Trabalhadores da Google criam sindicato para corrigir erros da administração. “Estamos fartos”
O grupo está aberto aos 120 mil trabalhadores da Google e da empresa-mãe, Alphabet — e por agora tem mais de 220 membros. “O lema [da Google] costumava ser ‘Não sejam malévolos’”, justificam os trabalhadores. “Vamos viver de acordo com esse lema.”
Após anos de conflitos, greves e queixas no interior da Google, os trabalhadores da empresa decidiram criar um sindicato independente para defenderem os seus direitos e corrigir os erros cometidos pela administração. O grupo Alphabet Workers Union está aberto aos 120 mil trabalhadores da Alphabet, que é dona de empresas como a Google, Waymo (fabricante de carros autónomos), Verily (centro de investigação científica) e DeepMind (firma de inteligência artificial).
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Após anos de conflitos, greves e queixas no interior da Google, os trabalhadores da empresa decidiram criar um sindicato independente para defenderem os seus direitos e corrigir os erros cometidos pela administração. O grupo Alphabet Workers Union está aberto aos 120 mil trabalhadores da Alphabet, que é dona de empresas como a Google, Waymo (fabricante de carros autónomos), Verily (centro de investigação científica) e DeepMind (firma de inteligência artificial).
A ideia nasceu no dia 1 de Novembro 2018, depois de 20 mil trabalhadores da Google e outras empresas da Alphabet pararem de trabalhar durante 24 horas em protesto contra as políticas de sigilo da gigante tecnológica. Uma semana antes, o jornal norte-americano The New York Times revelou que a empresa tinha pago dezenas de milhares de dólares a dois executivos acusados de conduta sexual imprópria para com outros trabalhadores, tentando encobrir o sucedido. Um dos visados era Andy Rubin, que foi afastado da empresa em 2014 com uma compensação de 90 milhões de dólares, após denúncias de assédio sexual de uma funcionária da empresa terem sido consideradas credíveis.
Desde então, a Google tem acumulado conflitos com os trabalhadores: sobre outros casos de assédio sexual, mas também sobre acordos com o Governo de Pequim para criar um motor de busca com censura embutida e lucros obtidos com anúncios que promovem grupos de ódio. Em Dezembro deste ano, a empresa também foi acusada de despedir dois funcionários — Laurence Berland e Kathyrn Spiers — por tentarem criar um sindicato. Berland teria sido apanhado a pesquisar o historial da Google de término repentino de contratos com trabalhadores e Spiers terá criado um boletim digital a informar os colegas dos seus direitos. A Google diz, no entanto, que os empregados foram dispensados por “violações claras da política de segurança de dados”.
O novo sindicato de trabalhadores da Google ainda não foi oficialmente reconhecido pela empresa, mas é apoiado pelo grupo Communications Workers of America (CWA), que é o maior sindicato de comunicação e empresas de media nos Estados Unidos.
“Isto é histórico — o primeiro sindicato de uma grande empresa de tecnologia por e para todos os trabalhadores”, sublinhou em declarações à imprensa Dylan Baker, um engenheiro da Google que faz parte do novo sindicato.
Contactada pelo PÚBLICO, a equipa da Google não reage directamente à criação do sindicato, mas reforça que se tem esforçado para criar um ambiente acolhedor para as centenas de milhares de funcionários. “Sempre nos esforçámos por criar um local de trabalho agradável para os nossos colaboradores. É claro que os nossos funcionários têm direitos protegidos que nós apoiamos. Mas, como sempre fizemos, continuaremos a trabalhar directamente com todos os nossos funcionários”, lê-se numa nota de Kara Silverstein, directora de integridade da Google, enviada à imprensa.
Os membros do novo sindicato discordam. Num artigo de opinião assinado pela Alphabet Workers Union e publicado esta segunda-feira no The New York Times, os trabalhadores da Google queixam-se especificamente dos contratos da Google com o Departamento de Defesa dos EUA e do despedimento de Timnit Gebru, uma investigadora afro-americana de Inteligência Artificial, natural da Etiópia, que terá fundado o grupo Black in AI para apoiar cientistas negros.
Aos olhos do sindicato, só quando os trabalhadores se juntam em massa é que os problemas se resolvem. “[Grupos] de trabalhadores organizados na empresa obrigaram os executivos a largar o Project Maven [que era] o programa de inteligência artificial [da Google] com o Pentágono, e o plano para lançar um motor de busca censurado na China”, lê-se no artigo do The New York Times. O texto é assinado por Parul Koul e Chewy Shawl, que são responsáveis pelo sindicato. “Estamos fartos.”
Por ora, 227 trabalhadores da Google já se associaram formalmente ao sindicato. O grupo começou a ser criado em Maio de 2019, com pequenas reuniões para medir o apoio e interesse dos trabalhadores.
“O lema [da Google] costumava ser ‘Não sejam malévolos’”, lembra a equipa no artigo de opinião. “Vamos viver de acordo com esse lema.”