“Tentativa de autogolpe” de Trump falhou por não ter “apoio dos militares”, defende Levitsky
Politólogo e co-autor do livro Como Morrem as Democracias responsabiliza o Presidente cessante e o Partido Republicano pela invasão ao Capitólio dos EUA. “A democracia americana é um desastre”, lamenta.
O conhecido cientista político norte-americano Steve Levitsky defendeu que o ataque de quarta-feira ao Capitólio dos Estados Unidos, protagonizado por apoiantes de Donald Trump, foi uma “tentativa de autogolpe”, promovida pelo Presidente, que só não foi bem-sucedida porque não contou com o apoio dos militares do país.
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O conhecido cientista político norte-americano Steve Levitsky defendeu que o ataque de quarta-feira ao Capitólio dos Estados Unidos, protagonizado por apoiantes de Donald Trump, foi uma “tentativa de autogolpe”, promovida pelo Presidente, que só não foi bem-sucedida porque não contou com o apoio dos militares do país.
“[Assistimos] a uma variante daquilo a que na América Latina chamaríamos de auto-golpe. É um Presidente mobilizando os seus apoiantes para permanecer no poder ilegalmente. Será um autogolpe fracassado, mas é uma insurreição do poder para tentar subverter os resultados da eleição. Foi uma tentativa de autogolpe”, catalogou o politólogo, em entrevista à BBC World.
“A grande diferença entre este e os autogolpes na América Latina é que Trump foi completamente incapaz de obter o apoio dos militares. Um Presidente que tenta permanecer no poder ilegalmente sem o apoio dos militares tem muito poucas hipóteses de sucesso”, considera.
Para o professor de Harvard e co-autor do livro Como Morrem as Democracias (com Daniel Ziblatt, edição Vogais), o papel de muitos dirigentes do Partido Republicano no “incitamento” e na “repetição da mentira” e na forma como tentaram “desacreditar a legitimidade da democracia e das instituições” dos EUA deve ser sublinhado e condenado.
“Quando os líderes incitam os seus seguidores num ambiente altamente polarizado, as pessoas agem. Palavras têm significado, têm poder”, diz Levitsky.
“O Presidente já foi radicalmente violento antes e, se [os republicanos] não queriam que isto acontecesse, tinham de agir mais rápido e mobilizarem-se para evitar. O facto de que os líderes republicanos estarem agora a romper com Trump é hipócrita”, atira.
O politólogo lamenta os efeitos nocivos do ataque ao Capitólio e da presidência Trump para o futuro da democracia americana e acredita que a mesma estará em jogo durante o mandato de Joe Biden.
“A democracia sobreviverá quando acordarmos amanhã [esta quinta-feira], mas não posso garantir o que acontecerá daqui a cinco anos. A democracia americana é um desastre”, lamentou o académico.
Centenas de apoiantes do Presidente dos EUA invadiram o Capitólio norte-americano, em Washington, na quarta-feira, incitados pela recusa de Trump em ceder o poder a Biden e pela narrativa, por este promovida, mas rejeitada pelos tribunais, de que a derrota para o candidato democrata na eleição de Novembro resultou de uma fraude eleitoral de larga escala. Quatro pessoas perderam a vida no meio da confusão e do caos.
O Congresso dos EUA voltou a reunir e aprovou, esta quinta-feira, os votos do Colégio Eleitoral, confirmando, dessa forma, a eleição de Joe Biden como o 46.º Presidente do país.