Reduzir poluição atmosférica poderia evitar 50.000 mortes nas cidades europeias

Entre as quase mil cidades europeias analisadas no estudo, encontram-se 14 portuguesas. Em termos de poluição atmosférica, entre as 14 cidades portuguesas, o Porto tem a pior classificação e Sintra e Viseu têm as melhores.

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Trânsito em Lisboa Diogo Ventura

A redução da poluição atmosférica para os níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) poderia evitar mais de 50.000 mortes por ano em quase mil cidades europeias, segundo um estudo publicado esta quarta-feira na revista científica The Lancet Planetary Health.

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A redução da poluição atmosférica para os níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) poderia evitar mais de 50.000 mortes por ano em quase mil cidades europeias, segundo um estudo publicado esta quarta-feira na revista científica The Lancet Planetary Health.

Realizado por uma equipa internacional de investigadores, o estudo faz uma estimativa do número de mortes prematuras devido a partículas finas e dióxido de azoto em 858 cidades europeias de média e grande dimensão, incluindo 14 cidades portuguesas.

Segundo os dados disponibilizados, das 14 cidades portuguesas a que tem pior classificação em termos de poluição atmosférica é o Porto, na posição 263 (quanto mais perto do topo da lista é a posição maior é a poluição), seguindo-se Setúbal (posição 363) e depois Lisboa (posição 514). As cidades portuguesas com melhores classificações são Sintra (680) e Viseu (801).

Em termos gerais, o estudo indica que com uma poluição atmosférica em níveis inferiores aos recomendados pela OMS poderiam evitar-se 51.213 mortes por ano devido a exposição a partículas finas e 900 mortes por exposição a dióxido de azoto.

As directrizes da OMS estabelecem uma média anual de dez miligramas por metro cúbico para as partículas finas e 40 miligramas por metro cúbico para o dióxido de azoto.

Além de analisarem os níveis recomendados pela OMS, os autores do estudo estimam ainda as mortes evitáveis em cada cidade se os níveis de poluição fossem ainda mais reduzidos, no caso para os níveis mais baixos registados no documento (3,7 mg/m3 para as partículas finas e 3,5mg/m3 para o dióxido de azoto). Neste cenário seriam evitadas ao todo 124.729 mortes associadas às partículas finas e 79.435 associadas ao dióxido de azoto, em cada ano.

Na classificação das cidades europeias, Madrid tem a maior carga de mortalidade associada ao dióxido de azoto (produzido nomeadamente pelos veículos), com 206 mortes evitáveis seguindo os níveis da OMS e 2380 mortes evitáveis seguindo níveis de poluição ainda mais baixos.

Brescia, no Norte de Itália, surge com a maior carga de mortalidade por partículas finas (partículas microscópicas em suspensão no ar que resultam de actividades humanas), 232 mortes em relação aos níveis da OMS e 309 mortes evitáveis segundo padrões mais baixos.

No lado oposto da lista surgem cidades dos países escandinavos, que tiveram a mortalidade mais baixas devido à poluição atmosférica, quer por partículas finas quer por dióxido de azoto.

Tromso (na Noruega) tem a menor carga de mortalidade associada ao dióxido de azoto e Reiquiavique (na Islândia) surge com a menor carga de mortalidade associada às partículas finas. Nas duas cidades não se registaram mortes evitáveis devido à poluição atmosférica em qualquer dos cenários de redução.

A poluição do ar é uma das principais causas ambientais de doença e de morte em todo o mundo, afectando especialmente as cidades. Mark Nieuwenhuijsen, do Instituto de Barcelona para a Saúde Global e um dos autores do estudo, disse, citado na Lancet Planetary Health, que as estimativas “realçam o grave impacto que a poluição atmosférica” tem nos residentes das cidades. “O estudo prova que muitas cidades ainda não estão a fazer o suficiente para combater a poluição atmosférica, e os níveis acima das directrizes da OMS estão a conduzir a mortes desnecessárias.”

Segundo o documento, 84% da população de todas as cidades foi exposta às partículas finas acima das recomendações da OMS e 9% ao dióxido de azoto.

E as mortes em Portugal?

Na área metropolitana do Porto, de acordo com a lista de cidades disponibilizada pela revista, podiam ser evitadas 228 mortes (574 segundo os padrões mais baixos) devido à inalação de partículas finas e uma morte tendo como causa o dióxido de azoto (394 mortes cumprindo padrões mais baixos dos que os da OMS).

Na área metropolitana de Lisboa seriam evitadas 287 mortes (1002 com padrões mais baixos) devido às partículas finas e duas mortes (835 nos padrões mais restritivos) ligadas ao dióxido de azoto.

Cumprindo os padrões da OMS, Viseu não regista mortes, mas com metas mais baixas de poluição seriam evitadas 32 mortes devido às partículas finas e 21 devido ao dióxido de azoto.

No mapa geral das cidades, aparece em primeiro lugar (a mais poluída) Brescia, seguindo-se Bérgamo, outra cidade italiana, depois Karviná, na República Checa, e em quarto lugar outro local de Itália, Vicenza.

No final da tabela, além de Reiquiavique e Tromso surgem como cidades menos poluídas Umea, na Suécia, e Oulu, na Finlândia.

O estudo foi realizado por investigadores do Instituto de Barcelona para a Saúde Global; da Universidade Pompeu Fabra, também em Barcelona; do Centro de Investigação Biomédica em Rede de Epidemiologia e Saúde Pública, em Madrid; da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos; do Instituto Suíço Tropical e de Saúde Pública e da Universidade de Utrecht, nos Países Baixos.