Onde está a vacina para a saúde mental?
Num contexto de pandemia, com o agravamento de condições pré-existentes e o aumento de pessoas que desenvolveram perturbações, é prioritário contrariar o subfinanciamento crónico da saúde mental e injectar dinheiro na promoção da saúde psicológica.
Chegámos ao fim de 2020 com a realidade tão desejada da vacina para o covid-19. Uma vacina que traduz a importância e o reconhecimento da ciência e que significa, acima de tudo, esperança no futuro.
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Chegámos ao fim de 2020 com a realidade tão desejada da vacina para o covid-19. Uma vacina que traduz a importância e o reconhecimento da ciência e que significa, acima de tudo, esperança no futuro.
Este ano ensinou-nos muitas coisas. Ensinou-nos que somos, afinal, mais vulneráveis, mas também mais resilientes do que pensávamos. Que precisamos muito uns dos outros e que a entre-ajuda e a empatia podem fazer toda a diferença. E que a Ciência Psicológica e os Psicólogos são fundamentais para a promoção de competências e activação de recursos para a resolução de problemas e desafios sociais complexos. A saúde psicológica é, efectivamente, determinante para o nosso bem-estar.
Enfrentámos um ano pautado pelo medo, a incerteza, o luto e o isolamento, que muito contribuíram para agravar problemas pré-existentes ou desencadear outras dificuldades. Ao mesmo tempo, assistimos a um claro aumento do consumo de substâncias (em particular, o álcool) como estratégia para lidar com a ansiedade. Uma estratégia desadaptativa que acarreta consigo outros problemas. De mãos dadas com estas questões, surgem alterações nos padrões alimentares e de sono, perda de emprego e de rendimentos, aumento de violência dentro da família e um pico de divórcios.
Em paralelo, muitos serviços de promoção da saúde psicológica foram interrompidos devido à pandemia. De acordo com um estudo elaborado pela Organização Mundial da Saúde, a pandemia suspendeu os serviços de saúde mental em 93% dos países do mundo, acabando, naturalmente, por fragilizar aqueles que apresentavam vulnerabilidades prévias e que se viram, deste modo, ainda mais desprotegidos, com um agravamento dos seus quadros psicopatológicos.
Neste contexto, com o agravamento de condições pré-existentes e o aumento de pessoas que desenvolveram perturbações, é prioritário contrariar o subfinanciamento crónico da saúde mental e injectar dinheiro na promoção da saúde psicológica.
Apesar de termos neste momento o aconselhamento psicológico mais acessível a todos, através da linha SNS24, isto é apenas uma gota de água num oceano. É urgente investir (a sério e de forma sustentada) na promoção da saúde psicológica, a nível da prevenção e da intervenção. É urgente repensar as políticas públicas de modo a que estas promovam, de modo consistente, o bem-estar das pessoas. Desde os profissionais de saúde, os professores e educadores, os pais e cuidadores, as crianças e os jovens, os adultos e os idosos. Nas escolas, nos cuidados de saúde primários, nos hospitais, no desporto, nas empresas, nos serviços de protecção e apoio à família, na justiça e na comunidade em geral.
Temos a vacina para a covid-19 e esta é uma excelente notícia. Agora perguntamos. Para quando a vacina para a saúde mental?