Hospitais da Grande Lisboa aumentam camas para doentes covid. Alguns acima do que previa o plano de contingência
Nos hospitais Amadora-Sintra e Garcia de Orta o número de camas ocupadas já é superior ao que estava inicialmente previsto nos planos de contingência. Procura nas urgências também cresceu.
Cresce a pressão sobre os hospitais da Grande Lisboa. Desde o início do ano as unidades estão a registar maior afluência às urgências, elevando os tempos de espera, e o número de doentes com covid-19 a precisar de internamento também está a subir de dia para dia. Nos hospitais Amadora-Sintra e Garcia de Orta (Almada), por exemplo, o número de camas disponíveis para internar pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 já é superior ao que estava inicialmente previsto nos planos de contingência.
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Cresce a pressão sobre os hospitais da Grande Lisboa. Desde o início do ano as unidades estão a registar maior afluência às urgências, elevando os tempos de espera, e o número de doentes com covid-19 a precisar de internamento também está a subir de dia para dia. Nos hospitais Amadora-Sintra e Garcia de Orta (Almada), por exemplo, o número de camas disponíveis para internar pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 já é superior ao que estava inicialmente previsto nos planos de contingência.
No caso do Hospital Amadora-Sintra, o acréscimo de camas dedicadas à covid-19 verificou-se na quarta-feira da semana passada, “com mais 30 camas que reforçaram as 120 camas previstas no último nível do plano de contingência”. “Ontem [terça-feira] estavam ocupadas 149 camas, hoje tínhamos 163 doentes covid internados”, disse fonte da unidade, explicando que um paciente ia ser transferido. Já no fim-de-semana cinco doentes com covid-19 foram encaminhados para uma unidade no Porto, nessa altura “de forma preventiva, prevendo-se que pudesse haver um acréscimo de necessidades esta semana”. Também em cuidados intensivos houve um acréscimo de mais duas camas, passando a ser 22. Segundo o hospital, apenas uma está vaga.
Também na urgência se “sente muita pressão”, com “uma forte afluência desde o primeiro fim-de-semana do ano”. Em Outubro a média de episódios de urgência estava nos 358. “A média desta semana está nos 477”, refere a mesma fonte, referindo que uma grande parte dos doentes são triados com pulseiras verdes e azuis, ou seja, são situações de doentes que não deveriam estar a recorrer aos hospitais, aumentando a pressão, e acabando por esperar longas horas. Desde as 12h desta quarta-feira que a urgência do Hospital Amadora-Sintra não está a receber doentes via 112, que são encaminhados pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes para outras unidades.
Também o Hospital Garcia de Orta (HGO) vive um cenário de grande pressão, dando conta de “uma sobrelotação da área dedicada à assistência a doentes covid-19”. “Tal facto leva a que os doentes aguardem no interior das ambulâncias para observação clínica”, disse ao PÚBLICO fonte do hospital. Para responder à situação, “as equipas do serviço de urgência do HGO estão a promover uma abordagem clínica dinâmica, em que os profissionais, quando necessário, realizam uma pré-avaliação clínica aos doentes que aguardam em ambulância”. O hospital “prevê ter esta situação resolvida até ao final de Janeiro”, com a expansão da Área Dedicada ao Atendimento de Doentes Respiratórios (ADR).
Entre as medidas que consideram fundamentais para aliviar a situação estão o alargamento dos horários dos ADR dos centros de saúde, que só estão abertos até às 18h, e a diminuição da referenciação de doentes não urgentes/emergentes para o hospital pelo SNS24.
Em resposta ao PÚBLICO, o INEM explica que “devido ao aumento dos números da pandemia de covid-19 e, muito possivelmente, à vaga de frio que se tem feito sentir, tem existido um pico anormalmente elevado de procura dos serviços de urgência que afecta praticamente todas as unidades hospitalares do país, com uma grande pressão nos serviços e afectando a sua capacidade de resposta”. “Por esta razão, verifica-se que as ambulâncias, em determinadas situações, não conseguem entregar os doentes nos serviços de urgência com a celeridade desejável e fiquem retidas durante períodos mais ou menos longos nos serviços de urgência”, refere ainda.
Ainda em relação ao Hospital Garcia de Orta, mas no que diz respeito aos internamentos para doentes com covid-19, as 155 camas que tem disponíveis estão todas ocupadas, com 136 doentes em enfermaria, 18 em cuidados intensivos e um em hospitalização domiciliária (UHD). O hospital explicou, em comunicado, que as 155 camas, que representam perto de 30% do total de camas de doentes agudos, resultam de um acréscimo feito na terça-feira de mais 16 camas de enfermaria que antes eram para doentes não-covid e mais quatro camas de cuidados intensivos desde o dia 8.
Desde dia 12 “não tem existido disponibilidade de vagas para transferir doentes do HGO positivos para a covid-19”, disse ainda a unidade, lembrando que já foram transferidos doentes para vários hospitais do Norte e da região de Lisboa. No início do mês, o Garcia de Orta tinha dito ao PÚBLICO que estava no nível 3 do plano de contingência e que este “previa inicialmente um total de 66 camas em enfermaria e nove de cuidados intensivos, destinadas a doentes positivos para SARS-CoV-2”.
Mais 50 camas no Santa Maria
O Centro Hospitalar Lisboa Norte, que tem 198 internados com covid-19, 42 dos quais em unidade de cuidados intensivos (UCI), “aumentou 50 vagas ao seu plano para internamento covid, passando de 160 para um total de 210 camas, das quais 48 são em UCI”. “Um plano adaptativo, que antecipa necessidades a curto/médio prazo, e que é acompanhado também pela criação de vagas para doentes não-covid”, explica o centro hospitalar, que refere que “esta é uma fase de grande pressão assistencial, seja nas urgências ou nos internamentos covid e não-covid, pressão que se intensificou nas duas últimas semanas”.
“A expansão do plano de contingência do CHLN, enquanto unidade de referência e hospital de última linha que assegura sempre cuidados ao doente emergente, tem precisamente como objectivo dar resposta a essa pressão que se coloca em toda a região de Lisboa, tendo recebido nos últimos dias doentes de outros hospitais”, acrescenta o centro hospitalar, do qual fazem parte os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente.
Já o Centro Hospitalar Lisboa Central (do qual fazem parte o S. José, Curry Cabral e Dona Estefânia) registava às 14h desta quarta-feira 232 internamentos de doentes com covid-19, mais nove doentes do que os registados às 00h00. Destes, 192 estavam em enfermaria (mais cinco que às 00h00) e 40 em cuidados intensivos (um acréscimo de quatro). Registaram-se seis óbitos até às 0h00 desta quarta-feira.
Para covid-19, a lotação do centro hospitalar é, de momento, de 246 camas, das quais 196 camas de adultos, seis camas em pediatria e 44 camas em cuidados intensivos. “[No que diz respeito às urgências,] não temos doentes à espera de triagem à porta, dentro de ambulâncias”, afirma o centro hospitalar, dando exemplos do número de episódios de urgência que tem registado nos últimos dias. Na última segunda-feira foram 516, o valor mais alto desde o dia 3 de Janeiro, mas na terça-feira este número esteve nos 459.
Já o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (Hospital S. Francisco Xavier, Hospital Egas Moniz e Hospital de Santa Cruz) adianta estar a “conseguir dar resposta à procura da urgência covid”. Quanto a doentes internados, em enfermaria estão 93, havendo ainda sete camas disponíveis, e em cuidados intensivos 29 e quatro camas disponíveis.