Don DeLillo: “Estamos a tornar-nos vítimas da tecnologia de uma maneira mental e filosófica”
Esta conversa foi uma corrida contra a fraqueza da voz de Don DeLillo: falar o mais possível antes que ela deixasse de ser audível, sabendo que meia hora seria o limite. Durou 32 minutos até que um som quase imperceptível pedisse desculpa. “Foi óptimo, mas só sai silêncio agora”. O motivo da entrevista foi o último romance de um dos mais criativos e influentes escritores em língua inglesa, várias vezes apontado como um dos possíveis vencedores do Nobel.
É um livro breve, mais uma novela do que um romance, se quisermos ser precisos. Chama-se O Silêncio e fala de um apagão global. “Naquele dia, o dia do Super Bowl LVI, no ano de 2022, Diane estava sentada na cadeira de balouço, a metro e meio de Max, e entre eles e atrás deles encontrava-se Martin, antigo aluno dela, trinta e poucos anos, ligeiramente curvado para diante, numa cadeira da cozinha”. Diane Lucas era uma professora de Física reformada, casada há 37 anos com Max Stenner, apostador, fanático de baseball, e Martin Dekker, mais novo, estudante compulsivo de Einstein que cita a propósito de quase tudo. Os três esperavam um casal de amigos, Jim e Tessa Berens, que chegam de umas férias em Paris. Estão fixados nos dados do monitor em frente, distraídos e a calcular se chegam ou não a tempo do início do jogo. Ela toma notas, ele faz conversa de circunstância até que, sem saberem uns dos outros, os que estão no apartamento no Upper East Side e os que voam, ficam com os ecrãs em branco. Em todo o lado instala-se a perplexidade do silêncio.