Bridgerton, ou a Netflix orgulhosamente leve de Shonda Rhimes
Baseada na saga literária homónima de Julia Quinn, esta série criada por Chris Van Dusen passa-se na alta sociedade londrina do início do século XIX.
Em 2017, Shonda Rhimes, a criadora de Anatomia de Grey, Clínica Privada e Scandal e uma das mais bem-sucedidas autoras de televisão do mundo, foi pescada da ABC para a Netflix, num negócio que fez correr muita tinta. Mas, até ao último dia de Natal, esse contrato multimilionário ainda não tinha dado em nada que se pudesse ver — ao contrário do que aconteceu com Ryan Murphy, que assinou pelo serviço de streaming um ano depois e já fez várias séries e filmes.
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Em 2017, Shonda Rhimes, a criadora de Anatomia de Grey, Clínica Privada e Scandal e uma das mais bem-sucedidas autoras de televisão do mundo, foi pescada da ABC para a Netflix, num negócio que fez correr muita tinta. Mas, até ao último dia de Natal, esse contrato multimilionário ainda não tinha dado em nada que se pudesse ver — ao contrário do que aconteceu com Ryan Murphy, que assinou pelo serviço de streaming um ano depois e já fez várias séries e filmes.
Bridgerton é o primeiro fruto visível da Shondaland, a empresa de Rhimes, que aqui, como em Como Defender um Assassino ou Station 19, assina a produção executiva. É uma criação de Chris Van Dusen, que tinha trabalhado com ela noutras séries e vê em Rhimes uma enorme influência, e adapta a saga literária homónima de Julia Quinn. Narrada por Julie Andrews, a série passa-se na Londres do início do século XIX, durante o chamado período da Regência, no seio da aristocracia. Andrews dá voz a Lady Whistledown, a autora anónima de um tablóide que versa sobre os mexericos e o dia-a-dia da alta sociedade. Por causa disso, há quem chame a Bridgerton, até pela narração, um cruzamento de Gossip Girl (que também começou por ser uma série de livros e passou para a televisão) e Jane Austen, talvez ignorando até que ponto Gossip Girl assumia a influência do universo literário da autora de Orgulho e Preconceito.
Em foco nesta nova produção Netflix está a família Bridgerton, encabeçada por Violet, que tem quatro filhos e filhas. Daphne (Phoebe Dyvenor), a filha mais velha, está a estrear-se nos bailes que são o centro da alta sociedade e é reconhecida, realçada elogiada pela rainha Carlota. Quando faz um pacto com Simon Basset (Regé-Jean Page, que já tinha entrado no mundo de Shonda Rhimes em For the People), o duque de Hastings e melhor amigo do seu irmão, para ela ter mais pretendentes e ele poder ficar em paz, sem ter de se preocupar com arranjinhos, este mostra-lhe todo um novo mundo.
Bridgerton é uma série orgulhosamente leve, mas sem problemas em tratar tópicos como o sexismo, e que se esforça por ser actual. Nas festas, por exemplo, ouvem-se versões de quartetos de cordas de canções como Thank u, next, de Ariana Grande, ou Bad guy, de Billie Eilish. O tom é romântico e cómico, com sexo (e conversas sobre esse tópico que não acontecem muito neste tipo de produções), socos na cara e reviravoltas viciantes típicas de Shonda Rhimes. Tal como no resto do trabalho desta autora, há uma diversidade étnica no elenco que não é de todo vulgar em séries de época. Além do duque, figuras centrais da intriga como a rainha Carlota (Golda Rosheuvel) — aqui reconhecida como birracial, uma hipótese que muitos historiadores defendem — e a alta sociedade em geral parecem gozar de uma pacífica integração, sem que a série chame muito a atenção para o exercício de ficção histórica que propõe ao retratar como multirracial a aristocracia britânica da altura.
Ao que tudo indica, a aposta da Netflix em Bridgerton terá sido um sucesso. Além de ter estado recorrentemente em primeiro lugar nos mais vistos da Netflix portuguesa, de acordo com o serviço de streaming, projecta-se que mais de 60 milhões de pessoas acabarão por ver pelo menos um bocadinho da série no primeiro mês após a estreia, fazendo dela a quinta mais vista de sempre desta plataforma.