Morreram mais 11.118 pessoas em Portugal em 2020 do que no ano anterior. Covid-19 é cada vez mais responsável pelo excesso de mortes
Morreram mais 11.118 pessoas em Portugal em 2020 do que no ano anterior. A chegada da covid-19 ao país coincidiu com o crescimento do excesso de mortes, mas o peso da pandemia nesse excesso aumentou de forma exponencial nos últimos dois meses do ano.
Se alguém tinha dúvidas sobre a responsabilidade da pandemia no excesso de mortes que o país tem registado, o relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE), com os dados preliminares sobre o número de óbitos em 2020 e na primeira semana deste ano, desfaz quaisquer dúvidas. Em 2020, morreram em Portugal 123.409 pessoas, mais 11.118 do que no ano anterior, e mais 12.220 do que a média dos últimos cinco anos. Um excesso que se começou a sentir sobretudo a partir de Março, quando a pandemia chegou. Só entre 4 e 10 de Janeiro deste ano morreram 3634 pessoas, mais 830 do que a média de 2015-2019.
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Se alguém tinha dúvidas sobre a responsabilidade da pandemia no excesso de mortes que o país tem registado, o relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE), com os dados preliminares sobre o número de óbitos em 2020 e na primeira semana deste ano, desfaz quaisquer dúvidas. Em 2020, morreram em Portugal 123.409 pessoas, mais 11.118 do que no ano anterior, e mais 12.220 do que a média dos últimos cinco anos. Um excesso que se começou a sentir sobretudo a partir de Março, quando a pandemia chegou. Só entre 4 e 10 de Janeiro deste ano morreram 3634 pessoas, mais 830 do que a média de 2015-2019.
A responsabilidade da covid-19 no excesso de mortes a que o país assistiu ao longo do último ano não foi sempre igual, e tem vindo a aumentar nas últimas semanas, com o agravamento da situação da pandemia. De facto, olhando para o mês de Dezembro, o INE conclui mesmo que, se se excluísse a mortalidade causada pela covid-19, “ter-se-ia verificado um número de óbitos, neste mês de 2020, muito próximo da média de 2015-2019”. E isto, porque os 2395 mortos atribuídos neste mês à covid, representaram 97,3% da diferença entre o total de óbitos ocorridos e a média de 2015-2019.
O ano de 2020 até nem tinha começado mal e, nos dois primeiros meses, o número de óbitos tinha sido inferior aos valores médios dos últimos cinco anos, refere o INE. A partir de Março mudou tudo. A chegada da Primavera (que geralmente significa uma diminuição de óbitos) foi, desta vez, acompanhada pela chegada da covid-19 ao país, e depois disso não houve um único mês em que a mortalidade fosse inferior à média de 2015-2019. O primeiro pico de mortes associado à pandemia ocorreu logo em Abril.
Nesse mês 53,9% do excesso de mortalidade foi atribuído à covid-19, e, com excepção do mês de Julho (mês em que se verificaram vagas de calor), em que apenas 7,1 % do excesso de mortes foi atribuída a esta doença, aqueles valores iriam disparar a partir de Outubro. Nesse mês, segundo os dados do INE, a covid-19 foi responsável por 44,8% do excesso de mortalidade comparada com a média de 2015-2019, valor que subiu para 81,5% em Novembro e para 97,3%, como já vimos, em Dezembro. Na semana de 4 a 10 de Janeiro, dos 3634 óbitos registados, 729 foram por covid-19, o que representa já 20,1% do total, esclarece o INE.
O modo como esta doença ataca, sobretudo, os mais velhos também é visível nos dados divulgados esta sexta-feira. Segundo o relatório, no ano passado, 71,8% dos óbitos foram de pessoas com 75 anos ou mais e, destes, quase 60% na faixa etária de 85 anos ou mais. Comparando com a média de 2015-2019, morreram mais 10.206 pessoas com 75 anos ou mais, das quais, 8032 tinham 85 anos ou mais. O “maior excesso de mortalidade” pode ainda ser mais definido, esclarece o INE, situando-o nas pessoas com idade igual ou superior a 90 anos. Só neste grupo houve mais 5085 mortes do que a média dos anteriores cinco anos, o que representa um aumento de 22,5%.
Mulheres foram mais afectadas
E com as mulheres a terem, geralmente, maior longevidade do que os homens, foram também elas a sofrer mais as consequências deste ano atípico que vivemos. Segundo o INE, em 2020 morreram 61.441 homens e 61.968 mulheres, respectivamente mais 5643 e 6578 do que a média de 2015-2019. Se olharmos para o período entre Março e Dezembro de 2020, quando a pandemia já se encontrava instalada em Portugal, o excesso de mortes em comparação com o período homólogo dos cinco anos anteriores, cifrou-se em 6134 entre os homens e 7362 entre as mulheres.
Em 2020, em Portugal, morreu-se mais no Norte, região que sozinha registou 32,4% do total de óbitos no país. A Área Metropolitana de Lisboa (AML) teve 25,2% dos óbitos e o Centro, 24,5%, com o Alentejo (9,1%), o Algarve (4,4%) e os arquipélagos dos Açores (2%) e da Madeira (2,2%) a terem um peso consideravelmente inferior. Estes números globais reflectem também o modo como o excesso de óbitos se distribuiu pelo país, com o Norte (onde o número total de casos de covid-19 é muito superior a qualquer outra região do país) a registar um acréscimo de 16,2% de óbitos, comparando com a média dos cinco anos anteriores, logo seguido da AML, com um excesso de 12%, o Alentejo (7,9%) e o Centro (7,8%).
E onde morreram os portugueses? Segundo o INE, muitos deles morreram fora dos hospitais, sendo nessa categoria que se regista o maior acréscimo de óbitos. Contudo, os dados também deixam pressupor que foi nos meses em que houve menor peso da covid-19 na responsabilidade pelo excesso de mortes que os óbitos em casa ou noutro local que não as unidades hospitalares teve mais peso.
O relatório indica que dos 123.409 óbitos registados em 2020, 74.966 ocorreram em hospitais e 48.443 fora destas unidades — números que representam um aumento de, respectivamente, 7,7% e 16,5% de óbitos em relação à media de 2015-2019. O INE salienta que “a contribuição dos óbitos fora do contexto hospitalar é importante ao longo de todos os meses para o excedente da mortalidade, mas especialmente nos meses de Março a Junho e Agosto”. Já nos meses de Novembro e Dezembro, quando a covid-19 ganhou preponderância enquanto causa de morte, “o maior acréscimo de óbitos registou-se nos hospitais”, refere-se no relatório.