Navigator investe na produção de plantas de eucalipto em cilindros biodegradáveis

O investimento de 100 mil euros da Navigator nos viveiros de Espirra, em Pegões, marca o arranque de uma nova etapa da papeleira rumo à produção sustentável de eucalipto globulus. Os habituais tubetes de plástico dão agora lugar a cilindros de substrato envolvidos em papel, biodegradáveis.

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O viveiro de Espirra, o maior dos três pólos de produção de espécies florestais de reprodução detidos pela The Navigator Company, fica em Pegões, município do Montijo.

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O viveiro de Espirra, o maior dos três pólos de produção de espécies florestais de reprodução detidos pela The Navigator Company, fica em Pegões, município do Montijo.

Ali são produzidas anualmente 13 milhões de plantas. Dessas, 8,6 milhões são de eucalipto globulus clonal e 3,7 milhões de eucalipto seminal melhorado a partir de semente testada. Mas também há outras espécies florestais (carrasco, alfarrobeira e nogueira) e mais de 100 espécies arbustivas/aromáticas.

Dezembro de 2020 marca o arranque de uma nova etapa da companhia rumo à produção sustentável de eucalipto globulus. Em vez de tubetes de plástico, a papeleira, que tem como CEO António Redondo, investiu 100 mil euros na instalação de um novo equipamento que permite o enchimento de cilindros de substrato envolvidos em papel, biodegradáveis.

É no interior desses cilindros que, desde há cerca de um mês, têm vindo a ser introduzidas as pequenas estacas de eucalipto globulus, obtidas a partir do parque de 171 mil pés-mãe com 3,7 hectares de área naquele viveiro. É lá que vão crescer ao ponto de serem transplantadas para a floresta. Com os rebentos recolhidos nesse parque de pés-mãe entre os meses de Maio e Agosto, é possível produzir na bio-fábrica cerca de 140 mil estacas por dia. A empresa é o maior produtor mundial daquela espécie de árvore de folha perene e de crescimento rápido, que pode atingir até 55 metros.

A inovação trazida pelo novo equipamento é que o invólucro, em papel, que dali sai passa a acompanhar a planta do viveiro para o terreno, é plantado com ela, degradando-se no solo ao fim de algum tempo.

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Reduzir o uso de plástico no processo produtivo

“A ideia é avaliar este sistema de substituição do plástico pelo papel e que permite produzir planta mais rapidamente”, revela ao PÚBLICO Miguel Ferrinho, responsável pelo Departamento de Viveiros da The Navigator Company.

Estamos em presença de um mecanismo que “permite reduzir a utilização de plástico no processo produtivo e demonstrar a versatilidade do papel como alternativa natural a algumas das utilizações desse material”. Isto, embora a transição total para os cilindros em papel não seja para já. “Ainda estamos a avaliar” o comportamento das plantas a partir das primeiras experiências, diz Ferrinho.

Seja, porém, em cilindros de substrato (importado da Finlândia) envolvidos em papel, seja em tubetes de plástico, daquele viveiro de 20 hectares no concelho de Palmela, entre Pegões e Águas de Moura e a cerca de 70 quilómetros de Lisboa, o maior da companhia, saem, diariamente, “um ou dois camiões”.

Cada um transporta cerca de 60 mil plantas Eucalyptus globulus para o terreno, seja para consumo próprio nas áreas florestais sob a sua gestão (mais de 109 mil hectares, 50 mil dos quais em regime de arrendamento), seja para o mercado, para particulares ou para organizações de produtores, fornecedores de madeira e prestadores de serviços.

Além disso, a The Navigator Company tem estabelecido parcerias com outros viveiros, disponibilizando sementes e plantas melhoradas de eucalipto, de forma a “potenciar a capacidade de produção de planta melhorada para ser utilizada pelos proprietários florestais”.

