A embaixadora, o professor, Ricardo Salgado e Rui Pinto
Debate entre Marcelo e Ana Gomes começou morno com a pandemia mas aqueceu sobre os amigos de um e de outro. Pelo meio, o candidato-Presidente deixou um aviso: “Não há alternativa ao confinamento geral”.
Marcelo Rebelo de Sousa mostrou as garras e Ana Gomes voltou a atacar com o combate à corrupção. A “senhora embaixadora”, como lhe chamou sempre Marcelo, tirou o Presidente do pedestal e tratou-o como professor, para nivelar o adversário. Mas não resistiu a chamar à liça o “amigo Ricardo Salgado”, levando Marcelo a responder na mesma moeda e a trazer Rui Pinto à contenda.
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Marcelo Rebelo de Sousa mostrou as garras e Ana Gomes voltou a atacar com o combate à corrupção. A “senhora embaixadora”, como lhe chamou sempre Marcelo, tirou o Presidente do pedestal e tratou-o como professor, para nivelar o adversário. Mas não resistiu a chamar à liça o “amigo Ricardo Salgado”, levando Marcelo a responder na mesma moeda e a trazer Rui Pinto à contenda.
O debate entre os dois candidatos mais próximos nas sondagens e que disputam o eleitorado socialista até começou morno, em torno do tema da pandemia e do confinamento geral. Ana Gomes ainda tentou responsabilizar Marcelo pela marcação tardia das presidenciais, dizendo que “não se previram medidas para que todos possam votar e evitar a abstenção”. O Presidente argumentou que “nenhum partido quis a revisão constitucional” necessário para adiar as eleições e disse que ainda é possível prever o voto dos idosos nos lares, também defendido pela adversária.
“Há três soluções possíveis”, disse Marcelo, referindo-se à possibilidade de os idosos internados em lares serem equiparados aos eleitores em isolamento profiláctico e poderem votar nas residências onde se encontram, sem se deslocarem: “Ou interpretação feita pelas autoridades sanitárias, ou através de decreto do Governo que seria promulgado imediatamente, ou eu próprio o contemplar no decreto do estado de emergência” da próxima semana.
Ana Gomes insistiu na necessidade de “proteger os grupos de risco” e lamentou a existência de “onze mil pessoas em camas de hospitais por não terem cuidados continuados”. Marcelo concedeu sublinhando a crítica ao Governo: “Não correu bem a articulação entre a Saúde e a Segurança Social, a nível regional e local”.
Questionado pelo moderador se assumia as responsabilidades máximas em relação às consequências do alívio no Natal, o actual Presidente reconheceu que “o pacto de confiança que pediu aos portugueses não funcionou” e “agora não há alternativa ao confinamento geral”.
O debate começou a aquecer quando o tema foi a coligação de direita nos Açores e aqui os candidatos acentuaram as diferenças. Ana Gomes insistiu que não daria posse a um Governo apoiado pelo Chega e atiro a Marcelo: “O Presidente da República não devia ter permitido a normalização do Chega. Há sempre soluções […] ainda mais quando a democracia está sob ataque”.
“Aparecem os partidos e dizem: temos acordos para constituir governo. Como é que se recusa? A senhora embaixadora defende um cordão sanitário. Sou contra. [Essa batalha] Ganha-se no debate das ideias”, ripostou o Professor, considerando que “o que dá o peso a esses sectores, é vitimizá-los, é calá-los”. Ana Gomes contrapôs: “Eu estou no combate das ideias e mais ainda farei como Presidente, nunca dispensarei o juízo político sobre as condições de governação e jamais permitirei replicar o modelo dos Açores no país”.
Marcelo interrompeu-a várias vezes para lhe perguntar porque é que não pediu, como cidadã, ao Ministério Público para ilegalizar o Chega e Ana Gomes devolveu-lhe o tiro: “Esperei que os órgãos da República actuassem”. “Mas se eu sou contra…”, ripostou o candidato.
“As democracias também se podem defender”, replicou Ana Gomes, puxando o assunto para a área da justiça e do combate à corrupção, uma das suas grandes bandeiras e passando ao contra-ataque defendendo que o Presidente devia ter sido mais incisivo sobre os grandes processos: “Até pela sua amizade com Ricardo Salgado, cujo julgamento, sete anos depois, ainda nem começou”.
Marcelo picou-se. “Há cinco anos já dizia que eu era amigo dele, mas eu orgulho-me pelo facto de no meu mandato, e com duas procuradoras, os grandes processos terem avançado”. Mostrou-se indignado – “Está a tentar atingir a minha honorabilidade, eu nunca diria de si o que disse de mim” - mas respondeu na mesma moeda: “Eu não tenho interesses especiais nenhuns, nem no caso Rui Pinto…”
Questionada sobre se o denunciante devia ser punido por crimes ou defendido pelas denúncias que fez, Ana Gomes começou por concordar com Marcelo quando disse que “quem decide isso é a justiça”. Mas acrescentou um ponto: “Tem de [se] valorizar o serviço cívico de denunciar esquemas de corrupção e o facto de estar a colaborar com a justiça”. O Professor considerou uma contradição: “Ou se pronuncia ou não se pronuncia”. E mais ninguém se pronunciou, pois o tempo tinha acabado.