Em Julho do ano passado, a propósito da compilação Sinceramente Porto com que Keso dava seguimento ao ressurgir do hip-hop feito na cidade dos Mind Da Gap e dos Dealema (é de lá que têm saído alguns dos melhores trabalhos do rap português do último par de anos: Bug, Zé Menos, ActivaSom), um disco duplo com muitos e muito diferentes convidados, destacávamos o espantoso tema de um então semi-desconhecido. Algodão Doce apresentava Roke como uma nova voz, mais do que do rap portuense, de todo o rap português, no sentido em que o colocava imediatamente no mapa tais eram os méritos aplicados na exploração tímbrica da voz, a agudeza poética e a mestria de a saber jogar com aquilo que o instrumental pedia. Nem um ano volvido e a confirmação está aí: Shaitan — termo islâmico para o diabo ou espíritos malignos —, embora curto na sua duração, vem mostrar que Algodão Doce não foi, de todo, golpe de asa único. Não é esta, diga-se, uma estreia para Roke, que, longe de ser novato no circuito, vem desde 2008 lançando trabalhos em formato essencialmente digital (maquetas, EP, mixtapes, muitos deles entretanto retirados da net), mas o que a sua audição revelava tem agora em Shaitan justamente o seu contraponto: onde nesses trabalhos a sonoridade instrumental se dispersava e impedia a emersão de uma marca ou identidade clara (com evidente prejuízo para o texto, que se ressentia e muito da carência de uma linha sonora coesa, aí residindo, de resto, uma das grandes pechas da esmagadora maioria do rap contemporâneo, discos que são uma espécie de salada-de-fruta, “ecléctica” dizem, para agradar a toda a freguesia), o novo EP, beneficiando de um trabalho de produção exclusivamente concebido para o efeito, constitui-se num objecto sólido e cheio de personalidade.
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Em Julho do ano passado, a propósito da compilação Sinceramente Porto com que Keso dava seguimento ao ressurgir do hip-hop feito na cidade dos Mind Da Gap e dos Dealema (é de lá que têm saído alguns dos melhores trabalhos do rap português do último par de anos: Bug, Zé Menos, ActivaSom), um disco duplo com muitos e muito diferentes convidados, destacávamos o espantoso tema de um então semi-desconhecido. Algodão Doce apresentava Roke como uma nova voz, mais do que do rap portuense, de todo o rap português, no sentido em que o colocava imediatamente no mapa tais eram os méritos aplicados na exploração tímbrica da voz, a agudeza poética e a mestria de a saber jogar com aquilo que o instrumental pedia. Nem um ano volvido e a confirmação está aí: Shaitan — termo islâmico para o diabo ou espíritos malignos —, embora curto na sua duração, vem mostrar que Algodão Doce não foi, de todo, golpe de asa único. Não é esta, diga-se, uma estreia para Roke, que, longe de ser novato no circuito, vem desde 2008 lançando trabalhos em formato essencialmente digital (maquetas, EP, mixtapes, muitos deles entretanto retirados da net), mas o que a sua audição revelava tem agora em Shaitan justamente o seu contraponto: onde nesses trabalhos a sonoridade instrumental se dispersava e impedia a emersão de uma marca ou identidade clara (com evidente prejuízo para o texto, que se ressentia e muito da carência de uma linha sonora coesa, aí residindo, de resto, uma das grandes pechas da esmagadora maioria do rap contemporâneo, discos que são uma espécie de salada-de-fruta, “ecléctica” dizem, para agradar a toda a freguesia), o novo EP, beneficiando de um trabalho de produção exclusivamente concebido para o efeito, constitui-se num objecto sólido e cheio de personalidade.