Na luta contra a abstenção, há projectos de jovens que apelam ao voto e simplificam a política

As funções de um Presidente da República e o que cada candidato defende são duas das muitas perguntas respondidas em várias páginas, criadas por jovens, que incentivam a votar e descomplicam a política.

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Pixabay

Conhecer o sistema político português, as funções do chefe de Estado e o que defendem os candidatos às presidenciais de 2021. Tudo isto – e muito mais pode ser conhecido de forma simples e esclarecedora em páginas nas redes sociais e sites apartidários, criados por jovens, que garantem ter informação fidedigna, encontrada, por exemplo, em meios de comunicação e sites do Governo. O P3 seleccionou algumas iniciativas que têm o objectivo de apelar ao voto e de informar, apresentando os candidatos e assuntos políticos de forma imparcial. A ida às urnas está marcada para 24 de Janeiro.

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Conhecer o sistema político português, as funções do chefe de Estado e o que defendem os candidatos às presidenciais de 2021. Tudo isto – e muito mais pode ser conhecido de forma simples e esclarecedora em páginas nas redes sociais e sites apartidários, criados por jovens, que garantem ter informação fidedigna, encontrada, por exemplo, em meios de comunicação e sites do Governo. O P3 seleccionou algumas iniciativas que têm o objectivo de apelar ao voto e de informar, apresentando os candidatos e assuntos políticos de forma imparcial. A ida às urnas está marcada para 24 de Janeiro.

Eu Voto

Apoiada pela Comissão Nacional de Eleições, a plataforma Eu Voto surgiu para explicar política de “forma mais criativa, colorida e simples” sem o recurso a “palavras caras”, diz Vasco Galhardo Simões, de 25 anos, que desenvolveu a ideia com Diogo Marques, de 29 anos.

O movimento surgiu a 10 de Dezembro de 2020, mas na cabeça de Vasco já paira “há pouco mais de dois anos”. O jovem formado em Ciência Política e em Relações Internacionais percebeu que os amigos “não se interessavam pelas eleições, não sabiam quem eram os candidatos, nem tinham interesse” e quis mudar isso. Por “os políticos não falarem para os jovens”, a dupla quis assim “descomplicar” a política de modo a “aproximá-los”. Apesar de a maior parte dos seguidores ter entre 18 a 30 anos, é um espaço “aberto a todos”.

A página de Instagram recebe muitas mensagens e os criadores esclarecem as dúvidas. Recebem frequentemente questões de “pessoas que estão fora e querem saber como podem votar”. O projecto, que conta ainda com uma página no Facebook e um canal no YouTube, tem uma parceria com o Conselho Nacional de Juventude e o apoio da Comunidade, Cultura e Arte.

Politicamente Falando

Nascida em Agosto de 2019, o perfil Politicamente Falando no Instagram “não trata apenas os momentos eleitorais, apresenta uma abrangência um pouco maior” sobre assuntos políticos, explica João Silva, de 23 anos, um dos gestores da página, que partilha com mais 16 pessoas.

O projecto “não exprime opiniões políticas, apenas explica factos políticos”. Além do Instagram, têm dois podcasts: o Dá-me Lume, todas as sextas-feiras, e o No meu tempo é que vai ser com uma regularidade mensal. O primeiro pretende explicar mais detalhadamente “um dos temas abordados no Instagram ao longo da semana”; o segundo tem entrevistas aos “líderes das juventudes partidárias para dar a conhecer formas como os jovens podem participar na vida política”. Ambos estão disponíveis em diversas plataformas, como Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts.

O público-alvo é a população jovem, “a dar os ‘primeiros passos’ no que é política”, mas não excluem nenhuma faixa etária – é para todos os que querem “aprofundar os seus conhecimentos”. A ideia deste projecto partiu de Raquel Lopes, de 23 anos, que espera assim ajudar a criar “uma geração informada, consciente e não apática”. O objectivo, diz João, é “descomplicar, simplificar e contar a política e os eventos políticos” nacionais e internacionais.

Todos os elementos têm formação em Comunicação ou Ciência Política, com idades entre os 19 e os 24. Está prevista a criação de um site até ao final de Março.

Política (NÃO) Importa

Com o intuito de “lutar contra a abstenção jovem”, a página Política (NÃO) Importa – criada a Setembro de 2020, no Instagram tem por detrás 15 jovens, alguns deles entre os 19 e os 23 anos e com formação em Relações Internacionais e Comunicação.

Perceberam que precisavam de ter no grupo pessoas “de diferentes regiões, diferentes contextos académicos e diferentes interesses na política” e contam com “jovens embaixadores”, tal como lhes chamam. São jovens que levam este projecto para escolas secundárias, associações juvenis ou faculdades de norte a sul do país para sessões de conversas, actividades e exposições presenciais, de forma a “desmistificar a complexidade do assunto”, explica Simão Pedro, de 21 anos, de quem partiu a ideia.

Tendo como público-alvo os jovens entre os 17 e os 19 anos, aqueles que estão a “iniciar a sua participação política e cívica”, a página quer mostrar-lhes “a importância de se fazerem ouvir”.