“Grande salto na produção em escala de estacas”

Carmen Correia, responsável de produção de plantas não florestais da The Navigator Company, referiu ao PÚBLICO que, em 1993, a empresa “deu um grande salto na produção em escala de estacas” e que, em 1998, evoluiu para a “planta clonal, que é, sem dúvida, a melhor resposta para obtermos mais qualidade e rentabilidade por hectare”. Em média, uma floresta que utilize planta melhorada produz “entre 20 e 30% mais volume de madeira, mais densa e de melhor rendimento industrial”.

E o desempenho é verificado em fábrica. A The Navigator Company assegura que “a fibra do eucalipto português (globulus) é reconhecida por potenciar mais ciclos de reciclagem do que as suas concorrentes”. É, portanto, “mais sustentável”, dizem. A empresa refere “estudos laboratoriais recentes” que “demonstraram que, após cinco reciclagens, a fibra de Eucalyptus globulus produzida em Portugal pela The Navigator Company consegue manter-se com maior volume específico do que a fibra virgem de bétula, que compara com o valor médio de 3,5 vezes”.

O Eucalyptus globulus produzido no viveiro de Espirra é uma das espécies arbóreas sujeita a certificação obrigatória, nos termos do Decreto-Lei 13/2019, de 21 de Janeiro, que alterou o Decreto-Lei 205/2003, de 12 de Setembro, e que determina as normas gerais aplicáveis à produção e comercialização de materiais florestais de reprodução utilizados para fins florestais.

A The Navigator Company orgulha-se de qualificar essa espécie como “de grande qualidadejá que possui “categoria máxima de certificação – testada”, refere Carmen Correia. E apresenta “excelentes crescimentos, um bom desempenho em campo e boa rectidão de tronco”, o que também resulta de um programa de melhoramento genético com mais de três décadas que tem sido conduzido pelo RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel.

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100% de elementos com a mesma identidade específica

Note-se que, em território nacional, só é permitida a comercialização de materiais florestais de reprodução (MFR) das espécies listadas do citado Decreto-Lei 13/2019. E a selecção de povoamentos a serem inscritos como seleccionados obedece a critérios apertados quanto à composição, pureza, localização, produtividade, morfologia, sanidade, idade e efectivo da população.

No que à pureza diz respeito, “o povoamento deverá conter 100% de elementos com a mesma identidade específica” e, quanto à sanidade, “os povoamentos deverão apresentar bom estado sanitário, não apresentando vestígios de pragas e doenças”, dispõe aquele diploma.

Ana Gaspar, técnica de qualidade nos viveiros da Espirra, cruza-se com o PÚBLICO no exterior da bio-fábrica, onde se preparam as plantas clonais para expedição. Verifica minuciosamente a aptidão de um contentor de plantas com “alguns meses” de vida que está pronto a sair para um cliente.

Pestalotiopsis apodrece o colo da planta

“Estou a verificar as especificações das plantas, [a ver] se têm as raízes desenvolvidas, se têm vários pares de folhas ou se estamos em presença de alguma doença ou problema fitossanitário”, diz ao PÚBLICO. Por exemplo, o pestalotiopsis, uma espécie de fungo endófito capaz de quebrar e digerir materiais plásticos à base de poliuretano e que é obrigatório despistar. É que, “quando está presente, apodrece o colo da planta junto ao substrato” e compromete a sua viabilidade, explica Ana Gaspar.

Cada tabuleiro instalado no contentor alberga 54 plantas e cada contentor carrega cerca de 5200. Neste aturado processo de controlo de qualidade, “cada planta é vista uma a uma, para garantir que tudo o que é plantado resulta em sucesso”, comenta Carmen Correia, que nos guia na visita aos viveiros.

A infra-estrutura, adquirida pela companhia em 1987, dedica-se, sobretudo, à produção do melhor eucalipto globulus clonal, e é um dos centros de produção e comercialização de materiais florestais de reprodução que constituem os Viveiros Aliança, detidos a 100% pelo grupo Navigator.

O viveiro da Caniceira, no Tramagal, esse, é especializado na produção de eucalipto seminal melhorado, azinheira, sobreiro, pinheiro manso e pinheiro bravo.

