Lisboa pondera abertura de hospital de campanha para aliviar pressão nas unidades do SNS

No Algarve, hospital de campanha montado no Pavilhão Arena é coordenado pela administradora do centro hospitalar que é médica e fez três turnos seguidos de 24 horas.

Foto
Em Março foi montado um hospital de campanha nos pavilhões do Estádio Universitário em Lisboa Miguel Manso

No dia em que foi ultrapassada pela primeira vez a fronteira dos quatro mil doentes com covid-19 internados nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), quase seis centenas dos quais em cuidados intensivos, o cenário é muito complicado, há transferências de doentes e reconversão de enfermarias, as urgências acusam uma pressão crescente e as unidades já se preparam para o agravamento da situação nas próximas semanas. Em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) está mesmo a ser ponderada a abertura do hospital de campanha que está montado desde Junho no estádio universitário mas que ainda não foi utilizado.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No dia em que foi ultrapassada pela primeira vez a fronteira dos quatro mil doentes com covid-19 internados nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), quase seis centenas dos quais em cuidados intensivos, o cenário é muito complicado, há transferências de doentes e reconversão de enfermarias, as urgências acusam uma pressão crescente e as unidades já se preparam para o agravamento da situação nas próximas semanas. Em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) está mesmo a ser ponderada a abertura do hospital de campanha que está montado desde Junho no estádio universitário mas que ainda não foi utilizado.

Um passo que já foi dado no Algarve, onde o hospital de campanha montado no Pavilhão Arena (Portimão) já tinha esta terça-feira 11 doentes e está preperado para receber muitos mais. Coordenado pela presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário local (CHUA), a médica Ana Castro, que já somava esta terça-feira três turnos seguidos de 24 horas naquela estrutura de apoio, o hospital de campanha tem capacidade para receber uma centena de doentes.

Já a “estrutura hospitalar de contingência” no estádio universitário de Lisboa - que resulta de uma parceria entre a Administração Regional de Saúde (ARS) de LVT, a Câmara e a Universidade de Lisboa, além das forças armadas e dos centros hospitalares da capital - está preparada para acolher 58 doentes numa primeira fase, adianta o presidente da comissão directiva, António Diniz. Vocacionado para aliviar a pressão das unidades públicas, o hospital de campanha destina-se a receber doentes sem critérios de gravidade e pode chegar a um máximo de 310 vagas em três pavilhões e, eventualmente, numa tenda de campanha. Para funcionar, porém, a estrutura precisa de médicos e enfermeiros, frisa António Diniz.

Os hospitais de LVT - onde estavam esta terça-feira internados 1630 doentes com covid, 216 dos quais em unidades de cuidados intensivos (UCI) - são os que se encontram numa situação mais complicada. Alguns já estão mesmo em ruptura e têm tido que transferir doentes, mas o cenário não é homogéneo.

O Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, (S. José, Curry Cabral e D. Estefânia) dispunha esta terça-feira de três vagas em UCI e 15 em enfermarias. Apesar de estar a “avançar” para “o último nível [do plano de contingência]”, que tem “várias fases”, não estava ainda “no fim” dos seus recursos”, segundo assegurou à Lusa o director clínico, Pedro Soares Branco. Na fase mais elevada do plano de contingência  e a preparar um aumento da capacidade de resposta, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente) tinha oito vagas em cuidados intensivos e 10 em enfermarias e continuava a receber doentes de outros hospitais “fechados ao CODU” (sem disponibilidade para receber casos urgentes).

Em situação mais difícil e “de grande pressão” estava o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), com apenas uma vaga em enfermaria (para um total de 150 camas) e uma vaga em cuidados intensivos (21 doentes internados). Mesmo assim, garantia que a a capacidade de resposta “não está esgotada”. Já os hospitais de Loures e de Setúbal estavam a funcionar acima das suas capacidades, de acordo com a Sic Notícias, que divulgou uma circular normativa da unidade de Setúbal em que esta admitia ter estado “à beira do colapso”, tendo sido necessário activar o nível máximo, de “crise”, do respectivo plano de contingência.

Com um quarto da sua lotação destinada a doentes com covid e aumentos sucessivos da capacidade de resposta, o Hospital Garcia de Orta (Almada) transferiu dez pacientes para o Porto e Matosinhos no fim-de-semana e já está "para além do seu nível máximo do Plano de Contingência que previa inicialmente um total de 66 camas em enfermaria e nove em cuidados intensivos”. Até ao final deste mês, o hospital prevê abrir uma “nova unidade contentorizada de internamento e outra destinada ao circuito externo para doentes respiratórios do Serviço de Urgência Geral”. 

Mais calmo parece estar o cenário no Norte, onde esta terça-feira havia 979 doentes com covid internados em enfermarias (taxa de ocupação de 79,7%) e 227 em unidades de cuidados intensivos (83,9%). O Centro Hospitalar e Universitário São João, que tem recebido doentes de Lisboa à semelhança de outras unidades do Norte, assevera que a situação “é de tranquilidade, apesar da enorme pressão que se faz sentir ao nível da procura no serviço de urgência e internamento”, graças “ao planeamento efectuado anteriormente”. No nível II (de IV) do plano de contingência, o CHUSJ não teve sequer ainda necessidade de adiar actividade programada.

O Centro Hospitalar e Universitário do Porto, que tinha 141 doentes com covid-19 internados, adintou que a taxa de ocupação nas áreas dedicadas era de 79% em enfermaria e de 78% em cuidados intensivos. No Centro Hospitalar de Gaia/Espinho havia igualmente ainda muitas vagas nos cuidados intensivos (12 internados para uma lotação de 28 camas) e, “como reserva”, uma enfermaria estava em fase de reconversão para o caso de ocorrer um aumento brusco de doentes.

Numa altura em que o “cenário é difícil e transversal a todo o país”, o Centro Hospitalar Tondela-Viseu também não é excepção (163 doentes internados, 12 dos quais em cuidados intensivos) e optou por contratualizar já camas com a Casa de Saúde São Mateus e a CUF Viseu para “doentes não-covid” e as Residências Montepio de Albergaria para doentes com covid.

Os centros hospitalares do Baixo Vouga (Aveiro) e o universitário de Coimbra têm estado a abrir enfermarias para acolher o número crescente de doentes. Esta terça-feira o Baixo Vouga tinha 92 pacientes internados para 121 camas alocadas a covid e apenas uma vaga (das dez) nos cuidados intensivos. Em Coimbra, a taxa de ocupação nos cuidados intensivos era de 89% e de doentes em enfermaria era de 96%. Esta terça-feira foi aberta mais uma enfermaria para doentes “estáveis” com 28 camas. A ARS do Centro não viu por enquanto necessidade de accionar hospitais de campanha, optando por estabelecer adendas aos protocolos de convenções com os sectores privado e social  (53 camas para doentes com covid e 51 para pacientes com outras patologias).

Numa altura em que a taxa de ocupação em enfermaria e cuidados intensivos no Algarve rondava os 80%, a ARS desta região, em parceria com o centro hospitalar, a Câmara de Portimão e a Autoridade de protecção Civil, optou por abrir o hospital de campanha no Pavilhão Arena e activou uma estrutura de apoio de retaguarda num hotel de Alvor com capacidade para receber “várias centenas de pessoas com covid-19 que não precisem de internamento hospitalar”.