Descompolitica-te

Quatro amigos, entre os 23 e os 26 anos, formados em Engenharia Informática, Civil e Electrotécnica e de Computadores, juntaram-se para criar a página Descompolitica-te​, a 16 de Novembro de 2020, no Instagram. Para “descomplicar a política no geral e as eleições presidenciais aí à porta”, a equipa aposta “em analogias para que seja mais fácil captar o público e estimular o gosto pela política”, como é o caso de associar o sistema político português a uma casa e explorar os diferentes cantos dela.

Bruno Mota da Silva, de 24 anos, percebeu que os amigos “não se sentiam à vontade para discutir política, porque não conheciam e achavam que era uma seca”. Assim, desafiou três amigos para criar o projecto.

O grupo quer mostrar aos mais jovens e aos mais “desligados do assunto” que a política não é “um bicho de sete cabeças” e esperam que o mais difícil da página seja pronunciar o nome da mesma. “Se conseguirmos roubar um voto à abstenção, já ganhamos o dia”, referem numa publicação.

Luz Política

Por ver tanta gente à volta “a não saber coisas tão simples e importantes e a não darem a oportunidade de formar a sua própria opinião e ouvirem várias vozes diferentes”, Daniela Polícia, de 22 anos, juntou mais seis amigos, entre os 22 e os 32 anos, de áreas como Comunicação, Direito e Negócios Internacionais, para criar uma plataforma que promova “a literacia política”. Assim, nasceu a Luz Política.

O projecto, que surgiu a 1 de Julho de 2020, foca-se nos jovens, “porque é a faixa etária onde existe os maiores níveis de abstenção e desinteresse”, mas acaba por ser uma iniciativa “de todos para todos”, alargado a qualquer idade.

Além do site, que tem conteúdos mais aprofundados sobre política que inclui as eleições presidenciais , o projecto conta ainda com páginas no Instagram, Facebook e YouTube, onde têm sido publicados vídeos sobre assuntos “mais difíceis e ‘chatos’ de explicar por escrito”, por exemplo, sobre o Orçamento de Estado. Na mesma lógica surgiu, em Setembro, o podcast Luz de Presença, com regularidade mensal, onde participam especialistas, figuras políticas e actores sociais de várias áreas para que “qualquer um [dos ouvintes] se sinta mais iluminado e próximo do tema”. Está disponível no Spotify e no Soundcloud.

Cresce e Aparece

O Cresce e Aparece surgiu a 25 de Novembro por um grupo de 13 amigos de diversas áreas como Direito, Ciência Política e Engenharia. O projecto nasceu da necessidade de “informar os outros e puxar pelo dever cívico do voto para que não haja abstenção”, além de os próprios criadores quererem “aprender mais”. Além disso, a equipa já foi à rua apelar ao voto, distribuiu panfletos e realizou algumas entrevistas. É uma página no Instagram que, apesar de ter um “ar jovial”, quer “atingir todas as faixas etárias”, como indica Benedita Magalhães, de 22 anos, responsável pela criação do projecto.

Os 230

Francisco Cordeiro de Araújo, de 23 anos e estudante de Direito Internacional, quer entrevistar os 230 deputados da Assembleia da República para dar a conhecer quem são as pessoas por detrás dos partidos. Para as presidenciais de 2021, o jovem está a lançar uma entrevista de cada candidato. “Quando estivermos a votar nas próximas eleições, saberemos mais em quem estamos a votar”, disse ao PÚBLICO, em Novembro. Até ao momento, no canal de YouTube estão disponíveis as entrevistas a Marisa Matias, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva.

Política de bolso

Criada no Instagram por Andreia Carvalho da Silva, freelancer em criação de conteúdos digitais, a página Política de Bolso tenta “explicar, sem demasiados rodeios, a praticabilidade da política”, diz a criadora ao P3. “A educação política é uma das maiores lacunas na educação pública”, considera a jovem, que através de posts gráficos e visuais revela “a política explicada e descomplicada”.

Civis

​A Civis é uma associação juvenil fundada em Dezembro de 2020 por Hermínio Alves, estudante de Ciência Política na Universidade do Minho. E quer “fomentar a participação de jovens cujas idades se encontrem entre os 8 e os 30 anos na actividade política, demonstrando a importância de uma vida activa na comunidade, assim como promover o voto eleitoral, regendo-se pela imparcialidade”, conta o jovem ao P3. Por isso, a associação, composta por “membros com visões política, por vezes, diametralmente diferentes”, acompanhou os debates presidenciais no Instagram e no Facebook, “desconstruindo a retórica dos participantes”, mas também partilhando sínteses das conversas mais tarde. Agora, continua a fornecer informações sobre os candidatos e o acto eleitoral.

Podcast Conversa

Da autoria de Cláudio Fonseca, de 25 anos, o Podcast Conversa já soma uns anos a “desmistificar” a política “não é um discurso simplista, mas simplificado”, sublinha ao P3 o jovem, formado em História, actualmente a frequentar o mestrado em Ciência Política.

Nestas eleições, à semelhança do que já fizera noutras, Cláudio acompanhou os debates, gravando análises nas próprias noites, e entrevistou alguns dos candidatos, apelando aos ouvintes que enviassem as suas próprias questões. É um “projecto de cidadania” e apartidário, garante o estudante, que recentemente se filiou na Iniciativa Liberal. Esta semana fez ainda um vídeo de apelo ao voto, com os contributos de alguns dos seguidores. “Porque”, diz, “os jovens têm de se mobilizar também, senão teremos uma geração perdida”. Com AR

Texto editado por Amanda Ribeiro