Suspensão de ligações com o Reino Unido afecta mais de 100 voos semanais

Despacho anunciado por António Costa, depois da suspensão britânica, entrou este sábado em vigor e tem como justificação a nova variante de covid-19 identificada no Reino Unido.

Foto
Easyjet e Ryanair dominam um pouco mais de metade do mercado Rui Gaudencio

Depois de o Reino Unido ter decidido suspender na semana passada os voos de ligação com Portugal devido ao receio da variante de covid-19 com origem no Brasil, entrou este sábado em vigor uma medida idêntica, agora aplicada por Portugal, e tendo como justificação a estirpe britânica do novo coronavírus.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Depois de o Reino Unido ter decidido suspender na semana passada os voos de ligação com Portugal devido ao receio da variante de covid-19 com origem no Brasil, entrou este sábado em vigor uma medida idêntica, agora aplicada por Portugal, e tendo como justificação a estirpe britânica do novo coronavírus.

Esta suspensão, que já tinha sido anunciada pelo primeiro-ministro António Costa, acaba por não ter efeitos práticos nas ligações neste momento – uma vez que já foram suspensas do lado britânico - mas a reciprocidade implica que, depois, o seu levantamento terá de ser feito em simultâneo para que as rotas sejam de facto retomadas.

Para já, e tendo como referência as slots (correspondente a autorizações) previstas entre este sábado e até ao final de Março (quando acaba o chamado inverno IATA, referência no sector), a suspensão afecta uma média de 150 voos por semana. De acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO pelo regulador da aviação civil, a ANAC, a maior parte dos voos tinha como origem e destino o aeroporto de Lisboa, seguindo-se depois o de Faro e o do Porto.

"Número crescente” de infecções

Segundo o decreto publicado ontem à noite, e que entrou em vigor às 0h deste sábado, houve “a detecção, em território nacional, de um número crescente de casos de infecção associados à nova variante recentemente identificada no Reino Unido”, cuja transmissibilidade “se revela ser mais elevada, impulsionando o desenvolvimento da pandemia”.

“De acordo com dados analisados até 20 de Janeiro, observa -se um crescimento da frequência relativa da variante do Reino Unido a uma taxa de 70 % por semana, pelo que as estimativas apontam para que, daqui a três semanas, esta variante possa representar cerca de 60% de todos os casos activos de covid-19 em Portugal”, lê-se no despacho.

Assim, optou-se pela “suspensão temporária dos voos de e para o Reino Unido”, medida que, para já, irá durar até ao final do dia 5 de Fevereiro, podendo depois ser renovada.

Tal decisão, diz o despacho, “não prejudica o direito de entrada dos cidadãos nacionais e membros das respectivas famílias”, bem como os titulares de autorização de residência em Portugal, mas “apenas em voos de natureza humanitária para efeito de repatriamento dos referidos cidadãos”.

Nestes casos, “os passageiros têm de apresentar, no momento da partida, um comprovativo de realização de teste molecular por RT -PCR para despiste da infecção” com resultado negativo, “realizado nas 72 horas anteriores à hora do embarque, sob pena de lhes ser recusado o embarque na aeronave e a entrada em território nacional”.

No inverno IATA de 2019 estavam contabilizadas 47 rotas, a partir de 15 cidades do Reino Unido, operadas por sete companhias aéreas.

Companhias aéreas como a TAP, a Easyjet e a Ryanair são as que sofrem os maiores impactos, uma vez que são quem assegura mais rotas entre Portugal e o Reino Unido, mas nenhuma quis fazer comentários.

A TAP emitiu uma nota, após a suspensão anunciada por Londres, onde dava conta que estes cancelamentos de voos, “a par do aumento das suspensões e restrições como medida de combate à pandemia, vão implicar uma redução de capacidade generalizada” na operação da companhia.

“Face às recentes evoluções, prevemos voar em Fevereiro entre 19 % e 22% dos níveis voados em Fevereiro de 2020, pré-pandemia. Em Março estimamos, agora, uma oferta de voos entre os 25 % e os 28% face a Março de 2020, primeiro mês em que sentimos o impacto da pandemia”, referiu a TAP.

Menos turistas, e menos dinheiro

Segundo os dados mais recentes do Turismo de Portugal, que abrangem os primeiros nove meses do ano passado, a principal cidade de origem dos turistas britânicos foi Londres, com 69,4% do total dos lugares de passageiros, seguindo-se Manchester (com 10,8%). A maior quota coube à Easyjet (26,7%), seguindo-se a Ryanair (26,5%), a TAP (20%) e a British Airways (12,3%). Entre Janeiro e Setembro desembarcaram nos aeroportos portugueses 548 mil passageiros vindos do Reino Unido, menos 50,6% face a idêntico período de 2019.

Este é o principal emissor turístico para o país, com o Turismo de Portugal a registar 2,1 milhões de hóspedes em 2019, que geraram 9,4 milhões de dormidas e receitas de 3285,8 milhões de euros.

Nos primeiros onze meses de 2020, no entanto, houve uma descida de 78,4% no número de turistas britânicos registados nos alojamentos analisados pelo INE, para 446.659 (Fevereiro acabou por ser o melhor mês do ano, com 101 mil britânicos).

Já em termos de receitas (serviços de viagens e turismo), a queda foi de 61,7% no período em análise, para 1199,8 milhões de euros, de acordo com os dados do Banco de Portugal.