comunicação oferecem mais espaço para a “informação pronta” e cada vez menos são capazes de interceptar “a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas” ou de “recolher os fenómenos sociais mais graves”.

“A crise do sector editorial pode levar a informações construídas nas redacções, na frente do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair para a rua, sem ‘gastar as solas dos sapatos’, sem encontrar pessoas em busca de histórias”, alertou, parafraseando o jornalista espanhol Manuel Lozano Garrido, que morreu em 1971 e foi beatificado em 2010.

Diante desse cenário, Francisco agradeceu a coragem de tantos que têm “a capacidade de ir aonde ninguém vai” para mostrar a realidade. Só assim, disse, se pode conhecer “as difíceis condições das minorias perseguidas em várias partes do mundo” ou os abusos e injustiças contra os pobres ou o meio ambiente.

Isso é especialmente importante durante a pandemia da covid-19 e na distribuição de vacinas e medicamentos, porque existe o risco de ser contado “pelos olhos do mundo mais rico”, ignorando os países mais pobres.

“Quem nos falará da esperança de cura dos povos mais pobres da Ásia, América Latina e África? Assim, as diferenças sociais e económicas em nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas contra a covid-19”, alertou.

Mas a devastação económica da pandemia também atingiu os países “mais afortunados”, onde o drama das famílias que caíram na pobreza está “em grande parte escondido”.

Francisco apreciou o contributo da Internet, que permite multiplicar a capacidade de contar e partilhar a história e de oferecer informação “em primeira mão e oportuna”, especialmente útil em tempos de emergência.

No entanto, alertou para “os riscos da falta de controlo da comunicação social”. “Nós descobrimos, há muito tempo, como notícias e imagens são fáceis de manipular, por milhares de motivos, às vezes apenas por um narcisismo banal. Essa consciência crítica empurra não para demonizar o instrumento, mas para uma maior capacidade de discernimento e um senso de responsabilidade mais maduro”, afirmou.

“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que juntos podemos exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos somos chamados a ser testemunhas da verdade: ir, ver e compartilhar”, indicou.

O papa salientou ainda que “na comunicação nada pode substituir completamente o facto de ver em pessoa”, já que “algumas coisas só se aprendem com a experiência: não se comunica, de facto, apenas com palavras, mas com os olhos, com o tom da voz, com os gestos”.