Jorge Mendes não é, afinal, empresário de João Almeida. “A polémica é ridícula”
Contactado pelo PÚBLICO, João Correia – que representa, entre outros, o ciclista português João Almeida – garante que em momento algum se falou da entrada de Mendes no agenciamento desportivo de ciclistas.
Os últimos dias colocaram o super-agente Jorge Mendes na berlinda, com um renomado director-desportivo no mundo do ciclismo a recusar de forma taxativa e contundente a entrada do empresário português no agenciamento de ciclistas.
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Os últimos dias colocaram o super-agente Jorge Mendes na berlinda, com um renomado director-desportivo no mundo do ciclismo a recusar de forma taxativa e contundente a entrada do empresário português no agenciamento de ciclistas.
Em causa está a parceria entre a Polaris, empresa de Jorge Mendes, e a Corso, entidade que gere a carreira de ciclistas como João Almeida, Rúben Guerreiro ou mesmo os titulados Tao Geoghegan Hart, actual campeão da Volta a Itália, ou Mads Pedersen, campeão do mundo em 2019.
Marc Madiot, director-desportivo da Groupama-FDJ, equipa do World Tour, foi confrontado como uma suposta incursão de Jorge Mendes no ciclismo. E revoltou-se.
“Não queremos nenhum Jorge Mendes no ciclismo, que fique em Portugal com os seus futebolistas”, disse à RMC. E acrescentou: “O Jorge Mendes não vai ganhar no ciclismo o que ganha no futebol. Acredito que, a determinado momento, vai querer aproveitar-se do ciclismo e isso seria perigoso. Se Mendes é agente do João Almeida, então o Almeida nunca virá para a minha equipa”.
“Foi um engano e a polémica é ridícula”
Contactado pelo PÚBLICO, João Correia, um dos fundadores e directores da Corso, que representa, entre outros, o português João Almeida, definiu esta polémica como “ridícula” – diz até que começou a rir quando leu as palavras de Marc Madiot –, e garante que em momento algum se falou da entrada de Mendes no agenciamento desportivo de ciclistas.
“Foi feita uma polémica sobre algo que nem foi uma possibilidade. Foi um engano e tem havido uma grande confusão, porque as pessoas não se informaram e interpretaram mal o que foi anunciado”.
E o que foi anunciado, explica, foi uma parceria entre a Corso e a Polaris para a vertente comercial. “É simples. Foi feito um acordo comercial para que os nossos atletas tenham acesso ao mercado comercial português. Nós [Corso] não temos conhecimento nessa área, mas a Polaris tem e pode ajudar a explorar o mercado publicitário português”.
“Mas nós é que tratamos da parte atlética e desportiva dos atletas”, acrescentou, detalhando que se trata, mais do que qualquer outra coisa, de capitalizar no marketing e na publicidade o mediatismo que ciclistas como João Almeida e Rúben Guerreiro ganharam em Portugal em 2020.
De resto, esta explicação vai ao encontro da comunicação oficial da Polaris, que também fala de uma parceria comercial. “É um acordo de parceria que visa optimizar as perspectivas comerciais dos atletas portugueses que a Corso integra como clientes”, diz a empresa que gere a vertente comercial de atletas como Cristiano Ronaldo, João Félix, Fernando Pimenta, Bernardo Silva, Pepe, Frederico Morais, João Sousa ou Patrícia Mamona.
Ainda sobre Jorge Mendes, João Correia acrescenta mesmo que não acredita sequer que o agente pudesse pensar em entrar em cena na vertente desportiva do ciclismo.
“O ciclismo é super pequeno. É um mercado que não existe. Se compararmos com o futebol, o ciclismo é como uma “feira da vila”. Não gera o dinheiro do futebol, do basquetebol, do basebol ou do futebol americano. Mas garanto-lhe: o ciclismo deveria ter mais pessoas capazes como o Jorge Mendes”, argumentou.
E disse, em tom de brincadeira, confrontado com o epíteto de “Jorge Mendes do ciclismo”, que ganha “menos três zeros” do que o super-agente. “Quem me dera ir eu para o futebol e ele para o ciclismo”, gracejou.
“Um fact-checking teria evitado esta questão”
Voltando à polémica com Marc Madiot, cujas palavras tiveram grande repercussão na imprensa nacional e estrangeira e em sites especializados em ciclismo, João Correia foi claro: “Foi uma palhaçada”.
O empresário considera que a questão foi colocada de forma errada por parte da imprensa que confrontou Madiot e que o francês respondeu à pergunta sem estar a par dos dados todos. “Um simples fact-checking por parte dos jornalistas teria evitado esta questão”, apontou, remetendo para o comunicado da Polaris.
Apesar de atribuir alguma responsabilidade à imprensa, não deixou Marc Madiot sem resposta. “Ele disse que não contrataria os meus ciclistas, mas eu, que sou o representante deles, garanto que nenhum tem interesse em transferir-se para essa equipa [Groupama]. O Tao [Geoghegan Hart] e o Mads [Pedersen] têm contratos com as suas equipas, enquanto o João [Almeida] e o Rúben [Guerreiro] acabam contratos neste ano, mas nunca foi falada a possibilidade de irem para a Groupama”.
Concretamente sobre João Almeida, cujo desempenho no Giro 2020 o colocou na ribalta, João Correia avançou que o português “gosta da Deceuninck e quer ficar”, mas que “há a possibilidade de ele sair”. “O João está no mercado”, disparou.
Mercado que não será, segundo a Corso e a Polaris, gerido por Jorge Mendes. Até ver, o super-agente trabalha noutros domínios – bem mais lucrativos.