Morreu Fernanda Gonçalves, actriz do Teatro Experimental do Porto
A actriz, que sempre trabalhou no Porto, tinha 88 anos e um currículo em que interpretou dezenas de personagens, em papéis mais breves. O seu nome está no elenco de 80 peças.
A actriz Fernanda Gonçalves, nome sempre presente no Teatro Experimental do Porto (TEP), morreu quinta-feira, nesta cidade, aos 88 anos, disse à Lusa o actor e encenador Júlio Gago, amigo da família e antigo director da companhia.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A actriz Fernanda Gonçalves, nome sempre presente no Teatro Experimental do Porto (TEP), morreu quinta-feira, nesta cidade, aos 88 anos, disse à Lusa o actor e encenador Júlio Gago, amigo da família e antigo director da companhia.
“Em 2001 fez o último espectáculo da vida dela, Os Fantasmas, do dramaturgo italiano Eduardo De Filippo”, recordou Júlio Gago, actual presidente da assembleia-geral do TEP e amigo da família da actriz, de quem recorda a estreia em palco, em Maio de 1956, numa produção de Macbeth, de Shakespeare, dirigida por António Pedro.
Em entrevista telefónica à agência Lusa, Júlio Gago contou que Fernanda Gonçalves fez parte da equipa do TEP desde início, desde o primeiro espectáculo, de Gota de Mel, de Leon Chancerel, levado a cena em 18 de Junho de 1953.
“Ela entrou para o TEP logo no primeiro espectáculo, e foi um dos primeiros alunos do [encenador, artista e escritor] António Pedro, entre Maio e Junho de 1953”, disse Júlio Gago, acrescentando que Fernanda Gonçalves se especializou em papéis mais breves.
A actriz começou a trabalhar com António Pedro, que gostava de lhe chamar uma “utilidade”, porque se desdobrava em “vários papéis na acção”, mas chegou a ser protagonista da peça Ratos e Homens, de John Steinbeck, em 1957.
“Ao longo de décadas, desde 1956 até 2001, teve uma permanência sobretudo no TEP, mas fez uma peça no Seiva Trupe. Fez espectáculos na televisão, nas noites de teatro, antes do 25 de Abril, e na rádio também, porque eram as alternativas da altura”, acrescentou. “Trabalhou em todo o país, mas em deslocações do TEP, nunca esteve sediada em qualquer outra cidade [que não o Porto]”.
Em declarações à agência Lusa, o actual director artístico do TEP, Gonçalo Amorim, refere que Fernanda Gonçalves é ainda a actriz com mais obras representadas na companhia. “É, portanto, uma grande figura do Teatro Experimental do Porto”.
A base de dados do Centro de Estudos do Teatro, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, atribui à actriz a participação em 80 peças em palco, de Macbeth a Os Fantasmas, todas no TEP, a que junta ainda A hora em que não sabíamos nada uns dos outros, de Peter Handke, posta em cena por José Wallenstein no Teatro Nacional São João, em 2001.
A lista abre com a tragédia Antígona, de Sófocles, uma produção do TEP de 1954, a cujo elenco Fernanda Gonçalves se juntou em 1956, para substituir Maria Júlia no papel de Eurídice.
Seguem-se dezenas de encenações, de obras de dramaturgos como Alfred Jarry, Anton Tchekhov, António José da Silva, Arthur Miller, Ben Jonson, Bernardo Santareno, Bertolt Brecht, Eugene O'Neill, Federico García Lorca, Georg Büchner, Gil Vicente, John Steinbeck, Romeu Correia e Samuel Beckett, atravessando séculos e as mais importantes e diferentes expressões da dramaturgia mundial.