Cerca de 30 mil alunos iniciam testes para aferir aprendizagens durante a pandemia

Estudo inédito que decorre até 22 de Janeiro, em mais de 1400 escolas, visa avaliar o impacto da suspensão das aulas ditada pela pandemia nas aprendizagens dos alunos.

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Testes abrangem alunos do 3.º, 6.º e 9.º anos de escolaridade Daniel Rocha (arquivo)

Cerca de 30 mil alunos de mais de 1400 escolas de todo o país começam esta quarta-feira a realizar testes de diagnóstico para aferir o que aprenderam durante a pandemia de covid-19.

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Cerca de 30 mil alunos de mais de 1400 escolas de todo o país começam esta quarta-feira a realizar testes de diagnóstico para aferir o que aprenderam durante a pandemia de covid-19.

A ideia é avaliar as aprendizagens dos alunos do 3.º, 6.º e 9.º ano tendo em conta a situação excepcional que se viveu desde Março do ano passado, quando as aulas presenciais foram suspensas e substituídas pelo ensino à distância.

O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) desenhou um conjunto de tarefas, a realizar por via electrónica e até ao dia 22 de Janeiro, que permitem avaliar os conhecimentos dos estudantes em literacia científica, matemática, leitura e informação. No total, serão abrangidas 1247 escolas públicas e 102 colégios de Portugal continental, assim como 79 escolas madeirenses e açorianas. 

Ao PÚBLICO, Luzia Veludo, directora do Agrupamento de Escolas Sophia de Mello Breyner, em Arcozelo, Vila Nova de Gaia, uma das escolas seleccionadas pelo IAVE garante que os alunos das seis turmas do 3.º e 6.º ano estão prontos para realizar os testes, que, no caso desta escola, decorrerão a partir de sexta-feira e durante uma semana. “Vai ser uma turma por dia. Cada um dos três testes dura meia hora, com intervalos entre si, e, no final, os alunos responderão a um inquérito final sobre a respectiva experiência do ensino à distância”, descreveu aquela responsável, para considerar que esta iniciativa ajudará a avaliar o que correu melhor e pior no ensino remoto. 

Quanto a eventuais défices de aprendizagem nos alunos, Luzia Veludo diz acreditar que as escolas foram tratando de as consolidar nas primeiras semanas do ano lectivo, nomeadamente aquelas “que fazem falta para as aprendizagens futuras”. “Durante a suspensão do ensino presencial, o maior desafio foi responder aos alunos que estavam ‘desligados’, sem os necessários instrumentos tecnológicos, mas isso foi-se colmatando, mais não fosse fazendo chegar os materiais em papel a casa de alguns, com a ajuda da autarquia”, recorda.

No Agrupamento de Escolas da Quarteira, que apresentou três datas possíveis para cada uma das 14 turmas seleccionadas poder realizar os testes, a directora do agrupamento, Conceição Bernardes explicou à Lusa que só em Dezembro foram informados pelo IAVE que faziam parte do lote de escolas que iria realizar os testes de diagnóstico. Mas, apesar de considerar que a informação devia ter chegado às escolas, até porque é preciso “avisar os pais” e preparar a parte logística, aquela responsável considera que o processo está “bem organizado” e as informações são “objectivas e facilmente entendíveis”.

Os questionários de contexto, reservados para a parte final dos testes, serão feitos também aos professores para apreensão do contexto em que as aprendizagens decorreram, quais as condições disponibilizadas pelas escolas e o ambiente familiar e percurso escolar do aluno. O objectivo é identificar que formas de ensinar se revelaram mais eficazes e quais as estratégias de avaliação usadas pelos professores.

No final, as “medidas consideradas necessárias para colmatar os eventuais défices de aprendizagem” constarão de relatórios, sendo que, além do documento referente a cada uma das escolas, haverá um relatório nacional sobre as competências evidenciadas pelos alunos.

Trata-se, na opinião do presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, de uma iniciativa “meritória” que demonstra que “o Governo está a querer perceber de forma global quais foram as matérias e conteúdos menos bem apreendidos”. Mas isto implica que posteriormente o Governo saiba “encontrar as respostas para os problemas que vierem a ser identificados”.

Tal passará por avançar com a “digitalização das escolas que está longe de estar concluída”. Para já, e além da Internet nas escolas, que o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, prometeu melhorar, prevê-se a distribuição progressiva de 260 mil computadores pelos alunos, ainda durante o corrente segundo período lectivo, além dos 100 mil que já foram distribuídos.

O Governo garante ter 500 milhões de euros destinados à digitalização e apetrechamento das escolas, bem como para a formação de docentes e não docentes, além dos 400 milhões que já estavam previstos.