Porque é que os machos têm de esperar para conseguir fazer sexo outra vez?

Num artigo científico publicado esta segunda-feira refuta-se a hipótese que assumia uma certa hormona como indutora do período refractário pós-ejaculatório masculino. Experiências foram feitas em ratinhos.

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Claudia van Zyl/Unsplash

Afinal, porque é que os machos têm de esperar para conseguir fazer sexo outra vez? Um novo estudo em ratinhos demonstra que a hormona prolactina pode não ser a grande responsável, ao contrário da hipótese dominante que a assumia como a indutora do período refractário pós-ejaculatório masculino – que tem início quando o homem ejacula e termina quando este recupera novamente a sua capacidade sexual. Os resultados do estudo realizado por cientistas do Centro Champalimaud, em Lisboa, foram publicados esta segunda-feira na revista científica Communications Biology.

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Afinal, porque é que os machos têm de esperar para conseguir fazer sexo outra vez? Um novo estudo em ratinhos demonstra que a hormona prolactina pode não ser a grande responsável, ao contrário da hipótese dominante que a assumia como a indutora do período refractário pós-ejaculatório masculino – que tem início quando o homem ejacula e termina quando este recupera novamente a sua capacidade sexual. Os resultados do estudo realizado por cientistas do Centro Champalimaud, em Lisboa, foram publicados esta segunda-feira na revista científica Communications Biology.

“Em muitas espécies, a ejaculação é seguida por um estado de diminuição da actividade sexual, o período refractário pós-ejaculatório”, refere-se no resumo do artigo científico. Vejamos o que se sabia sobre a ligação entre o período refractário e a prolactina, que está associada à produção de leite nas mulheres. De acordo com um comunicado do Centro Champalimaud, havia diferentes pistas sobre essa ligação. Primeiro, alguns estudos referiam que a prolactina é libertada na altura da ejaculação nos homens e nos ratinhos. “Como o período refractário começa logo após a ejaculação, a prolactina apresentava-se como uma boa candidata a ser responsável por ele”, indica-se.

Depois, níveis muito altos da hormona no organismo, que se designa “hiperprolactinemia”, estão ligados à diminuição da resposta sexual ou à disfunção ejaculatória. Por fim, em situações de hiperprolactinemia, o tratamento com medicamentos que inibem a libertação da hormona reverte a disfunção sexual. Tudo isto indicava o papel crucial da hormona na supressão do comportamento sexual masculino. “No entanto, esta ligação directa entre a prolactina e o período refractário pós-ejaculatório masculino nunca havia sido demonstrada”, esclarece Susana Lima, investigadora do Centro Champalimaud e coordenadora do estudo.

A equipa estudou então o papel dessa hormona no período refractário masculino em ratinhos. Inicialmente, o objectivo desta investigação até era estudar os mecanismos biológicos através dos quais a prolactina causaria o período de refracção.

Nas experiências com ratinhos – um modelo animal com uma sequência do comportamento sexual semelhante à do homem – procurou-se esclarecer se os níveis de prolactina aumentavam durante a actividade sexual. Nestas experiências usaram-se ratinhos com desempenhos sexuais distintos, uns com um período refractário curto e outros com um período que dura vários dias. Em amostras de sangue, verificou-se que os níveis “aumentavam significativamente durante a interacção sexual”, refere-se no comunicado.

Analisou-se então a relação entre a hormona e a duração do período refractário nos ratinhos. Aqui, a equipa aumentou os níveis de prolactina antes de os roedores ficarem sexualmente excitados, certificando-se de que esses níveis artificiais correspondiam ao do comportamento sexual natural. “Se a prolactina fosse mesmo responsável pelo período refractário, a actividade sexual dos animais deveria diminuir”, diz no comunicado Susana Valente, primeira autora do artigo científico e também do Centro Champalimaud. Mas, surpreendentemente, essa manipulação não teve efeito no comportamento sexual dos ratinhos.

Por fim, a equipa procurou saber se os ratinhos sem a prolactina ficariam sexualmente mais activos. Ao inibirem a libertação da hormona, verificaram que isso não acontecia. “Se a prolactina fosse mesmo necessária para o período refractário, então os machos sem prolactina, após a ejaculação, deveriam recuperar mais rapidamente a capacidade sexual face ao grupo de controlo”, esclarece Susana Valente.

Portanto, apesar de a equipa salientar que a prolactina tem um papel no comportamento sexual masculino, neste artigo científico refuta-se a hipótese que assume esta hormona como indutora do período refractário. Este estudo também teve a participação de Tiago Marques, investigador do Departamento do Cérebro e Ciências Cognitivas do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, nos Estados Unidos. “Mostramos provas convincentes que refutam a ideia de que a prolactina libertada durante a cópula está envolvida na indução do período refractário, uma hipótese de longa duração no campo da endocrinologia comportamental”, concluiu-se no artigo.

Quanto ao papel da prolactina no comportamento sexual masculino, Susana Lima indica no comunicado de imprensa que as possibilidades são muitas. Além de salientar que há estudos que realçam um papel desta hormona no desenvolvimento do comportamento parental, a cientista destaca que a dinâmica da prolactina é diferente nos ratinhos e nos homens. Enquanto nos ratinhos os níveis da hormona aumentam durante o acasalamento, nos homens parece que a prolactina é libertada só durante a ejaculação. “Portanto, podem existir algumas diferenças no papel que desempenha nas diferentes espécies.”

Mas, o que estará mesmo por detrás da indução do período refractário? Com este estudo, há um mistério por desvendar...