“Não existem enfermeiros para contratar” no país, diz bastonária

Ana Rita Cavaco afirmou que desde Março a Ordem tem apresentado várias soluções para reforçar quer a resposta na saúde pública quer nas unidades cuidados intensivos nos hospitais, mas que não foram feitas pelo Governo.

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Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros Nuno Ferreira Santos

Nos últimos 15 dias deixou de haver enfermeiros disponíveis no mercado para contratar, afirmou a bastonária dos Enfermeiros. Ana Rita Cavaco lamentou, na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 onde foi ouvida esta quinta-feira, que o Governo não tenha criado condições para que os 20 mil enfermeiros que estão a trabalhar no estrangeiro, e tinham vontade, pudessem regressar a Portugal.

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Nos últimos 15 dias deixou de haver enfermeiros disponíveis no mercado para contratar, afirmou a bastonária dos Enfermeiros. Ana Rita Cavaco lamentou, na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 onde foi ouvida esta quinta-feira, que o Governo não tenha criado condições para que os 20 mil enfermeiros que estão a trabalhar no estrangeiro, e tinham vontade, pudessem regressar a Portugal.

Aos deputados, Ana Rita Cavaco afirmou que desde Março a Ordem tem apresentado várias soluções para reforçar quer a resposta na saúde pública quer nas unidades cuidados intensivos nos hospitais. “Desde Março teria sido possível usar enfermeiros com a especialidade de saúde pública e comunitária que estão noutras funções — a Ordem fez este levantamento a pedido do Governo —, contratando para os seus lugares outros enfermeiros que estavam disponíveis no mercado. Não fizeram isso”, afirmou a bastonária dos Enfermeiros.

“Deixaram emigrar 1230 enfermeiros no último ano, porque a estratégia foi contar tostões no combate à pandemia”, acrescentou, referindo ainda que dos 20 mil enfermeiros que estão a trabalhar no estrangeiro “alguns tinham vontade de regressar, mas não o fazem por contratos de quatro meses” nem por contratos a termo incerto, “o que significa que daí a um mês são mandados embora”.

Quanto aos cuidados intensivos, a bastonária afirmou que podiam ter sido contratados enfermeiros, que mesmo sem experiência, podiam “ter sido logo colocados para fazer alguma formação [no início da pandemia] e mais uma vez não foi feito”. A questão, avançou, é que mesmo que se queira, não há profissionais disponíveis para poderem ser contratados agora. “A Ordem dos Enfermeiros tem estado sempre a fazer o levantamento dos enfermeiros disponíveis no mercado, a pedido do Governo, e desde há 15 dias detectou e informou ao Ministério da Saúde que não existem enfermeiros disponíveis no mercado para contratar. Existem os que estão emigrados”, afirmou.

“Devíamos ter um rácio de três enfermeiros por cada médico. Temos 30 mil médicos no SNS e 45 mil enfermeiros quando deveríamos ter 90 mil. É fácil perceber que os enfermeiros não chegam para toda a gente”, disse, referindo receber relatos de enfermeiros que “não conseguem ter tempo para comer”. “A Ordem dos Enfermeiros, pela primeira vez, disponibilizou um documento para servir de atenuante de responsabilidade para o que está acontecer na pandemia. Cinco enfermeiros não chegam para 100 doentes urgência”, disse, lamentando: “Tornámo-nos no país que importou ventiladores e exportou enfermeiros. E depois chegámos à situação dramática de ter pessoas a morrer em ambulâncias.”

Escolas já deviam ter sido fechadas

Ana Rita Cavaco lamentou ainda que existam enfermeiros obrigados a devolver o prémio aprovado pela Assembleia da República para quem esteve em áreas covid no primeiro estado de emergência. “Fizeram a atribuição de um prémio, quanto a nós absurdo, que só veio criar mais instabilidade e agora vieram pedir a devolução do dinheiro a alguns enfermeiros. E alguns vão receber 500 euros de salário”, disse.

“Numa fase tão complicada, em que os enfermeiros não têm tempo para comer, ainda estamos a tirar dinheiro do prémio. É uma falta de respeito do país relativamente aos enfermeiros. Numa altura em que se discutiu a valorização carreia, essa valorização foi chumbada pelo PS e outros partidos abstiveram-se. Mas os enfermeiros não se têm abstido de dar a vida pelas pessoas e pelo país”, fez questão de dizer.

Questionada sobre o encerramento das escolas, anunciada esta quinta-feira pelo primeiro-ministro, a bastonária dos Enfermeiros afirmou que “o Governo devia ter fechado as escolas há mais tempo”. “A nova variante é determinante para o combate à pandemia, mas não era determinante para o encerramento das escolas. Em 87% dos casos não sabemos onde ocorre o contágio, por isso não podemos dizer se as escolas ou os transportes são locais de contágio. Devíamos ter arranjado uma estratégia diferente de confinamento. Não nos podemos escudar na nova variante para justificar a teimosia do primeiro-ministro”, defendeu.

Sobre a vacinação contra a covid, Ana Rita Cavaco voltou a salientar que a Ordem é contra a que esta seja feita por farmacêuticos. Salientou que podem existir efeitos adversos graves, como choques anafilácticos, e que só médicos e enfermeiros estão aptos a fazer medicação intravenosa. E atenção redobrada na aplicação da segunda dose da vacina, já que têm chegado relatos de alguns efeitos adversos.

Ainda durante a audição, a secção regional (SR) Centro da Ordem dos Enfermeiros enviou um comunicado à imprensa salientando isso mesmo. “No seguimento de vários relatos de enfermeiros, que, após a toma da segunda dose da vacina contra a covid-19, manifestaram efeitos secundários incapacitantes, situação que os obrigou a ficarem em casa, sem poderem trabalhar, a SR Centro aconselha todos os conselhos de administração dos grandes centros hospitalares a terem cautela e prudência na decisão de vacinar todos os enfermeiros ao mesmo tempo.” Na mesma nota refere-se que “dores fortes, febre, astenia, mialgias intensas e cefaleias” foram algumas das reacções adversas mais indicadas pelos profissionais de saúde.