Covid-19: oito meses depois das valas comuns, Manaus volta a viver momentos dramáticos

O Brasil está a entrar de forma acelerada na segunda vaga da pandemia, depois das semanas festivas em que muita gente se deslocou às praias.

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Só nos primeiros 14 dias do ano houve mais mortes em Manaus do que no pior mês do ano passado BRUNO KELLY / Reuters

Há pouco mais de meio ano, vinham de Manaus algumas das imagens mais chocantes da pandemia da covid-19 no Brasil. A maior cidade da Amazónia volta agora a ser um dos locais mais castigados pela segunda vaga da pandemia, fortalecida com uma ainda desconhecida nova variante do vírus.

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Há pouco mais de meio ano, vinham de Manaus algumas das imagens mais chocantes da pandemia da covid-19 no Brasil. A maior cidade da Amazónia volta agora a ser um dos locais mais castigados pela segunda vaga da pandemia, fortalecida com uma ainda desconhecida nova variante do vírus.

A propagação do novo coronavírus pela cidade de dois milhões de habitantes está a esgotar rapidamente a capacidade hospitalar da rede local. Só nos primeiros 12 dias do ano, Manaus registou 2221 novas hospitalizações, que é um número que supera os internamentos durante todo o mês de Abril, quando se verificou o pico durante a primeira vaga.

Só na quarta-feira foram sepultadas 198 pessoas na cidade, superando o recorde de 26 de Abril do ano passado, quando 167 pessoas foram enterradas, obrigando à abertura de valas comuns por falta de espaço nos cemitérios, de acordo com o site Amazonas Atual.

No início desta semana, a taxa de ocupação da rede pública e privada superava os 90%, diz a Folha de São Paulo. Para além de falta de camas para internamento, os hospitais também relatam a falta de oxigénio e os profissionais de saúde vivem momentos tão ou mais dramáticos do que na primeira vaga.

“Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes”, diz à Folha o investigador da Fundação Oswaldo Cruz da Amazónia, Jesem Orellana. Sem oxigénio para socorrer os doentes com falhas respiratórias, os hospitais tornaram-se “câmaras de asfixia”, afirma o especialista. De acordo com o site G1, o governo estadual está a receber cilindros de oxigénio de outros estados.

No Hospital 28 de Agosto, um médico descreveu, sob anonimato, “um cenário de guerra com soldados cansados”. Esta quinta-feira, já começaram a ser transferidos doentes para hospitais noutros estados por avião.

A situação grave vivida em Manaus levou as autoridades locais a cancelar a realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), de acesso ao ensino superior. “Seria uma temeridade abrir as escolas no momento em que nós estamos”, disse o presidente da Câmara Municipal, David Almeida.

O governador Wilson Lima decretou o recolhimento obrigatório em Manaus entre as 19 horas e as 6 horas a partir desta quinta-feira.

Um dos aparentes motivos para o crescimento acelerado dos contágios nesta região é o aparecimento de uma nova estirpe do vírus SARS-CoV-2 detectada pela primeira vez no Japão, mas que circula na Amazónia. Ainda há muito por estudar em relação a esta variante do vírus, mas os especialistas suspeitam que a mutação encontrada poderá torná-lo mais contagioso.

Crescimento em São Paulo

Também em São Paulo, cidade mais populosa do Brasil, os números de casos, internamentos e mortes causados pela covid-19 estão a disparar como resultado das deslocações de pessoas durante o período festivo do final do ano. No Brasil, o Natal e o fim de ano coincidem com o pico das férias de Verão, e muita gente aproveita essa altura para sair das cidades para o litoral.

Nas últimas duas semanas, os internamentos subiram 19% e a taxa actual de ocupação das camas hospitalares está em torno dos 66%, segundo a Folha de São Paulo. O número de mortes causadas pela pandemia quase duplicou nas duas últimas semanas na cidade – morreram 827 pessoas entre 29 de Dezembro e 12 de Janeiro.

Os especialistas receiam um novo período de enorme pressão para os hospitais paulistas. “É uma bomba que a gente estava esperando. Se continuar alto assim, comprometeremos Fevereiro também com hospitais lotados e alta de casos mesmo com a vacinação”, disse o professor da Universidade Estadual Paulista, Wallace Casaca.

Ao todo, morreram mais de 206 mil pessoas e mais de oito milhões foram infectadas desde o início da pandemia no Brasil.