Por sua vez, o viveiro das Ferreiras, em Penamacor, é de onde saem oliveiras e outras espécies autóctones, como o medronheiro e o carvalho, assim como plantas ornamentais.

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250 mil euros em estufa de mini-estacaria

Carmen Correia tem um bacharelato em Produção Florestal e licenciatura em Engenharia de Multiplicação de Plantas, pela Escola Superior Agrária de Santarém. Trabalha na companhia há 30 anos e fala e toca em cada planta com tamanha delicadeza e entusiasmo, como se de um filho recém-nascido se tratasse.

Um dos investimentos “mais recentes” da The Navigator Company nos viveiros de Espirra é a estufa de mini-estacaria. Esta instalação, com 51 mil pés-mãe reunidos em 1500 metros quadrados, permite “produzir em menos espaço clones de eucalipto que têm mais dificuldade em enraizar no exterior”.

A responsável de produção de plantas não florestais da empresa explica essa aposta: “Vimos que a planta clonal iria trazer ganhos e houve uma decisão, em 1993, de produção em grande escala”. Estamos, na verdade, perante “milhares e milhares de fotocópias geneticamente iguais”, diz ao PÚBLICO. E produzidas “em contraciclo”, ou seja, “mesmo durante o inverno, de Setembro até Fevereiro/Março de cada ano”, complementa o responsável pelo Departamento de Viveiros da companhia.

No viveiro de Espirra há quatro casas de sombra, cada uma com capacidade para 2,4 milhões de plantas. Estes espaços, que ocupam uma área de 48 000 metros quadrados, albergam as estacas, até um período de dois meses, para que possam fazer o seu enraizamento e o desenvolvimento da parte aérea. Seguem depois para, pelo menos, mais um mês de processo de atempamento, ou seja, para adaptação às condições climatéricas do exterior.

A maior produção de plantas melhoradas do país

De 2018 para cá, revela Miguel Ferrinho, a The Navigator Company investiu naqueles viveiros em Pegões “cerca de 1,2 milhões de euros”, dos quais “250 mil euros na estufa de mini-estacaria”, no interior da qual é impossível não sentir o intenso aroma a eucalipto e bafo da temperatura ambiente “sempre acima dos 15 graus”.

Com este investimento, foi possível “aumentar a área de estufa em micro-estacaria e passar de uma produção de seis milhões para 8,6 milhões de plantas por ano”, refere o mesmo responsável. A mini-estacaria, diz, é “muito utilizada em vários países, por exemplo na África do Sul. Temos esperança de que vai melhorar o nosso processo produtivo e complementar a nossa oferta”.

Nos três viveiros que a companhia detém, a The Navigator Company despende “cerca de dois milhões de euros” de orçamento anual para a produção de plantas. Ao todo, empregam 72 pessoas (60 em Espirra, oito na Caniceira e quatro em Ferreiras).

Os três pólos que integram os Viveiros Aliança são responsáveis pela maior produção de plantas melhoradas do país. Mais de metade da produção de eucalipto pronta a plantar destina-se a compradores externos ao grupo Navigator. Os viveiros estão, assim, abertos ao público em geral, e também contam com uma loja online para vender plantas.

A The Navigator Company registou um volume de negócios de 1044 milhões de euros até ao fim do terceiro trimestre deste ano, revelando um resultado líquido de 75,2 milhões de euros, ou seja, menos 49% face aos 147,5 milhões registados no período homólogo de 2019. Registou, contudo, uma recuperação de 20% da actividade do segundo para o terceiro trimestre, para 348 milhões de euros.

No final de 2019, a empresa reportou um “volume de negócios estável de 1688 milhões de euros”, tendo registado um resultado líquido de 168,3 milhões de euros (225,1 milhões em 2018), o representa uma queda de 25,2% face a 2018, justificada pela “forte queda dos preços de pasta e redução da procura de pasta e de papel”.