Marta Temido admite fecho de escolas. Hospitais estão “muito próximos do limite” e a situação “vai agravar nos próximos dias”

Ministra da Saúde disse esta quarta-feira que o país está a enfrentar números causados pela pandemia com os quais “nunca julgámos ver-nos confrontados”. Sobre os acordos com privados para o combate à pandemia. Marta Temido disse que “não é a requisição civil só por si que resolve o problema”.

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Rui Gaudencio

A ministra da Saúde, Marta Temido, disse esta quarta-feira que os números avançados na reunião desta quarta-feira com epidemiologistas “trazem algumas alterações às estimativas anteriores” e podem obrigar o Governo a encerrar as escolas, entre outras medidas.

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A ministra da Saúde, Marta Temido, disse esta quarta-feira que os números avançados na reunião desta quarta-feira com epidemiologistas “trazem algumas alterações às estimativas anteriores” e podem obrigar o Governo a encerrar as escolas, entre outras medidas.

Em entrevista à RTP3, a ministra admitiu que houve alterações de abordagens ao combate à pandemia já colocadas em cima da mesa, mas nada vai ficar decidido já e quaisquer decisões “serão discutidas em Conselho de Ministros”.

As ministras de Estado e da Presidência e da Saúde reuniram-se com epidemiologistas esta quarta-feira, ao fim da tarde, e falaram depois com o primeiro-ministro, António Costa, numa reunião por Zoom, assim como com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e com o ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor.

Entre as variáveis novas que o Governo vai ter em conta nestas novas decisões está a confirmação de que a variante descoberta no Reino Unido, mais transmissível, já se dissemina com força no país e poderá ser responsável por cerca de 60% dos casos em Portugal nas próximas semanas.

A opção de fechar as escolas é considerada “uma boa solução” pelo Presidente da República caso seja “adoptada no Conselho de Ministros”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no final de uma entrevista ao Porto Canal.

Serviços de saúde estão “muito próximos” do limite

Marta Temido reconheceu que os serviços de saúde do país estão “muito próximos do limite” ou mesmo “no limite” em algumas situações.

“Profissionais de saúde têm-nos feito acreditar que conseguem fazer sempre mais um pouco, mas neste momento sinto que estamos muito próximo do limite e que há situações em que estamos no limite”, disse na entrevista.

A ministra relembrou que os hospitais se têm “reinventado”, mas diz que “o elástico não estica”, estando o país a enfrentar números com que “nunca julgamos ver-nos confrontados”.

Vários hospitais da Grande Lisboa estão numa situação muitíssimo complexa, em que os meios são reutilizados, são reinventados, o esforço humano é dobrado, põem-se mais camas, recorre-se a outros sectores, instalam-se camas de campanha, utilizam-se ventiladores que foram comprados, fazem-se mais testes, inventam-se novas metodologias de fazer rastreio. Mas para tudo há limites, e neste momento os números que enfrentamos são poderosíssimos, com os quais nunca julgámos ver-nos confrontados”.

A estimativa é que esta tendência se vai agravar nos próximos dias”, disse Marta Temido, admitindo que ainda não é possível saber até quando a curva vai crescer.

Governo está a estudar “mecanismos de reforço dos profissionais de saúde"

A ministra da Saúde referiu que há já acordos com várias instituições para apoiar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que têm contribuído para a resposta. Para já há 52 acordos com estabelecimentos do sector privado e social para auxiliar o SNS que correspondem a 850 camas.

Em Lisboa e Vale do Tejo, a zona que neste momento é mais afectada pela pandemia, existem acordos com quatro instituições para apoios a tratamento de doentes com covid-19 e 13 acordos para doentes não covid. Estas ajudas correspondem a cerca de 165 camas, sendo que já estão a ser utilizadas.

“Temos ainda o recurso aos hospitais das Forças Armadas e ao Centro Médico de Belém que, já desde a primeira vaga, nos têm vindo a apoiar”. Este apoio corresponde a cerca de 120 camas.

A ministra avisa também que “as camas, por si só, não funcionam”, estando a ser estudados "mecanismos de reforço dos profissionais de saúde, que podem passar por mecanismos de reforço da sua disponibilidade em termos financeiros”.

Sobre os acordos com privados para o combate à pandemia que ainda estão a ser negociados, Marta Temido disse que essa negociação ainda decorre porque “não há meios disponíveis, adiantando que “não é a requisição civil só por si que resolve o problema”.

“É um equilíbrio muito difícil e estamos a caminhar sobre gelo muito fino”, disse. “Também os operadores privados têm que se reorganizar e articular a sua resposta juntamente com o SNS”.

“Acredito que há disponibilidade para aprofundarmos esse relacionamento. Contudo, também não hesitamos em dizer que se esse aprofundamento não for possível, teremos de tomar medidas extremas. Entre elas a requisição civil”, avisou a ministra.

“Não podemos continuar a lidar com este número de infecções. O sistema de saúde, com todas as suas partes, não aguenta responder”, disse Marta Temido, avisando que os meios disponíveis no país, nomeadamente “a resistência dos profissionais de saúde”, têm limites.

Situação de catástrofe “ainda não está a acontecer, mas estamos próximos que aconteça"

Sobre o aumento do número de mortes, Marta Temido disse que há “aspectos” que devem ser considerados, nomeadamente “o frio agora e o calor no Verão”, um efeito “sobejamente conhecido em termos do impacto na mortalidade”. Além disso, a incidência da letalidade “em faixas etárias muito avançadas” também contribui para essa fatalidade, num conjunto de “situações complexas”.

A ministra da Saúde disse que a situação de medicina de catástrofe “ainda não está a acontecer, mas estamos próximos que aconteça e devemos fazer todos os esforços para evitar que aconteça”.

Na entrevista, Marta Temido foi confrontada com os números avançados pelo PÚBLICO que indicam que 87% dos infectados não foram contactados pelas autoridades de saúde, a ministra da Saúde sublinhou o reforço de pessoas envolvidas na realização dos inquéritos epidemiológicos.

“Neste momento, aumentamos de cerca de 400 os envolvidos nas actividades de rastreio de contactos para mais de 1100”, disse Marta Temido, assumindo que o objectivo é que todos os infectados sejam contactados até 72 horas depois de conhecerem o resultado do teste.

Sobre o adiamento de cirurgias nos hospitais, Marta Temido disse que a decisão só prevê um diferimento de 15 dias, sendo a situação é de tal “dinamismo” que vai sendo avaliada “todos os dias”. Sobre as situações oncológicas, a ministra da Saúde disse que está a ser promovida uma “maior articulação” entre os hospitais e os institutos de oncologia “para que ninguém fique para trás em termos de respostas dos serviços de saúde”.