Marisa Matias e João Ferreira tiveram dificuldades em encontrar pontos de discórdia

Os dois eurodeputados defrontaram-se nesta sexta-feira, mas foram mais as questões em que concordaram do que aquelas em que divergiram. Os candidatos apoiados pelo PCP e pelo BE prometeram uma posição mais atenta às necessidades dos trabalhadores e à transição energética.

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João Ferreira e Marisa Matias são ambos deputados no Parlamento Europeu, em Bruxelas LUSA/PEDRO PINA

Os dois candidatos (e eurodeputados) ainda tentaram, mas durante a maior parte do debate presidencial transmitido pela RTP3, Marisa Matias e João Ferreira tiveram dificuldades em encontrar pontos de discórdia. Os temas trazidos para a mesa não facilitaram a tarefa: a defesa dos direitos laborais; a transição energética e o investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) alinharam os discursos dos dois candidatos à Presidência da República, deixando pouco espaço para a divergência. Marisa Matias assinalou algumas matérias em que as posições do BE e do PCP não estiveram em acordo, mas João Ferreira, o candidato apoiado pelo PCP, respondeu: “Não valia a pena pena cavar diferenças onde não existem”.

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Os dois candidatos (e eurodeputados) ainda tentaram, mas durante a maior parte do debate presidencial transmitido pela RTP3, Marisa Matias e João Ferreira tiveram dificuldades em encontrar pontos de discórdia. Os temas trazidos para a mesa não facilitaram a tarefa: a defesa dos direitos laborais; a transição energética e o investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) alinharam os discursos dos dois candidatos à Presidência da República, deixando pouco espaço para a divergência. Marisa Matias assinalou algumas matérias em que as posições do BE e do PCP não estiveram em acordo, mas João Ferreira, o candidato apoiado pelo PCP, respondeu: “Não valia a pena pena cavar diferenças onde não existem”.

“Não há nenhum mal em que possamos assumir algumas convergências. Temos divergências na política nacional e internacional”, assinalou Marisa Matias. A eurodeputada e dirigente bloquista prosseguiu para lembrar que travou “muitas lutas” e que por muitas vezes ouviu do lado do PCP que “a sociedade não estava preparada para elas”.

A divergência chegaria apenas quando o assunto foi o apoio dado pelos respectivos partidos ao Governo socialista na última legislatura, nomeadamente na aprovação do último Orçamento de Estado, que teve a abstenção do PCP e o voto contra do BE. Recusando referir-se directamente ao PCP, Marisa Matias vincou que “se toda a esquerda tivesse sido muito mais firme”, o reforço do SNS, nomeadamente na contratação de profissionais de saúde, “poderia já estar resolvido”. Também do lado de João Ferreira ficou no ar uma crítica ao BE. O eurodeputado comunista sublinhou que valoriza aqueles que “não desistem a meio de nenhum combate” e destacou que graças às propostas de alteração do PCP foi possível incluir no Orçamento do Estado de 2021 mais equipamentos e infra-estruturas há muito aguardadas.

Em relação ao confinamento que está a ser estudado, Marisa Matias defendeu mais apoios sociais e económicos, enquanto João Ferreira pediu mais condições de segurança para os trabalhadores.

Transição energética sim, mas não desta forma

Quer Marisa Matias, quer João Ferreira voltaram a condenar o encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos, por considerarem que a solução não contribuirá “em nada” na redução da emissão de gases para atmosfera porque essas emissões continuarão a ser enviadas para atmosfera.

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Marisa Matias e João Ferreira trocaram algumas indirectas em relação à posição dos respectivos partidos na votação do Orçamento de Estado de 2021 Pedro Pina/Lusa

“Por vezes as questões ambientais são usadas como bandeirinhas apenas quando convém”, atirou João Ferreira. O candidato comunista afirmou que é preciso “encarar a necessidade de uma transição energética que garanta um muito maior nível de aprovisionamento a partir de fontes renováveis” e defendeu que Portugal “tem condições para isso”.

Lembrando que a dependência de combustíveis não se deve apenas a razões energéticas, João Ferreira defendeu a modernização tecnológica associada às unidades industriais para minimizar o impacto na poluição. O candidato ressalvou que essa é até uma matéria que “diz muito à intervenção do Presidente da República”.

“Além do despedimento massivo de trabalhadores― que têm de ver salvaguardados os seus postos de trabalho ― as necessidades do país ficam dependentes apenas de um centro de produção ou ficaremos dependentes de um centro na Galiza que já tem planos para abastecer parte de Portugal”, assinalou, acrescentando que dessa forma as emissões de gases não serão reduzidas. Além disso, sublinhou que “os trabalhadores são os primeiros a reclamar a adopção de tecnologia para mitigar os efeitos da poluição”.

Também Marisa Matias afirmou que, no caso da refinaria da Galp, a palavra “descarbonização” é “usada como um slogan vazio”. “É um passo que não reduz o fardo ambiental, das emissões em nenhuma dimensão”, disse. A candidata à Presidência da República garante estar “disponível para discutir projectos reais e concretos”, desde que estes sejam “acompanhados das medidas efectivas”.

“Não encontro nada neste projecto que me permita dizer que há um esforço de reconversão ambiental”, lamentou Marisa Matias, destacando que “não se trata de uma empresa em dificuldades”, mas “de uma empresa que distribui dividendo ao mesmo tempo que está a despedir ou a procurar despedir tantos trabalhadores numa situação de crise pandémica”. E por isso, defendeu, o “ónus deve ser colocado sobre eles”.

Apesar de os candidatos terem trocado – ainda que tímidas – acusações sobre o apoio dado ao Governo na matéria do SNS, Marisa Matias e João Ferreira deixaram claro que essa é uma prioridade das duas candidaturas. A candidata bloquista criticou a fatia de dinheiro que vai para os privados através de parcerias público-privadas e defendeu que se transfiram essas competências para o SNS, a custos muito mais reduzidos e “reforçado o desígnio de Lei de Bases da Saúde”. “Estamos a fazer pouco. Precisamos de investir mais, mas sobretudo repensá-lo, estando mais presente em todo o território e chegar às populações mais abandonadas”, disse.

Já João Ferreira concluiu a sua argumentação vincando que o SNS, no quadro comparativo com outros países, em termos relativos, “não tem um fardo que situe Portugal lá para cima”, e aproveitou para deixar críticas à posição de Marcelo Rebelo de Sousa na Lei de Bases da Saúde.