Quando a covid-19 os deixou a 7692km distância, Sam e Shifra souberam que tinham de estar juntos para sempre

O americano Sam Morrison e a indiana Shifra Samuel tinham planos para uma vida conjunta, quando as restrições de viagens provocadas pela pandemia os deixaram isolados em continentes diferentes. Agora, outra vez juntos, estão decididos a não se voltarem a separar.

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O pedido de casamento foi feito nos canais de Amesterdão DR/YOUTUBE

Desde que se conheceram, há seis anos, o americano Sam Morrison e a indiana Shifra Samuel passaram mais tempo separados do que juntos, com as respectivas localizações geográficas sempre a mudar. Mas, contra todas as expectativas, fizeram com que a sua relação à distância funcionasse enquanto viviam em diferentes estados; em diferentes países; em diferentes datas estabelecidas pelos meridianos; em diferentes bairros de Nova Iorque (uma situação quase tão desafiante como as outras três, se se perguntar a qualquer residente daquela cidade).

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Desde que se conheceram, há seis anos, o americano Sam Morrison e a indiana Shifra Samuel passaram mais tempo separados do que juntos, com as respectivas localizações geográficas sempre a mudar. Mas, contra todas as expectativas, fizeram com que a sua relação à distância funcionasse enquanto viviam em diferentes estados; em diferentes países; em diferentes datas estabelecidas pelos meridianos; em diferentes bairros de Nova Iorque (uma situação quase tão desafiante como as outras três, se se perguntar a qualquer residente daquela cidade).

Contudo, Sam e Shifra, de 30 e 28 anos, respectivamente, e ambos cineastas independentes, nunca antes tinham estado tão afastados como em 2020: encalhados em diferentes continentes, a milhares de quilómetros de onde se encontraram e se apaixonaram, com praticamente todas as viagens através do globo paradas e sem fim à vista. “Houve definitivamente alguns dias que foram super difíceis, especialmente porque não tínhamos nenhuma linha temporal”, revela Shifra, numa entrevista via Zoom a partir de Amesterdão. “Essa foi a parte mais difícil. Se soubermos que serão seis meses, podemos prepararmo-nos mentalmente”, clarifica Sam, sentado ao lado dela no sofá.

Os investigadores suspeitam que as relações de longa distância são mais comuns hoje em dia do que eram há 20 anos, uma vez que a comunicação à distância é mais barata e mais eficiente. Mas mesmo com a ajuda de SMS, e-mails, chamadas por FaceTime e Skype, as relações à distância como a de Sam e Shifra enfrentaram um novo obstáculo em 2020: as restrições de viagem relacionadas com a pandemia em todo o mundo acabaram com os planos de meses e dizimaram o estado de espírito.

Alguns casais viram as relações deteriorarem-se e a acabarem sob a pressão. Outros simplesmente cancelaram reservas, adiaram planos e fizeram o seu melhor para lidar com o desapontamento. Sam e Shifra, no entanto, descobriram que o tempo afastados os deixou mais certos do que nunca de que era altura de se comprometerem um com o outro – e de estarem no mesmo lugar – para sempre.

Como tudo começou

Tudo começou num bar em Alphabet City, bairro boémio no descontraído East Village nova-iorquino. Sam e Shifra trocaram contas Snapchat (afinal, era 2015...). Ela convidou-o para um evento de trabalho. Ele convidou-a para uma festa da Super Bowl. Shifra, que é da Índia, estava a viver nos Estados Unidos com um visto de estudante, e quando este expirou um ano depois, já eles eram inseparáveis.

No entanto, separaram-se. Shifra regressou à casa da sua família em Bangalore enquanto se candidatava às escolas americanas para uma pós-graduação, e Sam arrumou o seu apartamento em Nova Iorque e mudou-se para Los Angeles. No Verão de 2016, Sam estava a visitar a família de Shifra quando esta recebeu a sua carta de admissão na Universidade da Virgínia – e, assim, passaram os dois anos seguintes a visitarem-se mutuamente em costas opostas.

Depois de se formar em 2018, Shifra mudou-se para a sua própria casa no bairro de Sam. Mas o breve e feliz ano como um casal a viver a curta distância chegou ao fim a 4 de Junho de 2019. Shifra recebeu um e-mail do seu empregador que a informava de não poder apoiar o seu trabalho nos Estados Unidos. Como consequência, o seu pedido de visto de trabalho para permanecer no país estava a ser rejeitado.

