Cai a noite em Oradour
Há 76 anos, em Oradour-sur-Glane, as SS cometeram o maior massacre de civis em solo francês de toda a Segunda Guerra Mundial. Em Agosto de 2020, a coberto da noite, neonazis fizeram pichagens insultuosas no memorial da aldeia. O extremismo alimenta-se do nosso esquecimento e do nosso ruído.
Era domingo. Encaminhei-me para a aldeia, reparei que à entrada havia um regulamento impresso, afixado numa pequena vitrina, a enumerar o que não se podia fazer ali. Não se podia fumar. Não se podia trazer animais, nem mesmo pela trela. Não se podia consumir álcool ou estupefacientes. Não se podia comer nem beber fosse o que fosse. Não se podia ouvir música. Não se podia correr. Não se podia andar de bicicleta. Não se podia grafitar as paredes. Concluí que, se aquelas interdições haviam sido vertidas em letra de forma, era porque, em algum momento, alguém decidira fazer na aldeia aquelas coisas. Passear o cão. Ouvir música aos berros. Correr. Beber álcool. Era porque, para algumas pessoas, talvez para muitas, aquele lugar já nada tinha de sagrado. Passara a ser um lugar como os outros, uma atracção que se visita aos domingos.
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Era domingo. Encaminhei-me para a aldeia, reparei que à entrada havia um regulamento impresso, afixado numa pequena vitrina, a enumerar o que não se podia fazer ali. Não se podia fumar. Não se podia trazer animais, nem mesmo pela trela. Não se podia consumir álcool ou estupefacientes. Não se podia comer nem beber fosse o que fosse. Não se podia ouvir música. Não se podia correr. Não se podia andar de bicicleta. Não se podia grafitar as paredes. Concluí que, se aquelas interdições haviam sido vertidas em letra de forma, era porque, em algum momento, alguém decidira fazer na aldeia aquelas coisas. Passear o cão. Ouvir música aos berros. Correr. Beber álcool. Era porque, para algumas pessoas, talvez para muitas, aquele lugar já nada tinha de sagrado. Passara a ser um lugar como os outros, uma atracção que se visita aos domingos.