Mais de 2500 detidos em manifestações na Rússia a exigir libertação de Navalny

Mulher de Alexei Navalny foi detida. Apesar de proibidos, os protestos estão a decorrer por todo o país, do extremo ocidental à Sibéria, com milhares de pessoas nas ruas a exigirem a libertação do opositor russo.

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As autoridades russas detiveram mais de 2500 pessoas neste sábado e reprimiram com violência as manifestações em que se exigiu a libertação imediata do opositor russo Alexei Navalny, um desafio a Vladimir Putin e às autoridades, que tinham proibido os protestos.

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As autoridades russas detiveram mais de 2500 pessoas neste sábado e reprimiram com violência as manifestações em que se exigiu a libertação imediata do opositor russo Alexei Navalny, um desafio a Vladimir Putin e às autoridades, que tinham proibido os protestos.

Em Moscovo, mais de 40 mil pessoas saíram às ruas e outras dezenas de milhares marcaram presença nas manifestações que decorreram em 70 cidades, do extremo ocidental do país até à capital. De acordo com a organização não-governamental OVD-Info, foram detidas pelo menos 2662 pessoas, 1045 das quais em Moscovo e 378 em São Petersburgo. 

Os protestos acontecem uma semana após Navalny, um advogado de 44 anos que nos últimos anos tem sido o rosto da oposição a Vladimir Putin, ter sido detido num aeroporto de Moscovo, cinco meses depois de ter estado a convalescer na Alemanha, onde recuperou da tentativa de assassínio em Agosto do ano passado, na Sibéria. Navalny foi envenenado com novichok, uma arma química altamente tóxica, e acusa Putin de ordenar a sua morte, acusação que o Kremlin rejeita.

Navalny foi condenado a prisão preventiva na passada segunda-feira e irá a julgamento em meados de Fevereiro, quando a justiça russa vai decidir se converte a pena suspensa em prisão efectiva, o que pode atirar o opositor russo vários anos para a cadeia.

Numa tentativa de evitar uma expectável pesada sentença para Navalny, os seus apoiantes convocaram manifestações, com dezenas de milhares de pessoas a enfrentarem o clima gelado e a desafiarem as autoridades que, dias antes, proibiram as manifestações e detiveram alguns aliados de Navalny, incluindo sua porta-voz, Kira Yarmysh.

Os protestos, considerados os maiores no país desde 2017, começaram na cidade de Khabarovsk, com cerca de 14 graus negativos, e em Yakutsk, na Sibéria, onde a temperatura chega a atingir os 52 graus negativos, e expandiram-se por todo o país, enquanto nas redes sociais surgiam os primeiros relatos de repressão por parte da polícia, que arrastou manifestantes para dentro de carrinhas, agredindo-os com bastões.

Em Moscovo, as autoridades ergueram barricadas em redor da Praça Pushkin, no centro da capital, onde se juntaram dezenas de milhares de pessoas, registando-se confrontos entre os manifestantes e a polícia. Entre os detidos, estão Yulia Navalnaya, mulher de Navalny, libertada horas depois, e a advogada Liubov Sobol, uma das principais aliadas do opositor russo, que já tinha sido detida esta semana por incentivar os protestos.

“Não fiquem em silêncio, não tenham medo”, disse Sobol, que integra a Fundação Anticorrupção de Navalny, num vídeo gravado no interior de uma carrinha da polícia, momentos depois da detenção. “Não podem fechar os olhos ao que está a acontecer na Rússia neste momento”, apelou.

Leonid Volkov, outro aliado próximo de Navalny, convocou mais protestos para o próximo fim-de-semana.

“Não temos medo”

Na passada terça-feira, dois dias depois de Navalny ter sido detido, a sua equipa divulgou um vídeo nas redes sociais com uma investigação à fortuna do Presidente Vladimir Putin, acusado de ter recebido presentes, como uma mansão no valor de cem mil milhões de rublos (1,12 mil milhões de euros) no Mar Negro. O vídeo tornou-se viral nas redes sociais e já tem mais de 70 milhões de visualizações. O Kremlin nega que a mansão em causa pertença a Putin.

Na véspera dos protestos, as autoridades avisaram os russos para não saírem às ruas, ameaçando que as manifestações seriam reprimidas. Além disso, pressionaram as redes sociais para apagarem todos os conteúdos que promovessem os protestos deste sábado, e a ligação à Internet foi condicionada.

As ameaças, contudo, não demoveram milhares de russos de saírem às ruas, e em Moscovo ouviram-se manifestantes a gritarem “Putin ladrão”, “Não temos medo” e “Libertem-no”, referindo-se a Alexei Navalny.

“Acho que ele é como um herói, muito inspirador. É corajoso, portanto todos devemos ser corajosos hoje”, disse Nikolao Agilko, um manifestante de 23 anos que esteve nas ruas de Moscovo, ao The Washington Post. “Estou farto de ter medo. Estou aqui não apenas por mim e por Navalny, mas pelo filho, porque não existe futuro neste país”, afirmou à Reuters Sergei Radchenko, um manifestante de 53 anos.

A Amnistia Internacional condenou a repressão e acusou as autoridades de “espancarem indiscriminadamente e prenderem arbitrariamente os manifestantes, muitos dos quais jovens”, exigindo a sua libertação imediata.

Numa publicação na rede social Twitter, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, condenou a repressão dos protestos deste sábado e disse estar a acompanhar com “preocupação” o desenrolar da situação na Rússia.

“Deploro as detenções generalizadas, o uso desproporcional da força e os cortes de Internet e de ligações telefónicas. Na segunda-feira, vamos discutir com os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia os próximos passos”, afirmou Borrell.

Na quinta-feira, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução a pedir que os Estados membros imponham mais sanções à Rússia e que Bruxelas trave a construção do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Alemanha à Rússia, cruzando o Mar Báltico. Os dois assuntos vão estar em discussão na reunião de segunda-feira do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

Protestos em Lisboa

Mais de 50 pessoas participaram numa manifestação em frente à embaixada da Rússia em Lisboa, um número que superou as expectativas dos organizadores do protesto, onde se exigiu a libertação imediata de Alexei Navalny.

“Na Rússia, há um medo constante que é insuportável. É difícil viver com esta fúria, mas, desta vez, finalmente decidimos sair à rua”, disse ao PÚBLICO Ksenia Ashrafullina, uma das organizadoras da manifestação.

“Navalny demonstrou que é possível não ter medo, que podemos acreditar em nós mesmos”, acrescentou Ashrafullina, que vive em Portugal desde 2012.

Para Pavel Elizarov, outro dos organizadores da manifestação, a detenção de Navalny assume um carácter mais pessoal, uma vez que é amigo do advogado russo.

“O que aconteceu com Navalny revoltou-me muito”, disse Elizarov que fugiu para Portugal em 2013, onde pediu asilo, para fugir às acusações criminais que enfrentava na Rússia devido à sua participação nos grandes protestos de 2012 na capital russa.

Com a detenção de Navalny no passado fim-de-semana, e a sua condenação a prisão preventiva num tribunal improvisado numa esquadra, Elizarov considera que se abriu um precedente perigoso.

“A situação mudou bastante. Temos medo que o que aconteceu a Navalny possa acontecer a muitas mais pessoas. O sentimento de insegurança na Rússia agravou-se”, rematou.