Vivemos da memória
Poucas coisas são tão perturbadoras como pensar que um dia posso olhar para os meus filhos e não saber quem são. Pudéssemos nós escolher e garanto que optaria por suportar a dor física e uma morte mais precoce do que saber-me morrer muito antes do meu corpo.
A noite já tinha caído quando o meu tio, entre o cansaço e a preocupação, saiu para procurá-la. Encontrou-a em menos de dez minutos, relativamente perto de casa, mas incapaz de encontrar o caminho para voltar. Estava perdida na terra que a tinha visto nascer, às portas do bairro onde sempre viveu. Ele chamou-a e, com carinho, ajudou-a a entrar no carro. Sentiu-lhe a pele gelada e reparou que não existiam sacos com as compras que ela tinha saído para fazer, na mercearia a poucos metros de casa, há bem mais de três horas.
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A noite já tinha caído quando o meu tio, entre o cansaço e a preocupação, saiu para procurá-la. Encontrou-a em menos de dez minutos, relativamente perto de casa, mas incapaz de encontrar o caminho para voltar. Estava perdida na terra que a tinha visto nascer, às portas do bairro onde sempre viveu. Ele chamou-a e, com carinho, ajudou-a a entrar no carro. Sentiu-lhe a pele gelada e reparou que não existiam sacos com as compras que ela tinha saído para fazer, na mercearia a poucos metros de casa, há bem mais de três horas.