Especialistas pedem urgência na vacinação dos órgãos de soberania

O ex-director-geral da Saúde Francisco George adverte que “é preciso garantir a segurança do Estado e a estabilidade política”.

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Francisco George defende o alargamento das vacinas aos órgãos de soberania – e não só Rui Gaudêncio

Os titulares dos órgãos de soberania ficaram de fora dos grupos prioritários do plano de vacinação nacional contra a covid-19 por “falta de coragem política”, afirmam especialistas ouvidos pelo PÚBLICO que não têm dúvidas de que “todos os membros da elite com funções executivas associadas à pandemia deveriam ter integrado os grupos prioritários de vacinação” para prevenir infecções provocadas pelo novo coronavírus.

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Os titulares dos órgãos de soberania ficaram de fora dos grupos prioritários do plano de vacinação nacional contra a covid-19 por “falta de coragem política”, afirmam especialistas ouvidos pelo PÚBLICO que não têm dúvidas de que “todos os membros da elite com funções executivas associadas à pandemia deveriam ter integrado os grupos prioritários de vacinação” para prevenir infecções provocadas pelo novo coronavírus.

A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, ainda admitiu a possibilidade de inclusão dos representantes dos órgãos de soberania numas das primeiras fases de vacinação, numa altura em que a questão dos grupos prioritários ainda não estava totalmente fechada, mas a opção acabou por não ser essa.

O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e ex-director-geral da Saúde, Francisco George, é claro na mensagem. “Os quatro órgãos se soberania – Presidência da República, deputados, membros do governo e magistrados – à semelhança daqueles que são essenciais em termos de segurança do Estado, como, por exemplo, os operadores que fornecem a água às cidades ou a energia eléctrica, bem como os agentes de segurança publica deveriam constar da lista de prioridades da vacinação”, defende Francisco George, especialista em saúde pública.

Sublinhando que “até por razões de segurança”, aquele grupo deveria ser vacinado nesta primeira fase, Francisco George entende que “é preciso garantir a segurança do Estado e a estabilidade política” e considera que os órgãos de soberania optaram por não fazer parte das prioridades de vacinação por “falta de coragem política”, mas diz que essa não foi, provavelmente, a melhor opção. Porquê?” “Porque os cidadãos compreenderiam perfeitamente que os órgãos de soberania fossem prioritários, porque Portugal precisa de ser governado, precisa de ter poder legislativo, precisa de ter juízes e magistrados em funções.”

O professor de Saúde Pública Internacional Tiago Correia é peremptório: “Os órgãos de soberania devem ser vacinados o mais depressa possível. Devem ser prioritários, independentemente dos critérios clínicos, da idade e de patologias”, defende Tiago Correia, argumentando que aquele grupo “deveria fazer parte da primeira prioridade da vacinação, porque dela depende o regular funcionamento das instituições democráticas”.

A propósito da alegada infecção do Presidente da República, Tiago Correia salvaguarda, em declarações ao PÚBLICO, que mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa tivesse tomado a vacina o risco de ser infectado pelo SARS CoV-2 mantinha-se, uma vez que a eficácia da vacina só é assegurada pela segunda toma. “Nada garante que só com uma toma se evite a infecção”.

O perito em saúde pública internacional também invoca a “falta de coragem política” dos titulares dos órgãos de soberania para se incluírem numa das primeiras fases de vacinação. “As pessoas tiveram receio da leitura que partidos com pendor populista e também a opinião pública de forma indiscriminada nas redes sociais pudessem fazer do facto de os órgãos de soberania serem vacinados no grupo dos profissionais de saúde. Esta é a minha avaliação”, contextualiza o médico, dando conta do “ruído político muito grande que está a haver em termos de pandemia”. “A pandemia está a ser jogada no tabuleiro político e no tabuleiro partidário”, alerta.

O registo do politólogo António Costa Pinto é muito idêntico. O investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais de Lisboa declara que “teria feito todo o sentido vacinar em primeiro lugar todos os membros da elite política com funções executivas no combate à pandemia e também o núcleo duro do Infarmed”, até porque houve pouca gente a ser vacinada nesta primeira fase.

O investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa refere que a elite política não toma a iniciativa de ser incluída na primeira de vacinação por “receio de impopularidade” e também por “falta de coragem política”. “É apenas uma consequência do receio da classe política de ser associada ao estigma dos privilegiados e que isso possa ser aproveitado por partidos de protestos e de pendor populistas”, aponta.