Já votei. Sem dia de reflexão e quando a campanha ia a meio
Vim para a casa a pensar que foi preciso uma pandemia para me mostrar como tudo isto está, de facto, obsoleto.
Votei esta manhã, 17 de Janeiro, uma semana antes da data oficial das eleições. Inscrevi-me antecipadamente como quase 250 mil portugueses. Desloquei-me a um pavilhão desportivo, a cinco quilómetros de casa, quando costumo votar numa escola que fica a menos de um quilómetro. Nunca tinha votado antes de tempo e fi-lo sem outro motivo que não fosse a pandemia.
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Votei esta manhã, 17 de Janeiro, uma semana antes da data oficial das eleições. Inscrevi-me antecipadamente como quase 250 mil portugueses. Desloquei-me a um pavilhão desportivo, a cinco quilómetros de casa, quando costumo votar numa escola que fica a menos de um quilómetro. Nunca tinha votado antes de tempo e fi-lo sem outro motivo que não fosse a pandemia.
Tinha trinta pessoas na rua à minha frente, mas acabei por passar à frente de quase todas porque a minha mesa (a número nove) não tinha fila de espera que justificasse os eleitores aguardarem ao frio. À entrada, a primeira diferença: uma pessoa a indicar-me o caminho, a explicar-me que é preciso respeitar as marcas no chão que indicam a distância de segurança e a apontar-me o álcool gel para desinfectar as mãos. Lá dentro, esperei que meia dúzia de eleitores votasse antes de mim.
Quando chegou a minha vez, percebi a segunda diferença: além do boletim com oito candidatos (incluindo um que não foi validado), recebi um envelope branco para colocar o voto e outro azul, endereçado à Junta de Freguesia, para meter o primeiro envelope. Votei com a minha caneta, depois de a cabine ter sido desinfectada. Voltei e... terceira diferença: tive direito a um certificado a explicar que já exerci o direito de voto antecipado nas eleições presidenciais de 2021.
Saí por um percurso diferente daquele por onde entrei (haver circuitos distintos para entrar e sair é outra novidade destas eleições) e nunca estive mais de 15 minutos a menos de dois metros de distância de ninguém. Aliás, despachei-me em 20 minutos, sem nunca ter sentido que corri riscos. As nove mesas de voto, cada uma com cinco pessoas, estavam muito distanciadas, não havia ninguém sem máscara (mais uma diferença) e não precisei de tocar ou falar com ninguém para pedir indicações ou reclamar. Foi uma experiência positiva. Não me arrependo. Saí a pensar: votar é seguro.
Cá fora, a fila estava agora muito mais longa. As trinta pessoas tinham duplicado, mas o vendedor de castanhas assadas continuava com afluência mais reduzida do que as mesas de voto. Não parecia dia de confinamento, parecia dia de eleições.
Não deixo de notar aqui duas incongruências, uma delas insanável: 1) não tive dia de reflexão, esse bicho papão que impede a comunicação social de publicar notícias e os políticos de fazerem comentários sobre as eleições no dia anterior ao acto eleitoral e 2) a campanha vai continuar e quem já votou fê-lo com menos uma semana de esclarecimentos, cartazes, tempos de antena, entrevistas e debates. Vim para a casa a pensar que foi preciso uma pandemia para me mostrar como tudo isto está, de facto, obsoleto.