Um dos ensaios de As Lentas Lições do Corpo de Luís Fernandes

Chega nesta quinta-feira às livrarias As Lentas Lições do Corpo (ed. Comtraponto), o novo livro do psicólogo e professor universitário Luís Fernandes, o também poeta João Habitualmente, que anos depois de perder a visão tirou um curso de massagem terapêutica. Voltar a ver parte do mundo através das mãos foi a inspiração para este conjunto de ensaios sobre a relação corpo-mente. Este capítulo intitula-se O Barbeiro que matava lombrigas I.

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PBC PEDRO CUNHA

Santo Ovídeo, era eu criança ainda, era pouco menos do que aquilo que é hoje: um pequeno centro perto do eixo de Gaia para onde convergem automóveis na confusão de uma rotunda e uma série de lojas do comércio tradicional que formigam de gente durante a manhã. Estava um dia com minha mãe numa destas lojas quando se passou um facto extraordinário. Era uma dessas lojas que a massificação das cidades globais e a obsessão higienista ainda não acabaram de exterminar: legumes à entrada, brócolos e couves-flor a espreitar rentes à rua, sorvendo impávidas o gasóleo queimado que as camionetas de passageiros iam largando ao subir a ladeira. Mais para dentro, caixas com fruta, tabuleiros de latão lacado com sardinha e carapau, frascos retangulares de vidro com chupa -chupas, uma fita cola-moscas pendente do teto. E mais para o fundo ainda uma cadeira de barbeiro, barbas e cabelo para cabeças pouco exigentes.

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Santo Ovídeo, era eu criança ainda, era pouco menos do que aquilo que é hoje: um pequeno centro perto do eixo de Gaia para onde convergem automóveis na confusão de uma rotunda e uma série de lojas do comércio tradicional que formigam de gente durante a manhã. Estava um dia com minha mãe numa destas lojas quando se passou um facto extraordinário. Era uma dessas lojas que a massificação das cidades globais e a obsessão higienista ainda não acabaram de exterminar: legumes à entrada, brócolos e couves-flor a espreitar rentes à rua, sorvendo impávidas o gasóleo queimado que as camionetas de passageiros iam largando ao subir a ladeira. Mais para dentro, caixas com fruta, tabuleiros de latão lacado com sardinha e carapau, frascos retangulares de vidro com chupa -chupas, uma fita cola-moscas pendente do teto. E mais para o fundo ainda uma cadeira de barbeiro, barbas e cabelo para cabeças pouco exigentes.