Os abraços imaginários de André Ruivo
O ilustrador não precisou de uma pandemia para valorizar e desenhar abraços. Continua a fazê-lo.
Lançado inicialmente em Dezembro de 2018, em Lisboa, Abraços teve uma apresentação posterior em Junho de 2019, na Festa da Ilustração de Setúbal. Foi nesta última que demos conta deste livro de André Ruivo, que reúne uma série de manifestações de afecto, consolo, mas também de romantismo, conquista e festa.
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Lançado inicialmente em Dezembro de 2018, em Lisboa, Abraços teve uma apresentação posterior em Junho de 2019, na Festa da Ilustração de Setúbal. Foi nesta última que demos conta deste livro de André Ruivo, que reúne uma série de manifestações de afecto, consolo, mas também de romantismo, conquista e festa.
Numa altura em que todos andamos carentes de abraços, este é um livro que pode substituir o enlaçar real de corpos que tanto nos sossega (ou desassossega…). Sem palavras, enternece e diverte, com alguns abraços tortos ou em equilíbrio instável. Quem não deu já abraços desengonçados? Fosse por timidez, atrapalhação ou porque o parceiro (ou o próprio) era desajeitado.
Há ilustrações coloridas, na parte brilhante do papel, e a preto e branco, no verso baço das folhas. Aos casais que se encaixam na perfeição, sucedem-se outros em que se percebe que um elemento ampara o outro.
Conta-nos o autor, via email, como nasceu esta colectânea de abraços, sinónimo de amplexos: “Foi um convite da Filipa Valladares da STET, livraria e editora, que andava a seguir os meus desenhos nas redes sociais. Ela é que disse: ‘Tu andas a fazer abraços!’”
Com a ajuda do atelier Vivóeusébio, que fez o design, reuniram “estes desenhos em livro”. Que bom para nós.
André Ruivo acrescenta: “Eu geralmente faço séries de desenhos aos quais dou um nome e procuro depois uma editora. Esta edição tem a particularidade de ter sido a editora a convidar-me a mim.” Teve ainda o patrocínio da Delta Cafés.
Querer abraçar uma pessoa em concreto
O também realizador e autor de banda desenhada dá-nos mais contexto: “Esta série surgiu numa altura que eu andava mesmo a querer dar abraços a uma pessoa em específico, e desenhava esses encontros imaginários. Um pouco como agora em tempo de pandemia também tenho essa vontade de dar abraços e não os posso dar. Os desenhos são uma forma de imaginar os abraços.”
Um livro que não se pode circunscrever ao universo infantil, antes se deve abrir e ampliar à família. Qualquer que seja a sua natureza e composição.
O autor nasceu em 1977, em Lisboa, e é licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Colaborou como ilustrador com o PÚBLICO, O Independente, Combate, Visão, Ler e Op. Fez mestrado em Cinema de Animação pelo Royal College of Art em Londres, Inglaterra (bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian), e realizou vários filmes, como A Fantasista (2003), Art (2005), O Dilúvio (2011), O Campo à Beira-Mar (2014) e O Circo (2017). Como músico, é mais conhecido pela banda Rollana Beat e editou dois discos a solo.
André Ruivo, para lá de qualquer pandemia ou percurso profissional, persistirá na representação ternurenta e expressiva de afectos: “Eu continuo a desenhar abraços, é um tema recorrente no meu trabalho.” Que bom para nós. (Outra vez.)
Não sabemos se André Ruivo chegou a concretizar o abraço com “a pessoa em específico”, mas imaginou-o muito bem. Ajudou-nos assim a fazer o mesmo.
No início de um novo ano, que se anseia seja vivido mais tempo de rosto descoberto, aqui deixamos também aos leitores do PÚBLICO um abraço grande, muito grande, onde caibam todos.
Blogue Letra Pequena