Desvalorizar as eleições presidenciais é um erro
O aparente alheamento que se pressente face às eleições presidenciais é um erro que, para lá de empobrecer a vida democrática, nos impede de inventariar e discutir os enormes desafios com os quais o país vai ter de se confrontar no futuro próximo.
Faltam apenas três semanas para a escolha do chefe de Estado, e o país parece passar ao lado de uma eleição que vai ter uma enorme importância no futuro próximo. É assim porque todas as sondagens indicam que o actual Presidente da República vai vencer confortavelmente. Ou porque se pressente que a maior parte dos candidatos se limita a querer manter os respectivos partidos na crista da onda. Ou até porque os portugueses continuam tão concentrados na covid-19 que lhes resta pouco entusiasmo para uma corrida sem surpresas. Apesar de todos estes contextos, o aparente alheamento que se pressente é um erro que, para lá de empobrecer a vida democrática, nos impede de inventariar e discutir os enormes desafios com os quais o país vai ter de se confrontar no futuro próximo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Faltam apenas três semanas para a escolha do chefe de Estado, e o país parece passar ao lado de uma eleição que vai ter uma enorme importância no futuro próximo. É assim porque todas as sondagens indicam que o actual Presidente da República vai vencer confortavelmente. Ou porque se pressente que a maior parte dos candidatos se limita a querer manter os respectivos partidos na crista da onda. Ou até porque os portugueses continuam tão concentrados na covid-19 que lhes resta pouco entusiasmo para uma corrida sem surpresas. Apesar de todos estes contextos, o aparente alheamento que se pressente é um erro que, para lá de empobrecer a vida democrática, nos impede de inventariar e discutir os enormes desafios com os quais o país vai ter de se confrontar no futuro próximo.
Convém ter presente que o contexto político que vivemos é muito mais incerto e difícil do que o do mandato que está a terminar. Em 2016, o país dera já provas de ter vencido as terríveis dificuldades do resgate e do ajustamento e mostrava músculo suficiente para entrar numa fase de estabilização. Hoje, sabemos que pela frente há ainda uma dura crise económica e social. Em 2016 sabia-se já que a natural instabilidade da “geringonça” era gerível, que todas as concessões negociais à esquerda mais pura e dura não desconfiguravam uma governação do centro-esquerda alinhada com a Europa – patente na “neo-obsessão” do défice. Hoje, sabemos pelas negociações do Orçamento que o Governo está desgastado e vai ter muitas mais dificuldades para obter maiorias.
É neste quadro de dificuldades que o Presidente vai ter um papel ainda mais determinante do que no anterior mandato. Até hoje, Marcelo Rebelo de Sousa limitou-se a gerir a sua enorme popularidade e assumir que o país queria que “apertasse” o Governo mas que o “deixasse levar a legislatura até ao fim”, como revelou numa entrevista à RTP. Mas esse programa feito de equilíbrios políticos e institucionais vai confrontar-se com o desespero de muitos e a impaciência de quase todos. Uma abstenção elevada ou um resultado próximo do de 2016 vão condicionar o raio de acção do seu poder moderador.
Também por isso será importante saber que votação terá Marisa Matias e João Ferreira para se medir a força do Bloco e do PCP. Ou o resultado de Ana Gomes para percebermos a dimensão da disputa interna do PS. E, claro, o de André Ventura, que permitirá medir a viabilidade de uma alternativa de direita. Mais do que uma estatística previsível, as presidenciais serão um barómetro. Que convém seguir de perto.