Alemanha: mortes por covid-19 quase triplicaram em Dezembro. Especialistas esperam um primeiro semestre “complicado”
Em Dezembro foram registados mais de metade dos óbitos de toda a pandemia, cenário que foi acompanhado pela subida de casos. O Governo já indicou que os número actuais não permitem aligeirar as restrições drásticas, que devem ser renovadas a 10 de Janeiro.
Dezembro foi o mês mais mortal da pandemia na Alemanha, uma realidade que foi acompanhada pela subida de casos e de internamentos, mas também por restrições apertadas, principalmente para a época natalícia. Além de o número de mortes quase ter triplicado em relação a Novembro, no mês passado foram registados mais de metade dos óbitos de toda a pandemia no país.
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Dezembro foi o mês mais mortal da pandemia na Alemanha, uma realidade que foi acompanhada pela subida de casos e de internamentos, mas também por restrições apertadas, principalmente para a época natalícia. Além de o número de mortes quase ter triplicado em relação a Novembro, no mês passado foram registados mais de metade dos óbitos de toda a pandemia no país.
Foram contabilizados cerca de 16.718 mortes entre o início de Dezembro e o início de Janeiro, de acordo com a emissora Deutsche Welle (DW), que cita dados do Instituto Robert Koch (RKI). Em Novembro, morreram 6155 doentes com covid-19 e em toda a pandemia foram cerca de 34 mil. Os 1129 óbitos que foram registados na passada quarta-feira — o dia com mais mortes de toda a pandemia — ultrapassam os valores registados em todo o mês de Setembro e Outubro.
O número de casos confirmados acompanha uma trajectória semelhante. Só em Dezembro foram registados mais de 675 mil novos casos e o número de diário de infecções foi muito além dos avisos da chanceler Angela Merkel, que disse, em Setembro, que o país poderia chegar aos 19 mil casos diários pela altura do Natal. Na véspera, a Alemanha acabou por registar mais de 32 mil casos, números que começaram a descer desde então, mas que continuam elevados. O dia com mais casos (33.777) também foi contabilizado em meados de Dezembro.
Existem, até este domingo, cerca de 349.500 infecções activas e cerca de 10.315 foram registadas nas últimas 24 horas, uma descida ligeira em relação aos 12 mil casos de sábado. No total, a Alemanha já confirmou 1.765.666 casos de infecções (1.381.900 destes já recuperaram).
Embora os casos tenham começado a diminuir em algumas partes do país, há estados como a Saxónia e partes da Baviera (que foram particularmente afectadas nos últimos meses) onde isso não aconteceu. O Governo federal já indicou que pretende prolongar as restrições drásticas em vigor além da data inicialmente prevista, 10 de Janeiro. A chanceler Angela Merkel e os líderes regionais, responsáveis pela implementação das medidas, deverão reunir-se a 5 de Janeiro para avaliar a situação.
O ministro da Saúde já tinha afirmado, na semana passada, que não estava previsto um relaxamento das medidas nem do confinamento. “Estes números provam o quão brutalmente o vírus ainda nos está a atacar”, disse Jens Spahn, acrescentando que qualquer regresso à normalidade ainda está longe de acontecer.
Efeitos do Natal só serão conhecidos daqui a dias
O número de casos por cada cem mil habitantes nos últimos sete dias ainda está em 140, um valor bastante acima da meta de 50 que o Governo estabeleceu como segura para aliviar as restrições. Com a nova variante mais transmissível do coronavírus a circular, alguns políticos e de líderes da saúde estão a pedir que as restrições sejam aligeiradas apenas quando o número de casos cair para 25 por cada 100 mil habitantes.
“Só veremos na próxima semana, nos hospitais, o papel que o Natal terá tido na disseminação da covid-19. Os efeitos do Ano Novo virão apenas mais tarde”, disse Uwe Janssens, responsável de uma associação que representa os médicos que trabalham nos cuidados intensivos, ao jornal regional Rheinische Post.
O virologista chefe do prestigiado hospital Charité, em Berlim, disse este domingo em entrevista ao jornal Berliner Morgenpost que os primeiros seis meses do ano vão ser “desafiantes”. “Estou a olhar para o novo ano com optimismo, mas acredito que a primeira metade será muito complicada”, disse Christian Drosten, assumindo que a situação pode melhorar na segunda metade do ano, mas só se o país conseguir vacinar muita gente nos primeiros seis meses. De acordo com os últimos dados, avançados pela DW, uma em cada três camas dos cuidados intensivos na capital é ocupada por doentes covid-19 e alguns hospitais já tiveram que adiar cirurgias.
Campanha de vacinação é “a maior da história"
A campanha de vacinação que continua em curso “é a maior da história da Alemanha”, segundo disse o ministro da Saúde, que descreveu o início como um sucesso e lembrou que, nos três primeiros dias, foi injectada a primeira dose da vacina em 60 mil pessoas.
O objectivo do Governo alemão é distribuir cerca de 1,3 milhões de doses até ao final do ano e 14 milhões no primeiro trimestre de Janeiro, tendo como meta a disponibilização da vacina a todos os cidadãos que o desejarem a meio do próximo ano. A vacina “será gratuita e voluntária”, sublinhou.
O ministro disse ainda que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, que já foi aprovada no Reino Unido, deverá receber aprovação para a Europa “em breve”. Spahn defendeu que serão necessárias “muitas vacinas seguras” e que o aumento da produção depende da sua diversificação.
Até agora, lembrou, a vacinação limita-se à vacina da alemã BioNTech e da sua parceira norte-americana Pfizer, mas aguarda-se a aprovação da vacina da Moderna na próxima semana pelo regulador europeu.