Abraço caloroso e acordo de “estabilidade” põem fim ao bloqueio ao Qatar
Anúncio de que Riad vai abrir fronteiras com o Qatar chegou horas antes da cimeira do Conselho de Cooperação do Golfo. A crise que opunha sauditas, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egipto ao emirado prolongava-se desde 2017.
Juntos pela primeira vez desde o início da crise que opôs a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egipto ao Qatar, em Junho de 2017, os líderes dos países do Golfo Pérsico assinaram esta terça-feira um acordo de “solidariedade e estabilidade” na cimeira anual do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Horas antes, o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, recebia o emir qatari, xeque Tamin bin Hamad al-Thani, com um inesperado e caloroso abraço.
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Juntos pela primeira vez desde o início da crise que opôs a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e o Egipto ao Qatar, em Junho de 2017, os líderes dos países do Golfo Pérsico assinaram esta terça-feira um acordo de “solidariedade e estabilidade” na cimeira anual do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Horas antes, o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, recebia o emir qatari, xeque Tamin bin Hamad al-Thani, com um inesperado e caloroso abraço.
O abraço surpreendeu até os observadores mais optimistas. Mas como sublinhou em directo o jornalista da Al-Jazeera, depois de deixar sair um “uau” (antes, afirmara que nem um aperto de mãos seria de esperar, tendo em conta a covid-19), “a tradição nesta parte do mundo diz que temos de nos abraçar e isso envia uma mensagem forte, diz que não estamos aqui só para a fotografia, mas para resolver as coisas”.
Quando o bloqueio, que ficou conhecido como Crise do Golfo e foi considerado o mais grave conflito na região desde que Saddam Hussein invadiu o Kuwait, em 1990, foi imposto, Al-Thani disse que não viajaria para nenhum país que limitasse a entrada aos cidadãos qataris.
As dúvidas sobre se a cimeira em Al-Ula, no Noroeste da Arábia Saudita, assinalaria o fim da crise prolongaram-se até ao último momento. Mas as expectativas de progressos significativos cresceram muito na véspera, quando o Kuwait, que tem mediado a crise, anunciou “a reabertura do espaço aéreo, assim como das fronteiras terrestres e marítimas entre a Arábia Saudita e o Qatar”.
As declarações dos dirigentes dos vários países envolvidos denotam graus diferentes de convicção, mas o abraço entre MBS e Al-Thani assinalou que não haveria recuo. Apesar de Jared Kushner, conselheiro e genro de Donald Trump, ter participado nas negociações – e ter voado para Al-Ula para celebrar o fim da crise –, Riad decidiu avançar agora por querer abrir caminho a uma relação mais fácil com a próxima Administração americana.
Acusando o pequeno e rico emirado de “apoio ao terrorismo” (promovido e financiado pelo Irão) e de “interferência constante nos [seus] assuntos internos”, estes países tinham-lhe fechado as águas territoriais e o espaço aéreo, expulsando ainda os qataris que se encontravam nos seus territórios.
No acordo, o Qatar compromete-se a abandonar todos os processos legais e pedidos de indemnizações que lançara (a maioria por perdas financeiras) e a assinar um pacto de não-agressão com os quatro países (o objectivo é pôr fim à guerra mediática e nas redes sociais). Muito longe das draconianas exigências apresentadas em 2017 para levantar o embargo, onde se incluía o afastamento do Irão, o encerramento de uma base turca no país ou da televisão Al-Jazeera.
Cimeira “positiva"
“Hoje precisamos desta unidade para contrariar as ameaças contra a nossa região colocadas pelo programa nuclear do regime iraniano, pelos seus mísseis balísticos e pela agenda de sabotagem adoptada pelos seus aliados sectários [Hezbollah e milícias iraquianas, por exemplo]”, afirmou MBS.
O vice-presidente dos Emirados, e líder do Dubai, xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum, descreveu a cimeira como “positiva”, dizendo que os desafios actuais exigem “uma coesão e cooperação genuína no Golfo”.
Apesar da retórica, diz o especialista em segurança da BBC, Frank Gardner, estes países, e em particular os Emirados, “têm grandes dúvidas de que o Qatar mude de comportamento” e deixe de apoiar movimentos políticos islamistas em Gaza ou na Líbia, incluindo a Irmandade Muçulmana, que os Emirados consideram “uma ameaça existencial à monarquia”.
O bloqueio, lembra Gardner, “teve um enorme custo tanto para a economia do Qatar como para a noção de unidade do Golfo” e “os qataris não vão esquecer nem perdoar depressa”. Feitas as contas, ao contrário do que desejavam este quatro países, o embargo que impuseram ao Qatar “acabou por empurrar mais o país para os inimigos ideológicos da Arábia Saudita: o Irão e a Turquia”.