Devastada, a jovem passou essa tarde a recusar os telefonemas do Sam. “Pensei que aquilo nos separaria”, recorda. “Pensei que teria de voltar para a Índia, por isso [estava] tipo, ‘não lhe vou pedir para se mudar para a Índia’.” Shifra ligou ao pai, que contactou a irmã que, por sua vez, telefonou a Sam. O rapaz continuou a marcar o número da namorada, que finalmente atendeu e, entre lágrimas, disse-lhe que não sabia o que a notícia significava para o seu futuro.

Sam não perdeu um segundo. “Ele disse: ‘Vou mudar-me contigo'”, conta Shifra. “Tipo, sem hesitação”. Sessenta dias depois, o casal tinha dado ou vendido a maior parte do que possuía. Mudaram-se para Singapura, para onde Shifra se transferiu para um dos escritórios do seu empregador. No início de 2020, depois de perceber que Singapura não era bem o seu estilo, o casal decidiu experimentar outra cidade, Amesterdão, nos Países Baixos.

Ele chegaria em Março; ela, em Abril. Sam aterrou em Amesterdão no dia 12 de Março. E, poucos dias depois, quando as embaixadas foram encerradas e as restrições de viagem entraram em vigor em todo o mundo, tornou-se claro que ficaria sozinho por um tempo indefinido. Os cinco meses que se seguiram foram marcados por videochamadas constantes, ao longo das quais Sam e Shifra, por vezes, até assistiam a filmes “juntos”.

Quando eles se revezavam para se visitarem um ao outro, na Califórnia e na Virgínia, Sam dizia: “Vamos tentar enfiar toda a nossa relação nesses quatro dias todos os meses.” Mas, desta vez, eles fizeram um esforço para passar tempo juntos virtualmente enquanto separados. “Fizemos projectos criativos juntos”, conta Shifra. “Pintámos juntos”, acrescenta Sam.

Ainda assim, tiveram os seus momentos solitários. Sam não conhecia ninguém no país de acolhimento. E a diferença horária obrigava a muito tempo de vazio. “Passar por tudo isto colocou a coisa em perspectiva para nós: ‘Não quero perder-te. Quero que fiquemos juntos, aconteça o que acontecer’”, conta Shifra. “Nunca me senti tão segura disso.”

Numa quinta-feira chuvosa no final de Outubro, dois meses depois de Shifra ter finalmente chegado a Amesterdão, Sam propôs-lhe uma caça ao tesouro. Terminou com Shifra, ao lado de um canal, a dançar com um fato caseiro de homem-tubo e Sam a agitar-se num barco com uma indumentária a condizer, uma lembrança de um Halloween passado. Depois, ele deu-lhe um diamante que estava na família há mais de um século.

Poucos dias depois, Shifra fez-lhe também uma proposta, dando a Sam um bolo personalizado e um jogo de cartas que ela tinha criado. Intitulado “Monogamia: Seal the Deal” foi baseado no Monopólio, um jogo de tabuleiro que ambos apreciam. “Propriedades” incluía vários dos seus endereços passados e em vez de um cartão “Vá para a Prisão”, Shifra arranjou um “Vá para o Aeroporto”.

Sam e Shifra não são os únicos cujo noivado foi, em parte, provocado pela pandemia do coronavírus. Mas para eles, o casamento significa algo mais do que apenas serem parceiros para sempre. “Quando ele me pediu em casamento, foi qualquer coisa como: ‘quando nos conhecemos, estávamos a viver em bairros distanciados por 16 quilómetros. Depois mudámo-nos para diferentes cidades que se encontravam a 4800 quilómetros. Depois mudámo-nos para diferentes países que se encontravam a quase 15.000 quilómetros. Depois estávamos na mesma cidade, a apenas 1,5 quilómetro um do outro. Depois, mais uma vez, em países diferentes...’”, diz Shifra, citando de cor. “‘Agora, finalmente, estamos debaixo do mesmo tecto’.”  A partir daqui, Sam e Shifra concordaram que não passariam afastados um do outro mais do que a duração média de uma viagem de negócios. Para eles, o casamento significará nunca mais viver sob telhados diferentes.