O que é feito da camisola interior?

O seu uso tornou-se “parolo”, adjectiva Manuel Serrão, da Associação Selectiva Moda. “Saloio, brega, redneck”, acrescenta Paulo Morais Alexandre, historiador de moda.

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Em Outubro, vimos Marcelo Rebelo de Sousa tomar a vacina da gripe em tronco nu. No domingo passado, foi a vez de António Sarmento, director do Serviço de Infecciologia do Hospital de São João, no Porto, despir parcialmente a camisa para ser o primeiro a receber a vacina contra a covid-19 em Portugal. No Hospital Curry Cabral, coube a Fernando Nolasco, medico internista e nefrologista, ser o primeiro vacinado em Lisboa, igualmente sem nada por debaixo da camisa. Onde estão as camisolas interiores tão habituais nesta altura do ano? Passaram de moda, responde quem sabe.

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Em Outubro, vimos Marcelo Rebelo de Sousa tomar a vacina da gripe em tronco nu. No domingo passado, foi a vez de António Sarmento, director do Serviço de Infecciologia do Hospital de São João, no Porto, despir parcialmente a camisa para ser o primeiro a receber a vacina contra a covid-19 em Portugal. No Hospital Curry Cabral, coube a Fernando Nolasco, medico internista e nefrologista, ser o primeiro vacinado em Lisboa, igualmente sem nada por debaixo da camisa. Onde estão as camisolas interiores tão habituais nesta altura do ano? Passaram de moda, responde quem sabe.

O seu uso tornou-se “parolo”, adjectiva Manuel Serrão, empresário e responsável da Associação Selectiva Moda, que reúne a Associação Têxtil de Vestuário de Portugal (ATVP) e a Associação Nacional da Indústria de Lanifícios (ANIL). “Saloio, brega, redneck”, enumera Paulo Morais Alexandre, professor e historiador de moda. O que aconteceu? Os leitores que cresceram nos anos 1960 lembram-se certamente da camisola interior de manga comprida e com botões. Lembram-se ainda de outra peça de roupa interior que terá sido usada até aos inícios dos anos 1980, as ceroulas. “É antiquado”, resume o professor da Escola Superior de Teatro e Cinema da Universidade de Lisboa. 

Paulo Morais Alexandre lembra as personagens interpretadas por James Dean e Marlon Brando. O primeiro com uma T-shirt imaculadamente branca, o segundo também ficou celebrizado pelas T-shirts, assim como pela camisola interior de alças. Os modelos são adoptados pelos jovens: a T-shirt passa a substituir a camisola interior; ao passo que a camisola interior de alças é assumida por determinadas tribos urbanas e usada como peça exterior. 

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Novas tecnologias

Contudo, no Inverno, apesar de as nossas casas, escritórios e escolas, assim como os transportes em que nos deslocamos, poderem estar mais aquecidos, a roupa continua a ser usada por camadas, diz Paulo Morais Alexandre, fazendo referência aos grandes retalhistas, como a Primark, onde os mais jovens compram estas peças. “A T-shirt usa toda a gente, talvez mais os miúdos e, por isso, se eu usar T-shirt sou mais modernaço”, diz. 

Manuel Serrão corrobora: “Há uns anos, por debaixo da camisa e do pullover viam-se umas T-shirts brancas. A T-shirt passou a substituir a camisola interior.” O empresário diz que o consumo deste tipo de roupa diminuiu, levando a que algumas das fábricas acabassem por fechar. O exemplo mais flagrante é o do Grupo Tebe, aponta. Trata-se da fábrica de Barcelos que produzia as famosas Thermotebe, as camisolas interiores que a geração que cresceu na década de 1980 usava. Aquela que ficou popularizada porque tinha “características turboeléctricas” que conservavam o calor corporal, e cujos anúncios arrancavam com a frase: “Frio? Eu não tenho frio...”

Contudo, se a camisola interior foi substituída por uma camisola de manga curta, também “foi recuperada de outras formas porque é uma peça confortável”, refere Morais Alexandre, dando como exemplo as peças técnicas usadas por quem faz esqui. “No fundo, é uma camisola interior, mas como tem determinadas características técnicas e tem um carimbo tecnológico, já está na moda”, declara.

Também Manuel Serrão faz referência às novas tecnologias, hoje há camisolas que se fazem com malhas anti-stress, outras que mudam de cor conforme o calor do corpo (particularmente usadas por crianças para detectar se têm febre), além de tecidos antialérgicos, exemplifica. “Qualquer dia, fazem-se com tecnologia anticovid”, antecipa, fazendo referência aos tecidos que retêm partículas. Ou seja, conclui: “A camisola interior está a voltar, mas com propriedades que a tornam possível de ser usada sem se ser parolo.”