Fechar as escolas é o mal maior
Corremos o risco de estar a criar conscientemente uma geração deslassada e ressentida. Um dia, quando este pesadelo acabar, havemos de pagar um preço elevadíssimo por esta opção.
Todos os sinais o prenunciam: o próximo estado de emergência vai fechar as escolas, exceptuando talvez as do primeiro ciclo. Na situação dramática que o país vive, com as projecções dos especialistas a apontarem para uma situação gravíssima ao nível dos contágios, das mortes e dos internamentos, faz pouco sentido falar numa opção leviana, imponderada ou absurda. Mas no leque possível de escolhas em aberto, em que seguramente não há uma solução fácil, e muito menos boa, o encerramento das escolas coloca um perigo para o qual temos de estar conscientes: está-se a obrigar uma geração a hipotecar o seu futuro em troca da segurança do presente. É, por isso, um risco com um custo elevadíssimo.
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Todos os sinais o prenunciam: o próximo estado de emergência vai fechar as escolas, exceptuando talvez as do primeiro ciclo. Na situação dramática que o país vive, com as projecções dos especialistas a apontarem para uma situação gravíssima ao nível dos contágios, das mortes e dos internamentos, faz pouco sentido falar numa opção leviana, imponderada ou absurda. Mas no leque possível de escolhas em aberto, em que seguramente não há uma solução fácil, e muito menos boa, o encerramento das escolas coloca um perigo para o qual temos de estar conscientes: está-se a obrigar uma geração a hipotecar o seu futuro em troca da segurança do presente. É, por isso, um risco com um custo elevadíssimo.
É um risco porque, como vários estudos internacionais confirmam, o fecho das escolas ou o ensino à distância compromete gravemente o processo de aprendizagem dos mais jovens. É um erro porque, privando-os dos contextos de sociabilidade mínima com a imposição do confinamento, se vão agravar os já de si preocupantes indicadores de saúde mental da juventude. E é fundamentalmente grave porque vai acentuar a desigualdade entre os jovens. Não está em causa, por isso, apenas a suspensão do direito à educação; é o próprio futuro que fica comprometido, seja pelo agravamento dos problemas de integração social, seja pela condenação à exclusão e à pobreza a que os jovens de famílias mais desestruturadas são votados.
Não faltam razões às autoridades para avançar com esta estratégia. Mesmo que as escolas não sejam focos primordiais de contágio, as avaliações dos especialistas não nos permitem menosprezar o seu impacte na propagação do vírus. O encerramento de escolas tem, de resto, sido uma das receitas de vários países para travar a pandemia. Mas reconhecer esta evidência apenas serve para admitir que em causa está a escolha de um mal menor. Defender o futuro dos portugueses mais jovens, principalmente dos que fazem parte das classes mais desfavorecidas, que habitam em casas degradadas, que não têm acesso a equipamentos digitais ou a redes de Internet, é seguramente esse mal menor.
Faria sentido pensar em medidas de mitigação de riscos? Claro. Dividir turmas, reforçar condições de segurança de alunos, professores e auxiliares, estender os horários lectivos ainda mais, por exemplo. Depois da prova de brio profissional e de sentido de dever cívico que os profissionais da educação deram ao país, sabemos que podemos contar com eles. O que custa aceitar é que se desista dos mais jovens e, em particular, dos jovens mais desfavorecidos. Corremos o risco de estar a criar conscientemente uma geração deslassada e ressentida. Um dia, quando este pesadelo acabar, havemos de pagar um preço elevadíssimo por esta opção.