Violência jihadista no Sahel já causou mais de dois milhões de deslocados, diz o ACNUR

Número de deslocados internos na região quadruplicou nos últimos quatro anos. Metade dos deslocados são do Burkina Faso, de onde fugiram mais de 11 mil pessoas neste mês de Janeiro.

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Burkina Faso tem sido um dos principais alvos da violência jihadista no Sahel Reuters

O número de pessoas que fugiu da violência no Sahel, em África, quadruplicou nos últimos dois anos e existem agora mais de dois milhões de pessoas deslocadas dentro dos seus próprios países na região, revelou esta sexta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). No início de 2019, havia 490 mil deslocados internos.

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O número de pessoas que fugiu da violência no Sahel, em África, quadruplicou nos últimos dois anos e existem agora mais de dois milhões de pessoas deslocadas dentro dos seus próprios países na região, revelou esta sexta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). No início de 2019, havia 490 mil deslocados internos.

“A extrema vulnerabilidade do Sahel foi exposta pelo impacto do deslocamento forçado, causado pela generalizada e horrível violência perpetrada por grupos insurgentes armados e gangues criminosos”, afirmou Boris Cheshirkov, porta-voz do ACNUR, numa conferência em Genebra, na Suíça.

Além dos mais de dois milhões de deslocados, o ACNUR refere que o Sahel acolhe mais de 850 mil refugiados de países da região, a maioria proveniente do Mali.

Mais de metade das pessoas deslocadas internamente no Sahel são do Burkina Faso, país que desde 2015 é alvo de ataques de grupos jihadistas, muitos deles ligações à Al-Qaeda ou ao Daesh, à semelhança do que acontece nos vizinhos Níger, Mali e Chade.

De acordo com as Nações Unidas, a violência no Burkina Faso tem-se vindo a agravar nas últimas semanas e só neste mês de Janeiro mais de 11 mil pessoas, sobretudo mulheres e crianças, tiveram de fugir de ataques na localidade de Koumbri, no Norte do país.

A maioria dos deslocados do Burkina Faso foi acolhida noutras localidades e está em segurança, contudo, muitos dormem ao relento e o acesso a água ou a alimentos é muito limitado.

O ACNUR está a construir mais de cem abrigos e a distribuir bens essenciais, como cobertores ou produtos de higiene, mas alerta que as condições são precárias e a capacidade de resposta está no limite.

“As comunidades que acolheram os deslocados chegaram a um ponto de ruptura”, alertou Boris Cheshirkov. “A resposta humanitária está perigosamente sobrecarregada, e o ACNUR apela à comunidade internacional para redobrar o seu apoio à região”, acrescentou

No início deste ano, ataques jihadistas em aldeias no Níger, perto da fronteira com o Mali, causaram a morte de pelo menos 100 civis.

Desde que o Norte do Mali ficou sob controlo de grupos terroristas em 2012, os ataques jihadistas têm-se alastrado pela região, aumentado os conflitos étnicos, principalmente no Burkina Faso, Mali e Níger, numa espiral de violência que já matou milhares de pessoas.

O ACNUR apela ao fim da “violência implacável” contra civis inocentes e alerta que a situação no Sahel é cada vez mais complexa, com as necessidades das populações a aumentarem perante a convergência de várias crises simultâneas, como os conflitos armados, pobreza extrema, insegurança alimentar, alterações climáticas e a pandemia de covid-19.